Brasil perdeu 2,5 Alemanhas em florestas em 34 anos

Brasil perdeu 2,5 Alemanhas em florestas em 34 anos

Um dado divulgado na semana passada, em Brasília, dá a dimensão da idiotice que políticos brasileiros cometem quando mandam, por exemplo, a chanceler Angela Merkel “reflorestar a Alemanha”. O maior esforço já feito de mapeamento de vegetação do Brasil mostrou que, em apenas 34 anos, nosso país perdeu em florestas o equivalente a duas vezes e meia o território alemão.

Foram 89 milhões de hectares (890 mil quilômetros quadrados) de vegetação nativa perdidos entre 1985 e 2018, segundo o projeto MapBiomas, que lançou sua quarta coleção de mapas.

A Alemanha, que derruba florestas desde antes do Império Romano e é o país mais rico da Europa, não acabou com as suas.

Iniciativa do Observatório do Clima, o MapBiomas reúne duas dezenas de ONGs, universidades e empresas de tecnologia para mapear todas as mudanças de uso e cobertura do solo ocorridas no Brasil desde o ano da redemocratização. Cada pedaço de 30m x 30m do território nacional tem sua história contada por imagens de satélite.

As florestas do Brasil recuaram de 587 milhões de hectares em 1985 para 505 milhões no ano passado. Mais de metade dessa perda – 47 milhões de hectares – ocorreu na Amazônia. A vegetação não-florestal, como campos naturais e mangues, recuou de 71 milhões para 64 milhões de hectares. Já a agropecuária cresceu de 174 milhões de hectares para 260 milhões.

Hoje o Brasil ocupa com lavoura e pastagem uma área quase equivalente a todo o território da Argentina (incluindo desertos, montanhas e geleiras). Há quem ache que é pouco.

“Quando somado às queimadas, o desmatamento gera maior emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e diminui o sequestro de carbono, fundamental para reduzir a concentração destes gases na atmosfera e sem o qual não será possível limitar o aquecimento global abaixo de 2oC”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador técnico do OC e do MapBiomas.

O MapBiomas monitora ainda mudanças no modo de produzir no Brasil, nota, por exemplo, que a área de pastagens parou de crescer no país por volta de 2005 e vem caindo nos últimos anos. “Isso se deve à expansão da agricultura sobre áreas de pastagem”, afirma Azevedo. Ou seja, a produtividade da pecuária em algumas regiões aumentou.

O surto de construção de hidrelétricas também fez com que aumentasse a área do Brasil ocupada por corpos d’água – em 3 milhões de hectares. A área com mineração mais do que triplicou, assim como a infraestrutura urbana.

*Texto publicado originalmente em 29/08/19 no site do Observatório do Clima

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Foto: Marcos Vergueiro/SECOMMT/Fotos Públicas

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Observatório do Clima

Fundado em 2002, o OC é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil