Um sinal vermelho foi dado ontem por pesquisadores internacionais para salsichas, linguiças, bacon, presuntos, embutidos e carnes enlatadas. Que estes tipos de alimentos não são saudáveis, não é novidade para ninguém. Mas a notícia agora é que eles podem ser muito prejudiciais à saúde, se ingeridos em excesso.
A Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou documento* ontem (26/10), em que alerta sobre os riscos do consumo abusivo de carne vermelha e sobretudo, carnes processadas, aquelas que são resultado de um processo de transformação que utiliza sal, fermentação, aditivos químicos e defumação para realçar o sabor ou aumentar o tempo de preservação.
A IARC classificou as carnes processadas no grupo 1 de carcinogênicos, o mesmo a que pertencem fumo, bebidas alcóolicas e poluição do ar.
O relatório afirma que carnes processadas podem causar câncer ao ser humano, sobretudo, o colorretal. Os especialistas apontam que o consumo de 50 gramas de carne processada diariamente, o equivalente a duas fatias de bacon, pode aumentar o risco do desenvolvimento da doença em até 18%.
“Para um indivíduo, o risco de ter câncer colorretal devido ao consumo de carnes processadas ainda é baixo, mas aumenta com a quantidade ingerida”, destacou Kurt Straif, responsável pela área de pesquisas da IARC. “Como há uma grande porcentagem de pessoas que comem este tipo de comida, o impacto global da incidência deste tipo de câncer tem importância para o sistema público de saúde”.
O câncer colorretal é um dos que têm maior incidência sobre a população mundial. É hoje o segundo mais diagnosticado em mulheres e o terceiro em homens. Foram 694 mil mortes em 2012, segundo dados da OMS.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), referência no Brasil sobre o assunto, este tipo da doença abrange tumores que acometem um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto. Se detectado precocemente, é tratável e curável. No ano passado, a estimativa é que no país fossem registrados 32 mil novos casos. Em 2013, 15 mil brasileiros morreram devido ao câncer colorretal.
Para elaborar o relatório internacional, 22 especialistas de dez países analisaram mais de 800 trabalhos científicos publicados nos últimos anos, que associavam o aparecimento do câncer com a ingestão destes alimentos. O estudo avaliou também o risco cancerígeno do consumo da carne vermelha (boi, porco, carneiro, bode e cavalo), mas ainda há evidências limitadas sobre esta outra questão.
O consumo de embutidos e carne vermelha varia muito de país a país. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, bacon faz parte do prato do café da manhã, mas felizmente, no Brasil, ele não é muito utilizado. Nos países de descendência germânica, o salsichão é bastante popular.
“Estes achados suportam ainda mais as atuais recomendações de saúde pública para limitar a ingestão de carne”, declarou Christopher Wild, diretor da IARC. “Entretanto, a carne vermelha possui importante valor nutricional. Portanto, o estudo é importante para auxiliar governos e agências reguladoras internacionais na realização de avaliações de risco, a fim de equacionar riscos e benefícios de comer carne vermelha e processada, e para fornecer as melhores recomendações possíveis”.
Na dúvida, sempre o melhor é usar o bom senso. Um prato colorido e equilibrado é o ideal, com muitas verduras e legumes. E fazer exercícios físicos. Sempre.
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*Evaluation of comsuption of red meat and processed meat
Foto: domínio público/pixabay