Consumo de comida ultraprocessada é associado ao câncer, alerta estudo internacional

Consumo de comida ultraprocessada é associado ao câncer, alerta estudo internacional  

O câncer ainda é uma das doenças que mais mata no mundo. Só em 2015, foram 8,8 milhões de mortes. Naquele ano, praticamente, uma em cada seis pessoas que perderam a vida foi vítima de algum tipo de câncer, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

Todavia, cerca de 1/3 dessas fatalidades poderia ter sido evitada com mudanças alimentares e no estilo de vida.

E um novo estudo, publicado ontem (14/02), no periódico British Medical Journal (BMJ) associa o consumo de comidas ultraprocessadas com o aparecimento do câncer.

Mas o que são exatamente alimentos ultraprocessados? De maneira simples, comida que não é comida ou comida pronta. Ou ainda, comidas produzidas a partir de ingredientes que não são encontrados nas nossas cozinhas. Exemplos desses produtos ultraprocessados são biscoitos e bolos industrializados, salgadinhos, refrigerantes, cereais, congelados e fast food. Em geral, são produtos ricos em aditivos, preservativos, corantes, gorduras saturadas, açúcar e sal. Por outro lado, possuem pouquíssimas fibras e vitaminas.

O artigo recém-publicado foi elaborado por pesquisadores de universidades da França, entre elas, a Sorbonne, e um dos maiores especialistas da atualidade no tema, o brasileiro Carlos Monteiro, professor de Nutrição e Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP).

Os pesquisadores afirmam que um aumento de 10% na ingestão de comida ultraprocessada na dieta está relacionado com uma chance 12% maior no desenvolvimento de alguns tipos de câncer e 11%, especificamente, no câncer de mama. Participaram da pesquisa 104 mil pessoas, maiores de 18 anos, que descreveram seus hábitos alimentares diários.

O perigo dos alimentos ultraprocessados

Foi em 2009, que o professor Carlos Monteiro, junto com a equipe do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, criou uma nova classificação para os alimentos. Chamada de NOVA, ela analisa o grau de processamento dos ingredientes que fazem parte do nosso cardápio diário.

A classificação foi divida em três grupos:

– alimentos não ou minimamente processados: como hortaliças limpas, grãos polidos, feijões secos, leite pasteurizado e carne congelada (para não se tornarem perecíveis, todos acabam tendo uma perda discreta de nutrientes);

– alimentos processados utilizados como ingredientes de preparações culinárias ou pela indústria de alimentos: açúcar, óleo de milho, manteiga e farinha de trigo (apresentam grande perda de nutrientes);

– ultraprocessados

A partir desta classificação, a indústria de alimentos, principalmente aqueles que se encaixam no último grupo, começou a ser apontada como uma das principais responsáveis por uma grave epidemia mundial: a obesidade.

Nas últimas décadas, houve uma mudança radical na dieta alimentar dos principais países do mundo, dos mais ricos aos mais pobres. O aumento da renda per capita em alguns lugares permitiu, infelizmente, que famílias se deslumbrassem com o apelo dos “alimentos prontos”. No Brasil, por exemplo, deixou-se de lado o tradicional e nutritivo arroz, feijão e carne ou peixe e trocou-se por um pacote de macarrão instantâneo ou nuggets.

Levantamentos indicam que, atualmente, entre 25% a 50% do que a população mundial consome, pode ser categorizado como ultraprocessado.

Dados da Federação Mundial de Obesidade, divulgados em outubro do ano passado, atestam que já existe uma epidemia global de obesidade. No Brasil, 20% dos adultos tem problemas com a balança: eles estão acima do peso ou obesos. Nos próximos oito anos, este porcentual deverá chegar a 25%, ou seja, ¼ da população adulta do país estará com sobrepeso, com uma propensão muito maior de sofrer problemas no fígado, cardíacos, derrames e diabetes, além de uma série de outras doenças.

O Brasil aparece no 6o lugar entre os dez países que terão os maiores gastos relacionados com o aumento descontrolado da obesidade no mundo e os custos para tratar as consequências dele.

Em primeiro lugar na lista estão os Estados Unidos. China, Alemanha, Rússia e França são as demais nações no topo do ranking.

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Foto: domínio público/pixabay

2 comentários em “Consumo de comida ultraprocessada é associado ao câncer, alerta estudo internacional

  • 16 de fevereiro de 2018 em 3:57 PM
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    Excelente Suzana!

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  • 23 de abril de 2018 em 10:14 AM
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    Pero Vaz de Caminha estava coberto de razão quando escreveu que “A terra, em nela se plantando tudo dá” porém “era preciso” inventar acepipes e guloseimas de sabor indeterminado e origem idem que viciassem os paladares humanos antes que eles se dessem conta disso. O resultado é a obesidade grassando no mundo, qual moléstia contagiosa em nome da irresistível gula e da facilidade de comprar qualquer comida em qualquer lugar, quase de graça, não importando as consequências do seu consumo, nem sempre boas. A propaganda enganosa na Mídia não adverte quanto aos efeitos nocivos dos refrigerantes que poderiam e deveriam ser substituídos por um simples suco natural, extraído da fruta e não da garrafa. Crianças que aprenderam cedo a abrir pacotes de salgadinhos não aprenderam a sujar as mãos de terra, plantando o próprio almoço, porque ele já está pronto, é só descongelar. Enquanto isso especialistas continuam sendo procurados para curar doenças perfeitamente evitáveis pelo bom senso de nossos avós que, felizmente para eles, adoravam cozinhar porque adoravam viver.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.