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Criação de reserva de proteção pode salvar da extinção cágado-do-paraíba

Criação de reserva de proteção pode salvar da extinção cágado-do-paraíba

Restam somente 400 cágados-do-paraíba. A espécie, endêmica do Brasil, ou seja, só existe aqui e em nenhum outro lugar, é uma das mais ameaçadas do planeta. Em 2016, o Mesoclemmys hogei passou de “em perigo de extinção” para “criticamente em perigo”, uma classificação antes de extinto na natureza, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Pertencente ao grupo dos quelônios, répteis dotados de carapaça, o cágado é um animal semiaquático, isto é, vive tanto dentro quanto fora da água. É isso que o difere das tartarugas, que passam todo tempo dentro da água (saindo apenas para desovar), e dos jabutis, terrestres.

No passado, o cágado-do-paraíba podia ser encontrado ao longo do rio Paraíba do Sul, entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, daí a origem de seu nome. Atualmente, devido ao desmatamento na região, os últimos indivíduos da espécie têm sido observados principalmente nas margens do rio Carangola, no município mineiro de Tombos.

Mas a criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) pode reverter a situação preocupante em que a espécie está. O projeto “Ninho da Tartaruga”, da Fundação Biodiversitas, prevê a implantação de uma área de proteção de 80 hectares em Tombos, assegurando assim a conservação do habitat do cágado-do-paraíba e de outros organismos vertebrados, invertebrados, vegetais e microrganismos.

“A área protege um trecho que abriga o maior número de cágados, pois há a suspeita de que a região seja utilizada pela espécie para reprodução. A criação da RPPN em uma área-chave é uma poderosa estratégia de conservação”, afirma Marcos Eduardo Coutinho, responsável técnico do projeto.

Criação de reserva de proteção pode salvar da extinção cágado-do-paraíba

Só restam 400 cágados-do-paraíba

De acordo com Coutinho, não é só a degradação ambiental que coloca em risco a sobrevivência do cágado-do-paraíba. “Outros fatores, como qualidade da água e a pesca, interferem na conservação da espécie. No caso de animais aquáticos, os tipos de uso do solo no entorno da bacia também têm influência direta na qualidade do recurso hídrico e, portanto, em seu habitat. Ou seja, as espécies mais sensíveis e/ou exigentes são afetadas pelo grau de conservação ou degradação da bacia”.

Desde 2011, a equipe da Biodiversitas também realiza um trabalho de educação ambiental com pescadores. “Buscamos o diálogo amigável, além de fazê-los refletir se as práticas, técnicas de pesca e se as relações com o rio são sustentáveis e justas. Assim, conseguimos um acordo com os pescadores, pelo qual eles mesmos identificaram e propuseram áreas de exclusão de pesca a partir de suas experiências na captura de cágado”, diz Coutinho.

O projeto “Ninho da tartaruga: criação e implantação de RPPN para a conservação de Mesoclemmys hogei – um dos 25 quelônios mais ameaçados do planeta” tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

O que é uma RPPN? 

Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) são áreas protegidas administradas por particulares, interessados na conservação ambiental ou em manter áreas naturais que possuem valor histórico-afetivo.

A iniciativa para criação de uma RPPN é um ato voluntário de pessoas físicas ou jurídicas proprietárias de imóveis rurais ou urbanos que demonstram potencial para a conservação da natureza. Uma vez que uma área se torna RPPN, embora o direito de propriedade se mantenha, ele não pode mais voltar atrás, o status de área protegida privada é perpétuo.

“No caso da Reserva Ninho da Tartaruga, a iniciativa da proteção é da Fundação Biodiversitas, que adquiriu a área dada a sua importância-chave para a recuperação do cágado-do-paraíba”, explica Glaucia Drummond, pesquisadora do projeto. “A criação formal da RPPN, ou seja o seu decreto de criação é expedido pelos órgãos estaduais ou federal de meio ambiente. Na instância federal, as RPPNs são criadas pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Já em Minas Gerais, por exemplo, a competência fica por conta do Instituto Estadual de Florestas”.

Ainda segundo Glaucia, atualmente, a criação pelo ICMBio é feita pela inscrição dos documentos de propriedade da terra em um sistema informatizado próprio, que tem como objetivo tornar os processos relacionados à criação, ao manejo e à monitoria das RPPNs mais ágeis e transparentes.

Uma vez inscrita e aprovada a documentação – do proprietário e da propriedade, além de estudos que trazem uma caracterização dos atributos naturais da área, é feita uma vistoria no local para checagem das informações. Tudo pronto, as atividades permitidas em uma RPPN são educação, turismo e pesquisa. “A Reserva Ninho da Tartaruga já possui toda a documentação para ser transformada em RPPN e já estamos providenciando seu envio para o ICMBio. Esperamos em breve comemorar com vocês a notícia da criação oficial da Reserva”, diz a pesquisadora.

Fotos: divulgação Biodiversitas

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