Conexão com o sagrado: um mergulho nas cavernas subterrâneas da Riviera Maia, no México

Conexão com o sagrado: um mergulho nas cavernas subterrâneas da Riviera Maia, no México

Cenote. O nome significa caverna com água, na língua maia. Quem me explica é o jovem guia local, Alan, em minha recente visita à Riviera Maia, no México.

Além do mar caribenho, de tons diferentes de azul cristalino, um dos mais lindos do mundo, a região que fica no estado de Quintana Roo, na Península de Yucatán, é cheia de história. A história incrível de uma civilização antiga, que cresceu e teve seu apogeu aqui, dominou como poucos a matemática, a escrita, o artesanato e a astronomia, mas sucumbiu ao desenvolvimento sem limites.

“Dizem que os maias desapareceram. Mas não. Eles continuam aqui, através de seus descendentes. O que aconteceu é que seu império ruiu. Eles exploraram seus recursos naturais até o limite e acabaram ficando sem nada. Destruíram as florestas e poluíram sua água para construir seus palácios e cidades”, conta Alan.

Exatamente como estamos fazendo com o planeta hoje em dia, penso eu … Infelizmente, não aprendemos com as lições do passado…

Tulum: a cidade murada

Estão localizados na Riviera Maia os vestígios do que foi uma das mais importantes cidades daquela época: Tulum. Na verdade, seu verdadeiro nome era Zama, que significa amanhecer. A denominação Tulum, “a cidade murada”, veio mais tarde. Na beira do mar, ela era um importante porto de troca de mercadorias entre os séculos XII e XV.

Segundo historiadores, as ruínas de pedra que hoje são de cor cinza, eram coloridas, em tons de branco e vermelho, o que podia ser visto de longe, pelos navegadores espanhóis quando chegaram à costa mexicana.

As ruínas arqueológicas da “cidade do amanhecer”

Os maias acreditavam e cultuavam muitas superstições. O mundo terreno era dominado por divindades sobrenaturais. Para eles, o céu era dividido em treze “níveis”, que levariam até a morada dos deuses, como o Sol e a Lua. Por isso mesmo, somente os sacerdotes subiam ao topo de suas pirâmides. Na Terra, o segundo nível, viviam os seres humanos, e abaixo dela, moravam os doze deuses da morte.

E é justamente, nesse universo subterrâneo que se encontra uma das atrações mais imperdíveis da Riviera Maia – os cenotes, aqueles que menciono no início deste texto.

Mergulho no cenote

Cenotes são formações geológicas, de calcário poroso, que ligam a superfície a áreas alagadas subterrâneas, geralmente criadas a partir da água da chuva ou de rios subterrâneos. Na Península de Yucatán, em muitos lugares, esses poços são a única fonte perene de água potável.

Estima-se que sejam mais de 7 mil cenotes na região. Algumas lendas atribuem sua criação à queda de meteoros na Terra, mas não há comprovação científica sobre tal hipótese.

Alguns cenotes são imensos e bastante profundos. Exigem equipamento de mergulho profissional.

O que visito é dentro de uma reserva indígena. Não é grande. Pode ser explorado somente com máscara de snorkeling.

Um pequeno orifício e depois dele, uma escada de madeira, levam à caverna. Meu primeiro receio é sobre a temperatura da água. Pergunto ao guia se ela é fria. “Água fresca, por volta dos 18oC”.

Já me arrepio toda e fico na dúvida se o esforço valerá a pena. Tomo coragem e entro lentamente na água (sim, está bem fria!). Mas ao começar o mergulho, fico feliz de ter enfrentado meu temor. Esta é uma das experiências mais lindas que já tive.

Nadar nessas águas cristalinas é incrível. Alguns pontos de luz iluminam o lugar e o deixam ainda mais mágico. O silêncio é um fio condutor de uma paz sem igual.

Em alguns lugares, a passagem é estreita. Estalactites praticamente interrompem a passagem. É preciso ir com calma. Exatamente o necessário para aproveitar cada segundo aqui.

O guia também nos recomenda boiar e ficar olhando o “céu” da caverna: formações geológicas belíssimas, que levaram milhares de anos para serem moldadas, pouco a pouco, através de cada gota de água.

Ao sair, extasiada do cenote, comento com Alan que ouvi de alguém que mergulhar ali era como “limpar a alma, jogar fora todas as energias negativas”.

Ele sorri e diz que há muitas crenças modernas. Podemos acreditar nelas se quisermos. Entretanto, para os maias, nadar nos cenotes representava o embate com o lado negro, o mal, a morte. E sair dali, vivo, fazia parte de nossas lutas diárias pela sobrevivência humana. Era uma conexão com o sagrado.

Fotos: reprodução Facebook Visit Mexico e domínio público/pixabay

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.