“O índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”. Comentário racista de Bolsonaro provoca indignação
Quem é mais humano? Quem protege a floresta ou quem quer derrubá-la para explorar seu solo? Bolsonaro parece não saber o significado de ser humano e, por isso, fez esse comentário infeliz em transmissão ao vivo por por suas redes sociais. “O índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Fazer com que o índio, cada vez mais, se entregue à sociedade e seja cada vez mais dono da sua terra indígena”. O tema central da declaração era o recém-criado Conselho da Amazônia, que noticiamos aqui, no Conexão Planeta, e ações de sua gestão para a proteção de terras indígenas.
Falta entender o que ele quis dizer com o indígena ser “mais dono de sua terra”. Seria a tal famigerada “integração com a sociedade” da qual ele tanta fala, de forma capciosa?
A declaração não causou surpresa, já que o histórico de agressões verbais do presidente é extenso, mas provocou a indignação de ativistas e de grupos e lideranças indigenas, que o consideram uma ameaça histórica. Desde a época em que era deputado federal (por quase 30 anos!), Bolsonaro ataca esses povos, como também as comunidades afro-brasileiras. E ainda se diz orgulhoso de ser homofóbico e machista.
Assim que tomou conhecimento da declaração infeliz do presidente, a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (APIB) e uma das mais importantes lideranças do país, Sonia Guajajara, disse na mesma noite, em seu Twitter, que a instituição entrará com processo na Justiça contra o presidente por crime de racismo (já entrou: veja o post de Sonia, em seu Instagram, abaixo).
“Nós, os povos indígenas, os habitantes originais desta terra, exigimos respeito! Mais uma vez, Bolsonaro rasga a constituição negando nossa humanidade“.
Além de “incentivar” a invasão de terras – que já está acontecendo de forma assustadora pelo país -, o comentário de Bolsonaro corrobora seu desejo de liberar essas terras para a exploração econômica: mineração, agronegócio, petróleo, gás.
Ele defende a autorização para que comunidades indígenas possam arrendar suas terras para a agricultura e a agropecuária, o que hoje não é permitido (a legislação permite apenas que o indígena usufrua da terra para sua sobrevivência). Com um detalhe: os indigenas não poderão opinar. Assim que o Congresso voltar do recesso, em fevereiro, o governo apresentará esse projeto para votação na Câmara dos Deputados e no Senado.
Ofensas e ameaças
Desde que era deputado federal, Bolsonaro declara seu desprezo e desrespeito pelos povos indígenas. Por diversas vezes, foi chamado à atenção por colegas, no plenário, devido à forma como se dirigia a eles.
Uma vez, ao reclamar da quantidade de terras demarcadas para os povos indigenas, chegou a dizer, em plenário, que a cavalaria brasileira errou ao não exterminar os indígenas, como a americana. “A cavalaria norte-americana foi mais competente porque dizimou seus povos indígenas no passado e, hoje, não tem esse problema em seu país”, disse. Sim, é verdade: a agência Lupa checou e confirmou.
Durante campanha presidencial, voltou a falar do assunto em discurso no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, : “Pode ter certeza que se eu chegar lá (na Presidência da República) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”. E foi aplaudido e ovacionado. Deste comportamento indecente a comunidade judaica não reclamou….
Assista ao trecho no qual ele destaca os indígenas:
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (Bolsonaro conversa com indígena Macuxi, da reserva Raposa Serra do Sol, que o presidente quer explorar)
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.