Cidades inteligentes podem gerar economia de US$ 22 trilhões

cidade com metrô

Transporte público com baixa emissão de dióxido de carbono (CO2), construções sustentáveis, gestão de resíduos, redução de subsídios a combustíveis fósseis (gasolina, diesel, carvão, entre outros) e estímulo ao desenvolvimento de tecnologias limpas. Cidades que investirem nestes setores conseguirão não somente melhorar a qualidade de vida de seus moradores, mas economizar. E muito.

Isto é o que afirma o estudo Accelerating Low-Carbon Development in the World’s Cities*, divulgado esta semana pela iniciativa internacional The Global Commission on Economy and Climate, que traduz em números esta economia. Se as principais metrópoles do mundo investirem na chamada economia verde, será possível poupar cerca de US$22 trilhões até 2050.

Mas não é só. Ao tornar estas cidades mais limpas e menos poluentes, deixaria-se de emitir na atmosfera do planeta até 2030 algo em torno de 3,7 Gt de CO2, gás principal responsável pelo efeito estufa e o aquecimento global. Este volume de emissões é o equivalente ao que a Índia libera de gases na atmosfera anualmente.

“As ações que as cidades tomam para diminuir a pegada de carbono também reduzem seus custos com energia, melhoram a saúde pública e as ajudam a atrair novos habitantes e negócios”, disse Michael Bloomberg, secretário-geral das Nações Unidas para Cidades e Mudanças Climáticas e ex-prefeito de Nova York, em comunicado oficial.

De acordo com o estudo, políticas públicas de estímulo à criatividade e financiamento inovativo auxiliam as cidades a superar barreiras e colocar ações em práticas. O planejamento urbano e social delas será fundamental no controle às mudanças climáticas no futuro. Estima-se que até 2050, dois terços da população mundial irão viver em áreas urbanas. Em 2015, 85% do Produto Interno Bruto (PIB) global foi gerado em cidades.

Para os pesquisadores envolvidos no relatório, centros urbanos compactos, conectados e eficientes podem gerar crescimento mais forte e sustentável, criação de novos postos de trabalho, reduzir a pobreza e ainda, melhorar a qualidade de vida da população, através da diminuição da poluição do ar e a eficiência na mobilidade urbana. Especialmente em países em desenvolvimento ou emergentes, modelos de cidades mais resilientes (resistentes à vulnerabilidades) são essenciais.

Participaram da elaboração do documento especialistas da Colômbia, Etiópia, Indonésia, Noruega, Coréia do Sul, Suécia e Reino Unido. O estudo recomenda que haja uma maior adesão internacional à coalizão C40 – Compact of Mayors  -, que reúne prefeitos e lideranças de mais de 130 metrópoles, onde vivem aproximadamente 220 milhões de pessoas. O movimento tem como objetivo, através da implantação de políticas públicas e privadas, a redução da emissão de  gases de efeito estufa e a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. No Brasil, várias capitais já aderiram ao C40, entre elas, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Salvador, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Natal.

Accelerating Low-Carbon Development in the World’s Cities também lista uma série de exemplos concretos de como as cidades podem ter ganhos econômicos ao investir na economia verde:

Transporte Rápido por Ônibus (BRT, na sigla em inglês): em Johannesburgo, maior cidade da África do Sul, o retorno econômico na primeira fase da implantação do sistema de BRT foi de US$900 milhões;

Construções verdes: ao lançar o programa “Green Mark”, que deve incluir 80% dos prédios de Singapura até 2030, a cidade verá uma redução nos gastos com energia de 22%, enquanto economizará algo em torno de US$400 milhões;

Ciclismo: o projeto Cycle Super Highways de Copenhague, capital da Dinamarca, que criará 26 rotas para bicicletas, totalizando 300 km de ciclovias, deverá trazer um retorno de investimento à administração local de 19% ao ano.

Em agosto, um relatório divulgado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças ClimáticasIES Brasil: Implicações Econômicas e Sociais: Cenários de Mitigação de GEE 2030 – revelou que se o Brasil adotar medidas ambiciosas de redução da emissão de dióxido de carbono, o PIB do país chegará a R$ 5,68 trilhões em 2030, um crescimento econômico de 4%. Vale lembrar que a atual previsão do PIB brasileiro para este ano é negativa, de -2,44%.

Para os 80 especialistas envolvidos no estudo nacional, caso o país adotasse as iniciativas sugeridas, conseguiria emitir quase 40% a menos de CO2 na atmosfera. Além dos ganhos ambientais, o cenário brasileiro se tornaria mais positivo socialmente. Haveria redução da desigualdade social, aumento da oferta de empregos e maior investimento na educação.

* Accelerating Low-Carbon Development in the World’s Cities

 

Foto: reprodução “Accelerating low-carbon development in the world’s cities” 

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.