Como o Uruguai conseguiu ter 95% de sua eletricidade gerada por fontes renováveis?

Turbinas eólicas no Uruguai, que investiu fortemente em energias renováveis

Ao passar pela Ruta 5, uma das estradas nacionais que corta o Uruguai de norte a sul do país, já dá para se ter uma ideia da resposta à pergunta do título deste post. Ao longo dela estão localizadas três fazendas eólicas e três plantas agroindustriais movidas a biocombustíveis. Nosso vizinho latinoamericano passou por uma revolução energética ao longo da última década e hoje fontes renováveis são responsáveis pela produção de 95% da demanda de eletricidade uruguaia, que ainda exporta o excente para a vizinha Argentina.

A transição para as energias renováveis foi feita sem subsídios governamentais ou aumento no custo da eletricidade. Houve planejamento de longo prazo. Em 2008, o país aprovou seu Plano Nacional de Energia até 2030. Nele, havia metas de melhoria da produtividade do setor, sustentabilidade ambiental, independência energética, além da integração e desenvolvimento social e econômico.

Por trás do discurso, o plano nacional tinha um objetivo bem prático: diversificar as fontes energéticas, acabar com os apagões que deixavam os uruguaios no escuro frequentemente e deixar de lado as importações de petróleo (há 15 anos, ela representava 27% do total das importações do país). Para isso, o governo fez um investimento robusto no setor energético: US$ 7 bilhões nos últimos cinco anos, cerca de 15% de seu produto interno bruto (PIB) anual. Segundo análise do jornal The Guardian, esta porcentagem é cinco vezes maior que a média na América Latina e três vezes mais que a recomendada pelo economista britânico Nicholas Stern, um dos maiores especialistas em mudanças climáticas da atualidade.

Atualmente os renováveis representam 55% da energia produzida no Uruguai. As principais fontes são eólica e hidrelétrica (mas nenhuma usina foi construída nos últimos 20 anos) e também há um grande crescimento no uso de energia solar e biomassa. O país não tem nenhuma planta nuclear.

Para Ramón Méndez, ex-ministro de Energia do Uruguai nas últimas décadas, o que garantiu o sucesso do plano energético foi decisão política transparente e forte, ambiente regulatório favorável e parceria de peso entre os setores público e privado. “O que aprendemos é que os renováveis são simplesmente um negócio financeiro. A construção e manutenção do segmento têm custos baixos, desde que dado aos investidores um ambiente seguro”, garantiu ele ao The Guardian.

É óbvio que os mais crédulos vão dizer que para o Uruguai este foi um movimento fácil, afinal o país só tem 3,4 mihões de habitantes, ou seja, praticamente ¼ da população da capital paulista. Com uma boa parte de seu pequeno território, de 180 mil km2, localizada na costa do Atlântico, é privilegiado – com bons ventos – para produzir energia eólica (o que dizer então da enorme costa brasileira?). Aliás, agora no lugar do petróleo em sua lista de importação, um dos principais produtos que os uruguaios compram são turbinas  eólicas.

Mas o esforço do governo uruguaio foi real e sim, pode ser replicado em qualquer lugar do mundo. O que falta para outros políticos é vontade e um plano que seja seguido à risca com determinação. Tanto é bem-sucedido o modelo do Uruguai, que o país foi reconhecido por seu progresso em descarbonizar a economia pelo Banco Mundial e a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). E no ano passado foi eleito entre os Green Energy Leaders em relatório elaborado pela organização WWF International (confira abaixo os outros países que aparecem na lista), que analisa os países da América Latina que mais investiram em energia limpa nos últimos anos.

Segundo o estudo, estas duas regiões são umas das mais ricas do planeta em recursos naturais para a produção de energias renováveis. Acredita-se que se houvesse investimento em fontes limpas, além da hidrelétrica, Caribe e América Latina conseguiriam suprir a demanda de suas economias em crescimento. Infelizmente, ainda existe uma falsa percepção de que a energia verde é cara. Puro engano. Entre 2009 e 2014, o custo da geração solar caiu 80% e da eólica 60%. Noticiamos aqui no Conexão Planeta, em outubro, que o custo desta última já se equipara a dos combustíveis fósseis, como gasolina, diesel e carvão (leia mais aqui) .

Se não bastasse o que já fez, o Uruguai ainda se comprometeu durante a Conferência das Nações Unidas pelas Mudanças Climáticas (COP21), em Paris a, até 2017, reduzir em 88% suas emissões de dióxido de carbono (gás principal responsável pelo aquecimento global e proveniente da queima de combustíveis fósseis) em relação à média dos anos de 2009-2013.

Assim sendo, o exemplo de nosso vizinho Uruguai é apenas mais um que mostra que havendo vontade política e investimentos, a transição para uma economia limpa, sem emissão de carbono, é possível.

Países latinoamericanos líderes em energias renováveis

1º Costa Rica
2º Uruguai
3º Brasil
4º Chile
5º México

Fonte: Green Energy Leaders – Latin America’s Top Countries In Renewable Energy (WWF International)

Foto: domínio público/pixabay

11 comentários em “Como o Uruguai conseguiu ter 95% de sua eletricidade gerada por fontes renováveis?

  • 25 de julho de 2018 em 9:01 PM
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    tenho umas dicas interessantes não só para a independência energética, mas também um pouco financeira: vejo no site do youtube, várias dicas e invenções que não aparecem muito na mídia: fogão solar(necessita de sol), refrigerador sem eletricidade(é simples, e necessita de ambiente quente), dessalinizador ou decantador de água(para cidades no litoral), invenções com sucata e baterias usadas, fios usb etc. nos lugares frios, tem dicas do manual do mundo, espalhadas na internet tem manual de sobrevivência na selva, como obter água em lugares áridos(youtube), como evitar hipotermia ou manter a casa quente, etc. pancs(plantas e arvores alimenticias não convencionais), etc.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.