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Casamento entre jornalista muçulmana e ator judeu causa reações de radicais e simpatizantes

Não é a primeira vez que a união entre judeus e muçulmanos provoca reações em Israel. Em 2014, o casamento entre um muçulmano e uma judia convertida, em Jaffa, Telaviv, foi interrompido pelo grito de ódio de manifestantes que atenderam o apelo da organização de ultradireita Lehava. Com um detalhe: Jaffa é um bairro popular onde judeus e árabes israelenses convivem pacificamente. Mas, na semana passada, talvez pelo fato de os noivos serem populares, as reações tenham sido mais pacíficas do que neste e em outros casos.

Tsahi Halevi, de 43 anos, é conhecido mundialmente por atuar na série Fauda (Caos, em português) da Netflix, que aborda o conflito entre palestinos e israelenses e, de acordo com os críticos, foca na dimensão humana de todos os personagens. Lucy Aharish, de 37 anos, apresenta um programa em hebreu na TV israelita.

Para não sofrerem retaliações, nem provocar reações radicais, ambos mantiveram segredo até o último instante antes do casamento, realizado na quarta, 10/10. Mas, à noite, já estavam entre os destaques dos noticiários na televisão e na internet.

E rapidamente vieram as manifestações de desagravo. Não do povo, mas de políticos e religiosos. O ultraortodoxo ministro do interior, Arie Déry, se declarou contra a união na rádio militar, dizendo, entre outras coisas, que “é uma calamidade”. O líder da organização que incitou a população contra a união de quatro anos atrás, Bentzi Gopstein, declarou-se preocupado com o futuro dos filhos do casal, apelando para que Tsahi preservasse “a dignidade do povo judeu”. E o deputado Oren Hazan disse que esperava que o noivo se convertesse ao Islamismo.

Inacreditável que isso aconteça nos dias de hoje, mas grande parte dos judeus é contra casamentos mistos por temer a “assimilação”, ou seja, a mistura entre as duas religiões e suas culturas, que afeta principalmente seus descendentes. Imagina os radicais.

Lembrando os “danos” da assimilação, Déry convidou a jornalista à conversão ao Judaísmo. Lucy é árabe com cidadania israelita e integra cerca de 17% da população que vive em Israel. Em seu perfil no Facebook, ela declarou que foi educada num ambiente judeu, mas celebra tanto feriados judeus como muçulmanos.

Em sua declaração pela radio militar, Déry enfatizou a perda do direito de seus futuros filhos de serem reconhecidos como membros de sua religião por nascimento, que no Judaísmo somente a mãe pode transmitir. Reconheceu que se trata de um casal apaixonado, mas alertou que “seus filhos enfrentarão problemas por causa de sua condição”.

No Twitter, o deputado Hazan ainda insinuou que Lucy havia “seduzido um judeu para fragilizar Israel e impedir descendentes judeus de continuarem sua dinastia”.

Mas ainda bem que as reações à união de Lucy e Tsahi não foram apenas agressivas e recheadas de insultos. Nas redes sociais, boa parte das mensagens foi carinhosa e de respeito. Colegas de Hazan no Parlamento, Shelly Yachimovich e Stav Shaffir, do partido trabalhista, e a deputada de centro-direita Meirav Ben Ari,  também se manifestaram.

Shelly desejou felicidades “ao maravilhoso casal” e lembrou de uma metáfora da história de Harry Poter, de J.K. Rowling para incentivá-los. “Não deixem que os Devoradores da Morte (que seguem Voldemort, o vilão dos livros) acreditem que só os mágicos puro sangue possam existir e que só exista o direito a casar-se com um Muggle (que não é mágico)”.

Stav provocou o deputado conservador: “Lucy Aharish percebe melhor o que quer dizer ser judeu que aquele que escreveu um ‘tweet’ racista e que causa náuseas”. E Meirav bradou Mabrouk, que significa parabéns, em árabe.

O casal estava junto há quatro anos. Lucy brincou que, com o casamento, os dois assinaram “um acordo de paz”.

Quem sabe se, justamente por serem muito conhecidos e respeitados no país, sua união celebre o inicio de um período de mais tolerância e mais amor entre os dois povos.

Com informações do Observador, O Globo e El País

Foto: Reprodução Facebook

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Sandra
Sandra
5 anos atrás

Só mesmo o amor verdadeiro é capaz de quebrar algemas de preconceitos, desatando nós da ignorância e derrubando fronteiras político religiosas de qualquer espécie. A Terra seria mais evoluída sem religiões, dogmas, conflitos, desavenças, perseguições e guerras fratricidas alimentadas com o combustível do ódio de antepassados legado aos bebês de hoje. No entanto bebês não chegam odiando ou perseguindo, chegam em paz, pena que adultos estejam ocupados demais para aprender isso. Não se pergunta de quem é a mão estendida para salvar o náufrago da morte nem de onde vem a respiração boca a boca para restaurar o moribundo,sinalizando que o fato de sermos parte da espécie humana nos deveria importar mais do que tudo, mais importa menos do que nada.

Paulo Vitor
Paulo Vitor
4 anos atrás
Reply to  Sandra

E você se acha muito tolerante dizendo que o mundo seria mais evoluído sem religiões, ou seja, você acha que os ateus são superiores, é melhor eu te informar que as ditaduras comunistas atéias do século 20 mataram mais de 100 milhões de pessoas, então é melhor você deixar de ser preconceituosa contra as Religiões.

Waina Ferreira Miranda
Waina Ferreira Miranda
5 meses atrás

Estou assistindo a série Fauda, esse Ator está presente na série, mas ele é muito cara de Árabe, gente rs.

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