Boto do Araguaia produz mais de 230 sons diferentes para se comunicar

Boto do araguaia produz mais de 230 sons diferentes para se comunicar

Foi há apenas cinco anos, em 2014, que uma nova espécie de boto foi registrada no Brasil, o boto do Araguaia. O Inia araguaiaensis vive na região da bacia do Araguaia, daí seu nome popular. O rio banha os estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.

Até então, na Amazônia, eram conhecidas somente outras duas espécies de golfinhos de água doce. Análises revelaram que o novo boto tinha um DNA diferente dos demais e que, provavelmente, separou-se geneticamente das outras espécies de golfinhos, há mais de dois milhões de anos. Acreditava-se que o animal tinha hábitos de vida solitários e eram pouco sociáveis.

Todavia, um novo estudo, divulgado recentemente na publicação britânica PeerJ, com a participação de diversos biólogos brasileiros, revelou que a espécie é pra lá de comunicativa. O boto do Araguaia emite 237 sons diferentes.

O mais comum deles foi registrado quando havia a presença de filhotes, o que sugere uma comunicação importante entre a mãe e suas crias.

“Nossas descobertas mostram que o repertório acústico desses animais é muito complexo. As estruturas acústicas são similares àquelas produzidas por orcas e baleias-piloto. Descobrir o contexto em que esses sinais são produzidos pode ajudar a compreender a estrutura social das espécies e o contribuir para a compreensão da evolução da comunicação acústica nas baleias”, afirmam os pesquisadores no artigo.

Os cientistas explicam que os sons emitidos pelos botos são diferentes dos assobios dos golfinhos. Os ruídos dos primeiros tendem a ser mais longos.

“Há muitos obstáculos, como florestas inundadas e vegetação em seu habitat, então esse sinal pode ter evoluído para evitar ecos da vegetação e melhorar o alcance de comunicação das mães e seus filhotes”, diz Laura Collado, da Universidade de Vermont.

Mães e filhotes apresentam comunicação diferenciada

Para o estudo, foram utilizados microfones e câmeras subaquáticos, instalados próximos às águas da área do mercado de peixe do município de Mocajuba, no Pará, onde os botos do Araguaia costumam buscar alimentos.

Os pesquisadores pretendem comparar agora os padrões de comunicação dos botos analisados com aqueles que vivem em áreas mais afastadas da presença humana.

Espécies raras e ameaçadas

Conhecidos como os “Embaixadores dos Rios da Amazônia”, os botos são excelentes indicadores da qualidade da água e do equilíbrio dos rios. No mundo todo, há oito espécies deste animal. Mas é no Brasil que se encontra a maior população de botos do planeta.

A região da Floresta Amazônica é habitat de três espécies destes mamíferos aquáticos: o boto cor-de-rosa (Inia geoffrensis, também conhecido como boto-vermelho) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis), além do boto do araguaia.

Entre as maiores ameaças aos botos na Amazônia estão a construção de usinas hidrelétricas, que acabam com a conexão entre os rios, a caça pela demanda de iscas (carne) para a pesca da piracatinga (Calophysus macropterus) e a mineração.

O boto do Araguaia: raro e muito conversador

Fotos: Gabriel Melo-Santos/ University of St Andrews/BioMA e Wikimedia commons

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.