Criança e tecnologia: quando é hora de desligar?

criança jogando videogame

O Brasil é um dos países onde as crianças permanecem mais tempo conectadas à internet. Segundo aponta uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa Estatística (IBOPE) de 2012, meninos e meninas permanecem em média 17 horas conectadas ao longo de um mês. Uma média significativamente maior que na França, por exemplo, onde as crianças ficam conectadas por 10 horas ao mês, em média.

Outra pesquisa também do IBOPE, revela que as crianças brasileiras permanecem em média 5 horas diárias em frente à televisão.

As consequências destas conexões por longos períodos estão aparecendo em diferentes contextos. Nas brincadeiras, na saúde física e mental, no consumo, na ocupação dos espaços públicos. Desconectar totalmente das telas é uma missão quase impossível nos dias de hoje. E o caminho não precisa ser este. A tecnologia é uma grande conquista da humanidade e trouxe inúmeros benefícios. Aqui, neste blog, já falamos sobre o lado bom do ambiente virtual (leia mais no post O lado bom do ambiente virtual).

A questão maior é refletir sobre o limite do uso das tecnologias. Como reconhecemos este limiar? Precisamos reconhecer a nossa relação com a tecnologia e saber que ela está a nosso serviço e não o oposto.

As crianças imitam os adultos e se sentem um tanto atraídas por essas caixas cheias de luz. A passividade gerada por essa paralisação frente às telas tem consequências para o corpo e a mente da criança. Crianças passivas não desenvolvem o corpo, a motricidade, a criatividade como deveriam, além de acarretar em diversos distúrbios como miopia, obesidade, falta de vitamina D.

Ao brincar com os jogos virtuais ou assistir televisão, a criança fica exposta ao que lhe está sendo oferecido ali, e entende que esse é o mundo real em que vive. Nesses momentos, não está exercitando nem o corpo, nem o convívio social, seja com amigos ou com sua família, realidades muito mais verdadeiras do que o que as telas podem sugerir.

O desafio é integrar o acesso às telas ao brincar em geral e ao brincar livre com a natureza, em particular. Os jogos eletrônicos fazem hoje parte do repertório de todos. Todo esse universo virtual em que estamos imersos faz parte de nosso próprio caminho evolutivo. Para que o “feitiço não seja mais forte que o feiticeiro”, será preciso aprender desde pequeno, a boa dosagem entre ambos.

Deixar as crianças sentadas e quietas diante das telas é em muitos casos estimulado pelos próprios adultos, que assim ficam tranquilos com elas, seguras e sem dar trabalho, roubando-lhes assim a espontaneidade e a vitalidade da infância.

Na medida em que as informações forem chegando, cada vez mais pais vão perceber o enorme prejuízo de se tornarem passivos diante das máquinas. Adultos e crianças precisam (re)descobrir juntos as vantagens do convívio, dos jogos e brincadeiras, em que participam de corpo e alma, das atividades físicas e do fascínio que a natureza tem quando se expõem a ela para brincar.

Estar em contato com a natureza favorece o desenvolvimento global das crianças sob aspectos intrinsecamente humanos, ou seja, não podemos deixar de lado nosso alicerce vital quando criamos mundos distanciados do orgânico. Todos precisamos de tudo, do acesso à tecnologia, mas sobretudo, do acesso à natureza, sem o qual, perdemos o mais fundamental referencial de quem somos: seres humanos!

Foto: domínio público/pixabay

3 comentários em “Criança e tecnologia: quando é hora de desligar?

  • 12 de julho de 2016 em 7:54 AM
    Permalink

    Excelente o texto!
    Como mãe, profissional, estudante e mulher me sinto desafiada constantemente a saber o equilíbrio correto entre tantas tarefas diárias e sou sim tentada a deixar minha pequena aos “cuidados da babá eletrônica”. Mas desligar tudo e curtir uma pintura ou brincar com a bebê é a melhor “tarefa” de todas que posso ter =)
    Obrigada pela reflexão e muito sucesso para vocês.
    Continuem nos dando privilégio de saber um pouco mais através dos seus textos.

    Resposta
  • 12 de julho de 2016 em 6:41 PM
    Permalink

    Gostei muito da matéria, pois eu particularmente considero muito difícil essa tarefa de educar filhos “certo, errado, limite”, é muito dificil tudo isso, por isso amo sempre que me fazem pensar se estou fazendo as coisas do jeito certo.

    Resposta

Deixe uma resposta

Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça

Ana Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga, ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto "Ser Criança é Natural" para desenvolver atividades com o público. Neste blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos inesquecíveis.