Comendo o Planeta: livro revela os impactos ambientais do consumo de carnes e derivados

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É claro que o consumo de alimentos de origem animal não é o único responsável pela crise ambiental no mundo, mas já está mais do que provado que sua contribuição é importante e não pode ser ignorada. Por isso, organizações ambientalistas e vegetarianas têm se empenhado para esclarecer o público sobre a necessidade de reduzir a carne e seus derivados da dieta diária, no Brasil e no mundo.

Há duas semanas, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) – em parceria com o portal Veggo e a ONG Ampara Animais e com o apoio de pessoas famosas como a apresentadora Luísa Mel e o cantor Júnior – iniciou um novo movimento com a campanha 21 Dias Sem Carne.  Agora, lança o dossiê Comendo o Planeta: Impactos Ambientais da Criação e do Consumo de Animais, nas versões digital e impressa (esta, disponível na loja da SVB a R$ 10 o exemplar). E o livro ainda tem copyright livre, ou seja, pode ser reproduzido – na íntegra ou em partes -, desde que citada a fonte.

comendo-o-planeta-capa-dossie-558x800Com coordenação de Cynthia Schuck, doutora pela Universidade de Oxford, consultoria científica e coordenadora do Departamento de Meio Ambiente da instituição, e texto da jornalista Raquel Ribeiro, o livro mostra as relações entre a criação de animais para consumo e as atuais crises ambientais. Em linguagem fácil e edição muito bem ilustrada, poderá ser um bom guia para leigos e especialistas. As informações por ele apresentadas têm o respaldo de estudos científicos recentes e dados oficiais de instituições governamentais e de pesquisa.

Dividida em 11 capítulos, a obra discorre sobre o custo da criação de animais, uso do solo e desmatamento, a atuação dessa indústria em cada bioma brasileiro, escassez hídrica, contaminação e saúde pública, gases de efeito estufa, oceanos, extinção de espécies, crescimento populacional e segurança alimentar e, por último, orienta sobre o que o leitor pode fazer, sem imposições.

“Nosso objetivo é mostrar para a sociedade que, sem mudar os padrões de consumo alimentar atuais, as alterações ambientais em escala global já em curso poderão realmente definir a forma como viveremos num futuro próximo”, explica Ricardo Laurino, presidente da SVB. A boa notícia é que, se formos capazes de mudar, poderemos evitar catástrofes.

Por ano, no mundo, mais de 70 bilhões de animais terrestres são abatidos, sem falar nos animais aquáticos que, segundo o livro, são em numero ainda maior. E essa quantidade absurda de alimento é consumida por apenas parte dos sete bilhões de seres humanos que habitam a Terra. É importante lembrar que a criação desses animais não só precisa de terra, mas também de água, alimento e energia, e que ainda libera dejetos sólidos, líquidos e gasosos que, por sua vez, poluem a água, o ar e o solo. É uma cadeia de ações que geram grande e constante impacto ambiental.

Cynthia alerta ainda para outro fator: a ineficiência do setor. “O uso extensivo de terras e de recursos naturais pela pecuária resulta também da ineficiência energética na produção de alimentos. Em média, para alimentar os animais criados para consumo, são usadas cerca de dez vezes mais calorias do que as contidas em sua carne. Ou seja, há desperdício de 90% das calorias dos cultivos vegetais usados como ração”.

Segundo ela, hoje seria possível aumentar em 50% a quantidade de calorias para consumo produzidas em terras agrícolas já existentes, obtendo o suficiente para alimentar mais 3,5 bilhões de pessoas no planeta. Com um detalhe: sem criar e alimentar animais.

O que cada um pode fazer?

No último capítulo do livro, Cynthia não tem a pretensão de dar dicas práticas e detalhadas para convencer o leitor a diminuir ou eliminar da dieta o consumo de carnes e derivados, mas aponta alguns caminhos, tanto no plano pessoal, como no local e global.

A autora lembra que é possível substituir a carne, laticínios e ovos por vegetais de valor nutricional equivalente. E o que você ganha com isso? Além de uma dieta mais saudável, ajuda a evitar algumas mazelas que destroem o meio ambiente: desperdício de água, desmatamento e desertificação, destruição de habitats e consequente extinção de espécies, emissões de gases de efeito estufa, poluição da água e do solo. E ainda toa no coração: assim, é possível evitar o sofrimento de inúmeros animais.

Ela também convida o leitor a espalhar as ideias defendidas no livro e a participar de ações (movimentos, campanhas, se associar a entidades) para influenciar pessoas, empresas e governos. Além de votar em candidatos que defendem essas mesmas ideias e o meio ambiente, em qualquer eleição.

Por fim, destaca detalhes como o fato de que o setor pecuário não paga pela água que usa, nem pela degradação ambiental, e ainda recebe subsídios que não estão disponíveis para outras áreas.  “A produção de animais precisa deixar de ser um bom negócio”, diz ela. Assim, os subsídios poderiam ser transferidos “para a produção de alimentos mais saudáveis e sustentáveis”. E, por fim, diz que é urgente estimular as mudanças em grande escala com incentivos à indústria para sua transformação.

Números

Com o livro, certamente não restará nenhuma dúvida de que reduzir o consumo de carnes e derivados pode contribuir para mitigar a crise ambiental e tornar mais viável – do ponto de vista ecológico, ético e social – nossa trajetória no planeta Terra.

Os dados abaixo, sobre a pegada ambiental da criação de animais para consumo no mundo e no Brasil, finalizam este texto e reforçam essa ideia:
– Hoje, quase 70% da área desmatada na Amazônia é usada como pasto. E, boa parte dos 30% restantes é ocupada pela produção de ração;
– A construção de fazendas aquáticas já eliminou metade dos manguezais da Terra e 1/3 dos mangues no Brasil. Essa destruição é maior do que a de florestas tropicais;
– O setor agropecuário consome mais de 90% da água do mundo, e 1/3 deste volume se destina à irrigação e a cultivos para produzir ração;
– No Brasil, a cada quilo de camarão pescado, cerca de dez quilos de organismos marinhos são capturados, “acidentalmente”;
– Quase 30% das áreas terrestres do globo (o que equivale à área do continente africano) são usadas como pastagem, sendo que, cerca de 1/3 das terras aráveis se destina ao cultivo de ração;
– De 1990 a 2000, cerca de 1/3 da produção do setor pesqueiro no mundo foi usado como ração para animais de cativeiro (inclusive para o gado);
– Se não fosse necessário criar e alimentar animais para consumo, poderíamos aumentar em cerca de 50% a quantidade de calorias disponíveis, produzidas em terras agrícolas já existentes. Com um detalhe: teríamos o suficiente para alimentar mais 3,5 bilhões de pessoas no planeta.

Foto: skeeze/Pixabay

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.