Claudia Andujar e a luta Yanomami, em exposição no IMS Paulista até abril

Texto atualizado em janeiro de 2019

Claudia Andujar nasceu em 1931 e cresceu na Hungria. Durante a Segunda Guerra Mundial sua família paterna foi enviada aos campos de concentração de Auschwitz e Dachau e ela escapou para a Suíça. De lá, foi para os Estados Unidos, e, em 1955, para o Brasil, onde começou seu envolvimento com a fotografia.

Conheceu os indígenas Yanomami nos anos 70, na Amazônia, quando eles ainda estavam isolados. Levou sua câmera fotográfica, lentes e filmes porque estava lá para fotografá-los para a revista Realidade. Mas não sacou os equipamentos das bolsas enquanto não adquiriu sua confiança. Isso foi em 1971.

“O importante, primeiro, era criar uma situação para a gente se conhecer e se sentir á vontade um com o outro”, conta a fotógrafa em vídeo gravado especialmente para divulgar a exposição no IMS Paulista (Avenida Paulista, 2424), inaugurada em 15 de dezembro. “Os primeiros contatos foram através do sorriso”.

Assim, aos poucos e com muita paciência e respeito, Claudia conquistou os Yanomami. Aprendeu a falar sua língua, se deixou pintar por eles. “As mulheres me olhavam muito, algumas se aproximavam de mim. Cada vez que eu ia pra lá” – foram muitas nesse período – “levava de duas a três semanas até começar a fotografa-los”.

As crianças, os jovens e os adultos não entendiam muito bem porque ela ficava atrás deles, os observando com aquela máquina na mão – que nunca tinham visto igual – ou próxima de seu rosto. Ficavam surpresos e muito curiosos. “Através da fotografia eu pude mostrar como eram esses povos isolados”, conta. “Sempre tentei entende-los e gostava muito de viver com eles na aldeia“.

Logo passou a documentar essa cultura relativamente isolada com frequência, misturando mergulho antropológico e experimentação visual. Mas o encanto durou pouco.

Não demorou para que o desenvolvimento da Amazônia fosse promovido pelo regime militar como a maior maravilha para o país, mas dizimou comunidades desprotegidas. Foi assim que a fotógrafa viu nascer a ativista, que organizou projetos de saúde e educação para proteger os indígenas. Também se mobilizou e procurou o apoio de organizações nacionais e internacionais para tentar aprovar no Congresso a demarcação da terra Yanomami de forma contínua.

Está tudo lá, nos dois andares do IMS Paulista dedicados à exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami: a atmosfera de curiosidade, compreensão, confiança, cumplicidade, amizade e entrega que permeou sua relação com os indígenas, mas também a influência do homem branco e as transformações de sua cultura original.

Com curadoria de Thyago Nogueira (coordenador de fotografia contemporânea no IMS) e Valentina Tong (assistente), ocupará esse espaço lindo até 7 de abril de 2019.

“Eu acho que a exposição pode ajudar a mostrar esse povo, como vivem, quem são. E espero que meu trabalho transmita meus sentimentos e o respeito que tenho para com todos os povos”.

O que o público verá em dois andares (galerias) do IMS Paulista é fruto de cinco anos de pesquisa de Thyago no arquivo de mais de 40 mil imagens da artista. A seleção feita por eles traça um amplo panorama do longo trabalho realizado por ela junto aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos da luta da fotógrafa pela demarcação de terras indígenas. Sua militância rapidamente a levou a fazer a ponte entre arte e política.

Assim, cerca de 300 Imagens, uma instalação, livros e documentos inéditos revelam a história dos Yanomami em busca de sobrevivência e o engajamento da artista.

O projeto fotográfico de Claudia Andujar é, sem dúvida, um marco da história visual e política do nosso país.

Conversa e ritual xamânico

No dia da abertura da exposição, 15/12, às 11h, Claudia recebeu o xamã Davi Kopenawa (foto abaixo), da etnia Yanomami para uma conversa mediada pelo curador da mostra.

Na ocasião, foi lançado o catálogo com as imagens da exposição, acompanhadas de textos de Thyago, de Claudia e também do antropólogo Bruce Albert, que se aliou a ela na luta pela preservação dos Yanomami e escreveu o livro A Queda do Céu, um relato contundente (e amoroso) de Kopenawa sobre o nosso futuro.

No dia seguinte, foi realizada a Pajelança Yanomami, numa das salas de exposição, um ritual xamânico conduzido por Kopenawa e os indígenas Pedrinho Yanomami e Levi Malamahi Alaopeteri Yanomami.

AE ainda estão previstos, a partir de janeiro de 2019, eventos relacionados à exposição como seminários, conversas e visitas especiais.

Se você fotografar ou escrever sobre a exposição de Claudia Andujar em seus perfis nas redes sociais, use a hashtag #ExpoClaudiaAndujar. Assim, será fácil reunir registros bastante heterogêneos dos visitantes e seu olhar para o trabalho da fotógrafa ativista.

Agora, veja mais algumas das imagens belíssimas que estão expostas no IMS e, em seguida, assista ao vídeo produzido para divulgação da exposição e que foi censurado (tirado do ar) pelo Facebook. E, quem quiser saber um pouco sobre a fotógrafa, pode ler a entrevista que ela concedeu ao fotógrafo Juan Esteves, em 2009, publicada no site OlhaVê.


Os Yanomami podem incendiar malocas quando migram, querem livrar-se de uma praga,
ou quando um líder importante morre. Filme infravermelho, Catrimani,RR, 1976

 


SERVICO
Claudia Andujar: a luta Yanomami
15 de dezembro de 2018 a 7 de abril de 2019
Terças a domingos (exceto quintas), das 10h às 20h.
Às quintas (exceto feriados), das 10h às 22h.
IMS Paulista – Avenida Paulista, 2424, Galerias 2 e 3, São Paulo/SP
Apoio e consultoria: Instituto Socioambiental (ISA)
Colaboração: Hutukara Associação Yanomami (HAY).

Foto de abertura: Claudia Andujar (a jovem Susi Korihana thëri em um igarapé, fotografada com filme infravermelho. Em Catrimani, Roraima, 1972-1974) / Fotos: Divulgação e reprodução de vídeo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.