O Ministério da Saúde divulgou hoje (24/11) um novo boletim epidemiológico em que relata novos números alarmantes: até o último sábado (21/11), foram registrados 739 casos suspeitos de microcefalia, espalhados por 160 municípios, em nove estados brasileiros.
Entretanto, mais da metade deles, foi detectado em Pernambuco: 487 casos (no ano passado foram somente 12). Na Paraíba também já foi relatado um número bastante alto de crianças com a doença, aproximadamente 96, contra 5 no ano passado. Em 2014, no país todo, foram diagnosticados 147 casos da doença.
Especialistas acreditam que o enorme crescimento no diagnóstico de microcefalia no Nordeste (dos nove estados onde a anomalia foi detectada, somente Goiás não fica nesta região) pode ter sido provocado pelo zika vírus, transmitido pelo mosquito da dengue, Aedes aegypti. O inseto é causador também da febre chikungunya.
A microcefalia é uma anomalia bastante rara, atingindo cerca de uma criança a cada 7 mil recém-nascidos. A doença faz com que a cabeça e o cérebro do bebê sejam menores porque os ossos do crânio se unem muito cedo, evitando o crescimento normal. Portadores de microcefalia acabam tendo retardo mental, além de sérias complicações motoras, precisando de auxílio para o resto da vida. Infelizmente, a doença não tem cura.
Médicos especialistas, envolvidos em uma força tarefa liderada pelo Ministério da Saúde, ainda não conseguiram confirmar que o aumento de casos de bebês com microcefalia na região esteja realmente ligado com o zika vírus. O mais forte indício vem de um exame realizado pelo Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz/RJ que atestou a presença do genoma do vírus, em amostras dos líquidos amnióticos de fetos de duas gestantes da Paraíba, que já se sabe, nascerão com microcefalia.
Como a situação já é considerada epidêmica no Brasil, o país enviou relatórios à Organização Mundial de Saúde e Organização Pan-Americana de Saúde, conforme protocolos internacionais de notificações de doenças.
Até que um parecer final seja dado, a recomendação dos médicos é que mulheres evitem engravidar. E as gestantes, que façam acompanhamento e consultas de pré-natal mensalmente. Segundo o Ministério da Saúde, as futuras mães devem adotar medidas para reduzir a presença do mosquito transmissor da doença, com a eliminação de criadouros, além de manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, assumiu que a tendência é que o surto se espalhe pelo país, caso seja confirmado mesmo que sua incidência esteja realmente relacionada com o zika (o vírus já está presente em 18 estados brasileiros). Até então, o zika era considerado um vírus brando, causando somente mal-estar nos pacientes e manchas pelo corpo.
Outros dados apresentados hoje mostram que os casos de dengue também dispararam no país. Foram 1,5 milhão de pessoas diagnosticadas com a doença até 14/11, um aumento de 176% em relação ao mesmo período do ano passado. O maior número de casos registrados foi no Sudeste (63,6%), seguido pelo Nordeste e Centro-Oeste.
Foto: U.S. Departament of Agriculture Photostream/Creative Commons/Flickr