O cineasta e indigenista Vincent Carelli recebe o prêmio principal do ‘Prince Claus Awards’, da Holanda


Criado em 1997 pela Fundação Príncipe Clausem homenagem ao Príncipe Constantjn, da Holanda -, o Prince Claus Awards é uma das mais importantes premiações mundiais nas áreas da cultura e do desenvolvimento social, que reconhece o trabalho de pessoas e organizações inspiradoras, que atuam com uma abordagem progressista e contemporânea.

O cineasta e indigenista, Vincent Carelli, diretor do filme Martírio (à esquerda, na foto) – sobre a saga dos índios Guarani Kaiowaa -, é um deles. Junto com o designer de mídia e ambientalista chinês, Ma Jun, ele receberá o principal prêmio, em 6 de dezembro, no Royal Palace, em Amsterdam. “Nestes tempos bicudos, de enorme retrocesso nas políticas públicas brasileiras em relação aos índios, que a premiação sirva não só para reconhecer o trabalho de anos de um ativista de primeira grandeza, como também para chamar a atenção mundial para o que vem acontecendo por aqui”, disse Adélia Borges, jornalista e curadora de arte, em seu perfil no Facebook.

_______________________________
Leia sobre Martírio:
Martírio, um filme que o Brasil precisa ver
Martírio estreia nos cinemas
E assista ao trailler no final deste post.
________________________________

Na mesma noite em que Carelli e Jun recebem o prêmio máximo, outros cinco serão entregues a ativistas: Khadija Al-Salami (documentarista do Yemen), L’Art Rue (coletivo de arte pública da Tunísia), Brigitte Baptiste (cientista e ambientalista colombiano), Amar Kanwar (artista visual indiano) e Diébédo Francis Kéré (arquiteto de Burkina Faso). Em geral, os premiados são de países da África, Ásia, América Latina e Caribe.

Ele ensinou seu ofício aos índios e lhes deu um grande poder
Carelli é um guerreiro. Portanto, merece todos os reconhecimentos que conquistar pelo mundo. Em 1986, criou – com sua mulher, Virgínia Valadão, já falecida – o projeto Vídeo nas Aldeias. Com ele, registrou a realidade de cerca de 50 etnias. Mas foi além!

Ensinou os índios a usar uma câmera de vídeo e filmar seu dia a dia, suas lutas, reivindicações. Deu a eles o conhecimento sobre uma das ferramentas mais eficientes para o registro das atrocidades que sofrem por causa de suas terras tão desejadas. É o que vemos em Martírio, filme de Careli, lançado em 2016 e já premiado, que é o segundo filme da trilogia que o cineasta iniciou com Corumbiara, de 2009 (que conta o massacre de índios na Gleba de mesmo nome, em Rondônia, em 1995) e terminará com Adeus, Capitão, em desenvolvimento. Em Martírio, foram incluídas cenas feitas pelos índios Guarani Kayowaa ao serem atacados por capangas enviados por fazendeiros, por exemplo.

E foi com uma seleção de imagens capturadas por Carelli e pelos índios -além de outras garimpadas em arquivos brasileiros e da América do Sul –  (organizadas em looping), que o Vídeo nas Aldeias participou da Bienal de Arte de São Paulo, no ano passado. E causou. Muita gente parou e sentou nos bancos oferecidos em frente às telas gigantes para ver os índios, sua transformação e os massacres que sofreram pelos brancos desde tempos remotos.

O prêmio

Desde 1997 que todos os anos, a Fundação Prícipe Claus (Prince Claus Fund) convida especialistas internaconais nos campos da arte e do desenvolvimento social para indicar candidatos. É importante destacar que a fundação interpreta a cultura em um sentido amplo, englobando todos os tipos de disciplinas artísticas e intelectuais, ciência, mídia e educação. E – claro! – a qualidade tem que ser excepcional. Em casos excepcionais, o público pode sugerir nomes. E é o diretor da Fundação quem informa os escolhidos sobre a nomeação e pergunta se eles aceitam. Com todos os nomes confirmados, em 6 de setembro, a organização divulga o resultado à imprensa. Os prêmios do Prince Claus Awards – o prêmio principal de 100 mil euros e os adicionais de 25 mil euros – são entregues aos laureados/as, no Royal Palace, em Amsterdam, pelos presidentes de honra da fundação, na presença de membros da Família Real dos Países Baixos. O embaixador holandês que atua no país onde vive e trabalha cada homenageado/a é quem o/a apresenta durante a cerimônia.

Há um comitê, formado por especialistas independentes de diferentes países – entre eles, a brasileira Solange Farkas – que representam uma ampla gama de disciplinas, que orienta o Conselho sobre a seleção anual dos laureados. Todos são voluntários por dois anos e podem ter sua participação prorrogada. Depois de entregues os prêmios, a fundação publica livro apresentando os vencedores daquele ano por meio de fotos de seus trabalhos, análises de especialistas, discurso do presidente da fundação, palestra de um importante pensador, relatórios dos jurados e debates sobre os trabalhos dos laureados por especialistas qualificados em seus campos de atuação.

Agora, assista ao trailler do documentário Martírio, de Vincent Carelli:

Leia também:
Somos todos Guarani Kaiowaa (revista Trip)

Fotos: Divulgação

Deixe uma resposta

Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.