Design especializado em comércio justo e sociobiodiversidade

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Uma agência de design especializada em negócios orgânicos, comércio justo e sociobiodiversidade. Imaginou? Pois esse é o trabalho da DoDesign-s, que trabalha com parceiros voltados à agricultura orgânica e agroecológica – incluindo comunidades de agricultores familiares e fazendas com compromissos socioambientais – e iniciativas ligadas ao comércio justo.

A agência desenvolve soluções de comunicação, campanhas, embalagem e rotulagem, produtos, brindes institucionais, logomarcas, websites e comunicação digital. Criada em Belo Horizonte, em 2003, por Anna Paula Diniz e Marcelo Terça-Nada, a DoDesign-s vem trabalhando, desde então, para cooperativas de agricultores familiares em todas as regiões do Brasil e organizações internacionais que atuam na América Latina.

coocaram2Sites, marcas, linhas de produtos, embalagens, ilustrações e peças institucionais de cooperativas e associações em diversas regiões do país estão entre os trabalhos elaborados, incluindo  clientes como Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral, em Santa Catarina (Agreco); Cooperativa Agropecuária dos Produtores Orgânicos de Nova Resende e Região (Coopervitae), em Minas Gerais; Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), na Bahia; Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua (Coocaram), em Rondônia; Rede Sabor Natural do Sertão (RSNS), na Bahia; Caatinga Cerrado – Comunidades Eco-Produtivas, espalhadas por diversas regiões na área de abrangência desses dois biomas no Brasil; Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum), entre tantos outros. Não dá mesmo pra contar nos dedos.

“O coração do nosso trabalho é fazer design. A partir desse eixo central é que realizamos todas as outras ações: criar conceitos, construir pontes entre pessoas e iniciativas, abrir mercados, crescer junto com os parceiros, fazer amizades duradouras. O ‘s’ [final do nome da agência, DoDesign-s] vem da nossa paixão pela sustentabilidade social e pelo foco em valorizar a sociobiodiversidade”, define Marcelo.

Ele e Anna se conheceram por intermédio de um amigo em comum. O primeiro projeto dos dois foi para uma fazenda orgânica de café, e a sinergia foi tanta que continuam o trabalho há 13 anos. “No início, só trabalhávamos para negócios orgânicos, mas depois entendemos que a transformação de mundo que gostaríamos de reforçar com a atuação da DoDesign-s estava também na agroecologia, nas cooperativas de agricultura familiar, nas iniciativas ligadas à sociobiodiversidade, na valorização dos biomas, no comércio justo. Buscamos clientes que compartilhem nossa visão de mundo e queiram crescer juntos, por isso valorizamos muito as parcerias de longa duração. Temos clientes com os quais sentimos alegria de trabalhar há mais de dez anos”, diz ele.

sururusokAlém de tudo isso, o trabalho da DoDesign-s é lindo que só. Entre os materiais desenvolvidos, destaco a moeda social Sururu, criada para o Banco Solidário Quilombola do Iguape (Bahia) a ser usada como dinheiro comunitário local no Recôncavo Baiano. As cédulas foram selecionadas para a Bienal Brasileira de Design 2015.

Outro trabalho muito bonito é a marca criada para a linha de produtos da Coocaram, cooperativa de agricultores familiares da Amazônia Ocidental que produz café, guaraná e castanha do Brasil. A DoDesign-s criou ainda as embalagens, o site, ilustrações e peças institucionais para a cooperativa.

Do semiárido brasileiro há projetos significativos relacionados à sociobiodiversidade. Aqui, a agência tem trabalhos com a COSPE (organização italiana que atua em 30 países do mundo com aproximadamente 150 projetos ligados ao desenvolvimento equitativo e sustentável); Slow Food (organização italiana que atua em 150 países realizando ações para preservação da biodiversidade e promoção do consumo consciente); Caatinga Cerrado (articulação de redes e empreendimentos da agricultura familiar para a promoção e comercialização de produtos da sociobiodiversidade desses dois biomas); Recaatingamento (projeto que executa um conjunto de medidas para readensar espécies de árvores nativas e promover o bem estar da Caatinga e sua população); Cerratinga (projeto de divulgação dos frutos e comunidades tradicionais dos biomas Cerrado e Caaringa), dentre vários outros.

