Brasileiro gostaria de viver mais perto da natureza, revela pesquisa

Sim, cuidar das Unidades de Conservação é papel do governo, mas também responsabilidade dos cidadãos. Além disso, poluição e desmatamento são as piores ameaças à natureza para os brasileiros, que gostariam de viver mais perto do verde.

Isto é o que destaca a pesquisa encomendada pelo WWF Brasil ao Ibope Inteligência, que ouviu pessoas com mais de 16 anos, de diferentes classes sociais, moradoras de diversas regiões do país, entre os dias 21 e 26 de junho.

O WWF-Brasil queria saber o que o brasileiro pensa, hoje, sobre as áreas protegidas (será que o brasileiro sabe o que é isso? e o que é unidade de conservação?) e o meio ambiente, dando continuidade à pesquisa realizada em outubro de 2014. E escolheu lança-la este mês para celebrar os dias da Amazônia (5) e do Cerrado (11, hoje) porque são dois biomas muito ameaçados pelo desmatamento.

Pra se ter ideia disso, veja os dados do Prodes, projeto de monitoramento do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) que atua na Amazônia Legal e, desde 2017, no Cerrado também.

Na Amazônia, a cada dois meses, uma área equivalente ao estado do Rio de Janeiro (6.947 km²/ano) é desmatada. Em agosto, foi 27% maior do que no mesmo mês no ano passado. Já, no Cerrado, são quase dois campos de futebol ((7.408 km²/ano) por minuto: desmatamento nesse bioma subiu 9% em 2017. E, como já noticiamos, aqui, no Conexão Planeta, desmatamento no Cerrado supera o da Amazônia.

Os brasileiros entrevistados parecem estar mais atentos a essa realidade do que há quatro anos: hoje, de dez, nove dizem que a natureza não está sendo protegida de forma adequada. São 91%. Em 2014, 82% acreditavam nisso.

Compromisso do governo, mas da população também

As mudanças climáticas causadas pelo aquecimento da Terra são a terceira maior preocupação dos entrevistados (16%), juntamente com a caça e a pesca ilegais. E as maiores ameaças à natureza? Como já anunciei no início deste texto, são desmatamento e poluição das águas! Em 2018, a percepção é a mesma de quatro anos atrás, com 27% e 26% de menções, respectivamente. E os grandes causadores? As hidrelétricas, as rodovias e os portos, com 15%, ou seja, as obras de infraestrutura.

Por mais que considerem o governo como o grande responsável pela proteção das unidades de conservação (72% de citações), a pesquisa identifica que o percentual de brasileiros que também responsabiliza os próprios cidadãos por isso – ou seja, considera que eles também deveriam cuidar de parques, reservas e florestas nacionais – cresceu 20%. De 46% em 2014, saltou para 66%. Por conta disso, o desafio maior, aqui, é promover maior conscientização e mobilização da população sobre temas ambientais.

E, ainda neste quesito, as ONGs civis também são lembradas: 23% acredita que elas atuam com firmeza em defesa das causas ambientais.

Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, resume o resultado da pesquisa: “A grande maioria dos brasileiros espera maior compromisso do poder público na proteção da natureza e por uma melhor qualidade de vida. E uma solução depende da outra: estão intrinsecamente ligadas quando buscamos, por exemplo, melhor qualidade do ar e menos poluição da água”. E ele completa: “Mas a pesquisa mostra também que as pessoas acreditam que devem participar mais do cuidado com a natureza e se preocupam com o desmatamento, indicando que o apoio da população na defesa das áreas protegidas do país pode crescer”.

Meio ambiente e riquezas naturais: orgulho nacional

Há quatro anos, 58% dos brasileiros entrevistados sentiam orgulho do meio ambiente e de nossas riquezas naturais. Mas, em 2018, esse número caiu para 39%. Com razão, como sabemos. Além disso, o momento político, econômico, ambiental e social, pelo qual passa o país, com certeza impactou esses números.

Mas, apesar da queda na avaliação dos atributos relacionados aos motivos de orgulho, o meio ambiente e as riquezas naturais brasileiras continuam em posição de destaque, representando 39% das menções. Em seguida, estão a qualidade de vida (30%), a diversidade da população/cultura (26%) e o esporte (23%).

Proximidade do verde? Mais quando viaja

Quando apresentada uma lista de possíveis benefícios que as Unidades de Conservação geram para a sociedade (chamados de serviços ambientais), o mais facilmente identificado foi a melhoria qualidade do ar (51%), seguido da proteção de nascentes e rios (45%) e da proteção de animais e plantas (44%), mantendo, assim, sua rica diversidade. Mas ficou claro que a percepção da ligação entre benefícios e proteção da natureza (seja animais e plantas, ou nascentes e rios) é muito baixa e apresentou queda de 2014 pra cá.

A lista da pesquisa também incluiu lazer (31%), geração de renda para a população local (26%) e fornecimento de madeira (8%), que os entrevistados consideram importantes nesse ranking. E aqui, também, as porcentagens deste ano são menores do que na pesquisa anterior. Como comentado acima, falta conscientização e mobilização e é nesta estratégia que o governo, além de ativistas e ONGs ambientais, devem investir, promovendo campanhas.

É fato que os brasileiros valorizam a natureza quando pensam em viajar, querem paisagens naturais belíssimas e, esse desejo subiu 20% de 2014 para 2018. Mas, mais da metade dos entrevistados está insatisfeita com as áreas verdes em suas cidades, apesar de que 52% realiza atividades junto à natureza com frequência.

Gráficos: WWF-Brasil / Foto: Pixabay (domínio público)

Um comentário em “Brasileiro gostaria de viver mais perto da natureza, revela pesquisa

  • 11 de setembro de 2018 em 11:17 PM
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    Excelente matéria!

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.