Campanha denuncia publicidade infantil abusiva do McLanche Feliz

Campanha denuncia publicidade infantil abusiva do McLanche Feliz

Em uma pesquisa realizada no Brasil, em 2016, 60% dos entrevistados afirmaram ser contra qualquer tipo de publicidade para as crianças (até 12 anos) e o uso de personagens infantis em embalagens para o público desta faixa etária. O levantamento, feito pelo Instituto DataFolha, revelava como a maioria dos brasileiros se sente em relação à falta de regulamentação mais rígida no país sobre a propaganda que tem como foco menores de idade.

Agora uma campanha lançada pelo programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, convida pais e mães de todo Brasil a denunciar a publicidade da cadeia multinacional de fast food McDonald’s direcionada a crianças. O objetivo da iniciativa é facilitar, através de uma petição online, o encaminhamento de queixas sobre a venda casada de brinquedos e sanduíches para a Secretaria Nacional de Relações do Consumidor do Ministério da Justiça.

O slogan da campanha “Abusivo tudo isso” é uma clara alusão a “Amo muito tudo isso”, utilizada pelo McDonald’s.

Apesar de já há alguns anos a empresa não oferecer mais o brinquedo juntamente com o lanche, em um preço fechado, – depois de ceder a pressões e enfrentar ações judiciais em torno do McLanche Feliz – ainda assim, os consumidores, e principalmente as crianças, têm a possibilidade de adquirir o brinquedo separadamente, por um valor bem baixo, o que continua incentivando o desejo de consumo.

Segundo o Instituto Alana, que advoga pelos direitos das crianças, a ideia para a realização da ação foi inspirada na atitude de Wêsley Henrique de Assis, um pai do Distrito Federal, que fez uma denúncia ao Ministério Público contra a cadeia de fast food.

“Eu e meus filhos somos vítimas dessa publicidade. Eu ainda consigo de vez em quando comprar o brinquedo. E as crianças que assistem à propaganda, mas não podem comprar?”, disse em entrevista, ao site O Joio e o Trigo.

O texto da petição online afirma:

A oferta de brinquedos para estimular o consumo excessivo e habitual de produtos alimentícios com altos teores de sódio, açúcar e gorduras é extremamente prejudicial à saúde das crianças. A obesidade infantil e as doenças crônicas associadas se tornaram um dos maiores problemas de saúde pública no país. Sem uma mudança de hábitos e práticas de mercado, em menos de uma década, a obesidade pode atingir 11,3 milhões de crianças no Brasil.

Além disso, o fato de esses brinquedos serem exclusivos, efêmeros e colecionáveis faz com que a criança seja incentivada a consumir uma grande quantidade de “promoções” no curto espaço de tempo. Depois de conseguir o primeiro brinquedo da série, em geral, a criança quer completar a coleção. E depois a seguinte. E outra…

Tão grave quanto praticar a venda casada efetivamente é realizá-la de maneira velada, transmitindo ao consumidor, por um lado, a falsa sensação de que tem autonomia para adquirir o brinquedo separadamente e, por outro, induzindo-o a acreditar que a oferta do combo lhe é vantajosa por “ganhar” o brinquedo, o que claramente não é verdade.

Para as crianças, o estímulo é incontestável e enorme! Esse tipo de estratégia funciona bem com o público infantil, porque a criança sente-se atraída por opções que resultam em ganhos imediatos, como o brinquedo atrelado à compra de um produto – instantâneo e palpável.

A criança, pessoa com até 12 anos de idade, está em uma peculiar fase de desenvolvimento físico, cognitivo, social e psíquico, de modo que ainda não tem o discernimento necessário para distinguir ficção de realidade, nem compreender o caráter persuasivo da publicidade, sendo, por isso, facilmente influenciada pela mensagem comercial, o que a torna presumidamente hipervulnerável nas relações de consumo e frente às mensagens publicitárias”.

A campanha ressalta que, no Brasil, a publicidade direcionada à crianças já é considerada abusiva e, portanto, ilegal pelo Código de Defesa do Consumidor, entendimento reforçado pela Resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Todavia, algumas empresas ainda usam subterfúgios para fazê-la.

A brasileira Arcos Dourados é a maior franqueadora independente do McDonald’s do mundo. Possui os direitos de operar e conceder franquias para outras lojas da rede em 20 países da América Latina e Caribe.

Ou seja, ela tem em suas mãos uma responsabilidade gigantesca sobre as sociedades onde atua.

Se você é contra esta prática, acredita que menores de 12 anos ainda não têm maturidade para discernir as estratégias da publicidade e acha que a venda de brinquedos não deve estar associada à alimentação infantil, assine já a petição online neste link.

#AbusivoTudoIsso

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Imagem: divulgação Instituto Alana

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.