Brasil ganha três áreas protegidas na Amazônia e na Caatinga

É fato que, todos os anos, há pouco o que celebrar no dia do Meio Ambiente, 5 de junho, pelo mundo. As notícias sobre tentativas de impactar a naturezaflorestas, mares, ares, animais, todo o ecossistema do qual fazemos parte – não param. Mas, exatamente nesse dia Temer resolveu brindar os brasileiros com a assinatura de três decretos, instituindo novas áreas protegidas: uma reserva extrativista entre Roraima e Amazonas e um refúgio e uma área ambiental para a recuperação e a proteção das acarinhas-azuis no norte da Bahia.

E vou ser maldosa, desculpe: talvez tenha sido para amenizar as bobagens que seu governo e o Congresso vêm fazendo, de forma constante, para privilegiar o mercado. Ou queria nos distrair das que estão sendo feitas, como a votação de um projeto de lei que libera a caça de animais silvestres no país. O PL 6268/2006- de autoria de Valdir Colatto (PMDB/SC) e apoiado pelas bancadas ruralista e da bala – ia ser votado ontem, 6/6, mas foi substituído por outro, de maior interesse para a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: o lançamento do Plano Safra 2018 para apoiar agricultores, mas não a agricultura familiar, claro.

Mas, enfim, vamos saber um pouco sobre as áreas que, agora, estão mais protegidas da predação humana.

Reserva extrativista, sonho realizado

Uma das áreas agora protegidas é a Reserva Extrativista (Resex) Baixo Rio Branco-Jauaperi, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. Era um sonho antigo das comunidades de Santa Maria, Vila da Cota, Remanso e Xixuaú, que reivindicavam seu decreto desde 2001! Não faltaram procedimentos e trabalhos técnicos para apoiar o processo, mas este só chegou ao governo em 2006 e agora, finalmente, foi assinado.

A área tem 581 mil hectares e envolve os municípios de Rorainópolis (RR) e Novo Airão (AM), onde os rios Branco e Jauaperi se encontram. Os indígenas Waimiri-Atroari são seus vizinhos.

De acordo com o governo – o Ministério do Meio Ambiente, pra ser mais exata -, a medida garantirá a conservação e o manejo sustentável da floresta pelas comunidades tradicionais, que tira seu sustento com açaí, buriti, pupunha, castanha-do-Brasil, andiroba, taperebá, cipó, cupuaçu, massaranduba, bacaba e patuá. Também visa proteger os estoques pesqueiros, tão essenciais para as comunidades dessa região amazônica. Nesse trecho da floresta, a prática da pesca predatória e comercial é uma constante. Também pudera! Veja a variedade de peixes presente são o pacu, o tucunaré, a piranha, acari, o jaraqui, bodó-pintado e o barbado.

A riqueza da biodiversidade da flora e da fauna na área ocupada pela Resex Baixo Rio Branco-Jauaperi é gigante, por isso ela é tão visada. Além das especiais vegetais que citei acima, há estudos que indicam que vivem na região, pelo menos, 42 espécies de mamíferos, sendo que, desses, dez fazem parte da lista oficial de mamíferos ameaçados de extinção. Entre os bichos mais típicos da reserva estão a jaguatirica, a onça-parda, o tamanduá, peixe-boi e quelônios como a tartaruga-da-Amazônia, o tracajá e a irapuca.

Tudo pelas ararinhas azuis

As outras duas áreas de proteção ambiental estão no norte da Bahia, entre Juazeiro e Curaçá. Uma mede quase 30 mil hectares e é um Refúgio de Vida Silvestre (Revis). A outra tem pouco mais de 90 mil hectares e é uma Área de Proteção Ambiental (APA), ou seja, uma área preservada, mas que permite o acesso a empreendimentos de turismo e comercialização de terras. Ambas visam a reintrodução da Ararinha-Azul (Cyanopsitta spixii), ave típica dessa região, que integra a Caatinga.

A criação dessas duas áreas faz parte da primeira etapa de um plano que ainda prevê a construção de um Centro de Reintrodução e Reprodução da Ararinha-Azul na cidade de Curaçá, onde vivia livre o último exemplar da espécie: um macho que desapareceu em 2000.

Hoje, restam apenas 128 indivíduos, mantidos em cativeiro, a maioria no Catar e na Alemanha. Com este projeto, a intenção é reintroduzir a Ararinha-Azul em seu habitat natural. Para tanto, os pesquisadores brasileiros contam com esforço técnico e científico internacional.

O Centro será construído por causa de uma grande parceria entre a Fazenda Cachoeira e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Brasil, e instituições do Catar, da Alemanha, dos EUA e de Singapura: Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP), Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), Parrots International e Jurong Bird Park.

Também faz parte da estratégia trabalhar com as comunidades que vivem na região e promover atividades agropastoris de forma sustentável, beneficiando as espécies nativas que dão suporte à permanência da Ararinha Azul naquele ambiente.

A ararinha-azul mantinha estreita associação com as matas de galeria dominadas por caraibeiras (Tabebuia aurea), usando essa árvore para abrigo, nidificação e alimentação, na bacia do rio Curaçá, afluente do rio São Francisco.

Agora, assista ao vídeo sobre o projeto da ararinha-azul:

Fontes: ICMBio e WWF Brasil

Fotos: Marcus Romero/ICMBio (ararinha-azul) e Zig Koch/WWF (reserva extrativista)

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.