Café agroecológico e solidário na Amazônia brasileira

“Entre Matas”. Essa expressão, capaz de aguçar um tantão da nossa capacidade imaginativa, dá nome à marca de produtos da Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua, a Coocaram, localizada em Ji-Paraná, na Amazônia Ocidental Brasileira.

No estado de Rondônia, à sombra da floresta, centenas de cooperados e cooperadas produzem e/ou beneficiam café guaraná e Castanha do Brasil, em quatro mil hectares de floresta amazônica protegida. Cerca de 30% das propriedades dos agricultores familiares são agroecológicas, certificadas pela Ecocert.

Os primeiros agricultores agroecológicos da Coocaram já trabalham dessa forma há mais de duas décadas. A cada ano, novos se unem a eles, notando na prática as diferenças e a qualidade de vida que a agroecologia traz para suas vidas e para o meio ambiente.

Além da produção agrícola, a Cooperativa possui uma indústria de beneficiamento para torrar e moer café e uma unidade de processamento de guaraná em pó. E em parceria com povos indígenas da região, por meio do Projeto Pacto das Águas, começou a comercializar a castanha do Brasil.

Hoje, toda produção do café é cultivada por pequenos agricultores familiares em áreas que variam entre dois e dez hectares. Toda a produção é certificada como comércio justo, e parte dela também possui certificação orgânica. E mais: o processo industrial de torrefação e moagem do café está entre os mais modernos do estado de Rondônia.

Já a produção de guaraná é um processo bastante delicado, que exige muitos cuidados para a manutenção das plantas e a produção de apenas um quilo de guaraná por arbusto. Os agricultores e agricultoras realizam o cultivo, a colheita e o processo de torra do guaraná, que é então enviado para a Coocaram para estocagem, moagem e empacotamento.

A Castanha do Brasil é produzida a partir das melhores práticas e certificada organicamente. O produto é resultado de uma parceria entre agricultores familiares, povos indígenas e seringueiros da Amazônia, nos estados de Mato Grosso e Rondônia. A venda contribui para a conservação de milhões de hectares de floresta e para que agricultores, seringueiros e povos indígenas recebam remuneração justa por seu trabalho.

O café sombreado

A cultura do café na região central de Rondônia acontece desde as décadas de 1960 e 1970. Inicialmente, a espécie cultivada era a arábica, que mais tarde foi substituída pela robusta, devido à melhor adaptação. A cafeicultura, ainda hoje, é a principal atividade de muitos agricultores e agricultoras familiares no estado.

A experiência de produção do modelo agroecológico da cafeicultura sombreada tem sido muito bem-sucedida. O modelo vem sendo desenvolvido e aplicado há mais de 20 anos por produtores ligados ao Projeto Padre Ezequiel (PPE) da diocese de Ji-Paraná e à Coocaram. Mesmo com uma menor incidência de chuva no período da floração do café, o sombreamento proporciona produção superior à do modelo da monocultura por manter a umidade retida no solo por mais tempo.

Esse modelo também apresenta baixa incidência de broca do café, melhor equilíbrio do solo, maior capacidade de absorção de água, poucos problemas com ataques e insetos e, em especial, permite que as pessoas trabalhem na sombra. Entre as espécies arbóreas que mais favorecem a cultura do café estão o ingá e a embaúba.

Mais de 30% dos cooperados e cooperadas da Coocaram já cultivam o café dessa forma. As principais experiências estão localizadas nos municípios de São Miguel do Guaporé, Ministro Andreazza, Ouro Preto d’Oeste, Vale do Paraíso, Mirante da Serra e Alto Paraíso.

Conheça um pouco mais sobre a Coocaram no vídeo a seguir:

Foto: Unsplash/Pospmoke-vets

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.