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Cidades em escala humana: uma ópera e um filme didáticos

ciclistas em amsterdan andando de bicicleta

As cidades brasileiras se tornaram um campo de disputa entre duas perspectivas que já não são novidades em lugares como Amsterdã e Nova York. Em resumo, o conflito se dá entre criar mais estruturas para os carros que chegam às ruas, como vias expressas e estacionamentos, ou resgatar os espaços da cidade para a mobilidade alternativa de pedestres e ciclistas.

Hoje, as duas cidades citadas acima são exemplos de como superar os problemas de mobilidade urbana como esse e ao mesmo tempo recuperar a qualidade de vida com ciclovias e calçadas, mas não foi uma luta fácil. Tanto na Holanda quanto nos EUA, parecia que o conforto e a velocidade do carro seriam motivos bons o suficiente para justificar sua preferência em duas sociedades que progrediam em ritmo acelerado após a Segunda Guerra. O automóvel não apenas impulsionava a economia como também era um símbolo de status e modernidade. Contudo, congestionamentos, poluição e violência no trânsito em contextos de crise, econômica e social, levantaram a questão: uma preferência individual de transporte pode pautar o planejamento urbano público em nome de uma ideia de progresso e em sacrifício do bem-estar coletivo?

Para responder  essa pergunta pertinente, separei dois conteúdos que ajudam a elucidar o debate.

Este vídeo (abaixo) do canal Bicycle Dutch, bem interessante, mostra como os holandeses, historicamente amigáveis com ciclistas,  perderam de vista no planejamento de suas principais cidades um sentido mais amplo de democracia na divisão do solo entre carros e bicicletas. Mesmo por lá, a meca contemporânea das bikes, abrir caminho para os automóveis entre os anos 50 e 70 parecia ser o certo, mas mortes no trânsito e a dependência de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, em plena Crise do Petróleo exigiram reflexão sobre o modelo carrocêntrico, que só pode ser mudado com ativismo e participação popular a tempo de corrigir o erro.

O curta é interessante para entender como os holandeses conseguiram resgatar suas cidades, mostrando também o “antes e o depois” de novas práticas de planejamento para ciclovias e espaços para pedestres. Não é difícil, por meio da comparação, ver se valeu a pena (o filme está inglês, mas há legendas em português).

A batalha pelo planejamento sustentável de Nova York, porém, é digna de ópera. E, por incrível que pareça, essa ópera já existe e foi criada pelos compositores Judd Greenstein e Tracy K. Smith. Chamada de A Marvelous Order, a obra gira em torno de um triângulo amoroso entre dois gênios e uma cidade. De um lado, Robert Moses, o planejador mestre da cidade nas décadas de 50 e 60, defensor do progresso pela criação de avenidas, pontes e túneis para os veículos motorizados. Do outro, Jane Jacobs,  autora de Morte e Vida Nas Grandes Cidades e ativista do resgate da escala humana nos centros urbanos. Dois visionários com capacidade de liderança e amor pela cidade, mas com ideias completamente opostas ao planejar.

Jacobs entrou para a história como o símbolo de uma mudança para melhor, de uma cidade mais humana. Mas o legal desse projeto é que Moses não é mostrado exatamente como um vilão, apenas como um homem que queria uma cidade dinâmica e eficiente, mas cuja metodologia tirava o mais importante das ruas: as pessoas.

A ópera ainda não está concluída, mas parte dela será exibida ao vivo em Nova York em 2 de dezembro próximo, para levantar fundos. Um vídeo feito pelos criadores ajuda a entender, através do exemplo do embate local, o que está em pauta agora nos centros urbanos do Brasil.  Queremos mais carros ou mais gente nas nossas metrópoles? Pelo que vale lutar?

Foto: Jorge Royan / Wikicommons

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