Enquanto escrevo este texto, na manhã de domingo, há 37 mortes confirmadas e mais de 300 desaparecidos. E o perigo continua. Às 5h30 da manhã, fomos todos acordados por sirenes e gritos de agentes públicos para que moradores das partes mais baixas de Brumadinho deixassem suas casas, procurando abrigo nas partes mais altas. Acreditava-se que uma nova barragem havia se rompido. Apesar do alarme falso, há de fato um risco iminente de que a barragem VI, que comporta de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de água, se rompa, destruindo partes não atingidas pelos rejeitos. Ou seja, o drama das pessoas daqui está longe de acabar: para quem sobreviveu à tragédia, o medo é outro sentimento com o qual precisam lidar.Assim como o Pico do Cauê retratado nos poemas do mineiro Carlos Drummond de Andrade não existe mais, Córrego do Feijão desapareceu do mapa. O que há em comum entre uma montanha que virou cratera e uma comunidade soterrada por lama tóxica não é apenas a mineração, mas também a ganância.

Os impactos do crime ambiental cometido pela Vale em Brumadinho ainda estão se desenrolando. Há a probabilidade de que a lama se estenda até 220 quilômetros do local, e que possa ser retida na Usina Hidrelétrica (UHE) de Retiro Baixo, entre Curvelo e Pompéu. Caso contrário, ela pode chegar ao Rio São Francisco. Embora ainda não seja possível saber o impacto total, já se identifica uma grande mortandade de peixes. Os rejeitos da Vale já destruíram a porção do Rio Paraopeba que corta a Terra Indígena Pataxó Hã-hã-hãe. Para entender a dimensão dos impactos e as formas de mitigá-los serão necessárias muitas pesquisas, como as que o Greenpeace ajudou a realizar em Mariana.

Este é um texto que eu não gostaria de estar escrevendo. Essa não é a Brumadinho que eu gostaria de estar retratando. Mas enquanto houver casos de impunidade e injustiça social, seguiremos denunciando e fazendo pressão para que os culpados sejam devidamente punidos e as vítimas, reparadas. E para que o meio ambiente seja, de uma vez por todas, respeitado.

*Mariana Campos é jornalista do Greenpeace Brasil em Brasília. Colabora na campanha contra agrotóxicos, é vegana e gosta de andar descalça na floresta. Começou a abraçar árvores ainda criança e não parou mais.

*Texto publicado originalmente em 27/01/2019 no site do Greenpeace Brasil

Leia também:
Brumadinho: um ‘Vale’ de mortes, de desaparecidos e de impacto ambiental

Fotos: divulgação Greenpeace/Fernanda Ligabue (abertura), Nilmar Lage e bombeiros (demais)