Criaturas dos abismos mais profundos dos oceanos têm plástico no estômago

Criaturas dos abismos mais profundos dos oceanos têm plástico no estômago

Nem um lugar mais do mundo está protegido dos impactos da ação humana. Nem as áreas mais remotas e distantes do planeta. Localizadas no Oceano Pacífico, por exemplo, a leste das Ilhas Marianas, as Fossas Marianas ficam entre placas tectônicas e têm uma profundidade de quase 11 mil metros.

Pois cientistas da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, examinaram 90 criaturas marinhas retiradas das Fossas Marianas e de outros cinco abismos ao longo do Oceano Pacífico: Japão, Izu-Bonin, Peru-Chile, Novas Hébridas e Kermadec.

A análise revelou que 100% dos organismos vivos coletados nas Fossas Marianas tinham fibras artificiais e plástico em seus estômagos.

O levantamento faz parte do projeto Sky Ocean Rescue, uma iniciativa que tem como objetivo alertar sobre a poluição dos resíduos plásticos nos oceanos.

Em fevereiro, a equipe de pesquisadores da Universidade de Newcastle já tinha divulgado outro estudo, que revelava que índices inacreditáveis de poluição tinham sido encontrados nas Fossas Marianas, conforme noticiamos aqui.

Na época, o que mais chocou os pesquisadores foi o altíssimo nível de contaminação química encontrado nos crustáceos do local. Testes feitos com anfípodes, um tipo de camarão minúsculo, demonstraram que eles apresentavam contaminação de poluentes orgânicos persistentes (POPs, na sigla em inglês) 50 vezes superior a de caranguejos que habitam um dos rios mais poluídos da China.

Esta espécie da poluente não se dispersa no meio ambiente, resistindo à degradação química, fotolítica e biológica. É altamente tóxica para organismos vivos, incluindo o homem.

Nesta nova pesquisa, foram detectados fragmentos de fibras de celulose semi-sintéticas, como rayon, lyocell e ramie. Todos eles são microfibras utilizadas na fabricação de produtos têxteis, como nylon e polietileno, entre outros.

“Este é o registro mais profundo possível da ocorrência e ingestão de micropartículas plásticas, indicando que é altamente provável que não haja mais nenhum ecossistema marinho que não esteja impactado por detritos antropogênicos (produzidos pelo homem)”, afirma Alan Jamieson, pesquisador chefe do estudo.

Estima-se que haja 300 milhões de toneladas de plástico nos oceanos. São aproximadamente 5 trilhões de pequenas partículas plásticas boiando pela água. Apesar de muitas poderem ser vistas na superfície, após a lenta degradação e fragmentação destes resíduos, eles vão parar no fundo do mar, o que torna ainda mais difícil sua dispersão.

“Os organismos das águas profundas dependem de alimentos que caem da superfície”, explica Jamieson. “A pesquisa nos mostra que microfibras artificiais estão se acumulando em um ecossistema habitado por espécies que mal conhecemos”.

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Foto: divulgação Newcastle University

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.