Cada trabalho é mais bonito que o outro. Tanto que a DoDesign-s vem ganhando prêmios por toda essa trajetória: o Slow Pack 2014 (Salone del Gusto, Turim, Itália), na categoria Comunicação da qualidade do produto, com a embalagem/design da cerveja artesanal Saison Murici, da ExperimentoBeer; e também o prêmio Prata da Associação Brasileira de Embalagem (APEX/ABRE) na categoria Competitividade Internacional – Alimentos e Bebidas, com a linha de embalagens criada para a Cambraia Cafés.

Força de mudança pela imagem e pela comunicação

caatinga-cerrado-folder1“Trabalhamos com o conceito de taylor-made design, cuidando de todos os detalhes, provas e acertos como um alfaiate que ama fazer com qualidade. Nosso processo de criação começa com boas conversas e, aí então, partimos para os rascunhos, a maior parte em grafite e papel. O cliente participa de tudo e vamos juntos definindo o melhor caminho. No trabalho com as comunidades são realizadas visitas e conversas sobre o que é identidade a partir das realidades locais”, conta Anna Paula Diniz.

Um exemplo recente bem interessante citado por ela é o trabalho de criação da identidade visual e marca para o mel de abelhas nativas dos povos Tupinikim e Guarani do litoral do Espírito Santo: “Percorremos todas as aldeias envolvidas, promovemos conversas e registros fotográficos durante quatro dias. O processo culminou numa grande reunião com produtores de mel das duas etnias, uma palestra inicial sobre o que é design e um levantamento de nomes possíveis. De dez nomes, peneiramos as três melhores possibilidades. Depois da consulta com 16 caciques foi escolhido o nome Tupyguá. Todos os envolvidos se sentiram representados na tradução gráfica das suas identidades. O mel da marca será lançado no circuito de gastronomia em São Paulo, este mês”.

Desde a fundação, várias pessoas se somaram à equipe da DoDesign-s, atuando em uma rede que conecta Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Pernambuco e Berlim. Anna diz que a agência acredita na força de mudança provocada pela imagem e pelas ferramentas de comunicação: “Trabalhamos para reforçar os projetos nos quais acreditamos. Temos um escopo de clientes bem definido. Queremos nos conectar a pessoas apaixonadas pelo que fazem, que buscam qualidade e o bem comum. Os clientes são escolhidos de acordo com quatro linhas de ação, sempre ligadas ao alimento, com base nos quatro elementos”. São elas:

Fogo (mercado): Composta por exportadores de café e frutas, que produzem com alta qualidade;
– Ar (fundações):  Com quase 100% de clientes europeus, como a Fundação Slow Food para Biodiversidade (Itália), FLO FairTrade (Alemanha), Hans Neumann Stiftung (Alemanha), HEKS/EPER (Suíça);
Terra (pequenas empresas e cooperativas): Instituições em crescimento, com conceito inovador e projetos coerentes e
Água (associações e cooperativas muito pequenas): Trabalho praticamente voluntário, organizando conceitos, a comunicação e o design para adensar, aproximar financiadores e fortalecer a autoestima das pessoas que protegem biomas e fazeres tradicionais.

“Essas quatro linhas de ação se equilibram, gerando a sustentabilidade do escritório. O fluxo de informações entre elas tem impacto direto na criação e traz uma visão holística para cada trabalho”, completa.

A esses quatro elementos eu acrescentaria um quinto, que marca todo o trabalho da DoDesign-s: coração.

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Fotos: Divulgação/DoDesign-s

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.