Minha carreira como fotógrafo foi impulsionada pelo período de cinco anos que passei trabalhando como guia de ecoturismo no Pantanal, de 1994 a 1999. Como o lugar era muito procurado por fotógrafos do mundo todo, eu frequentemente os acompanhava e aproveitava para aprender – e, às vezes, praticar. Dentre os tantos profissionais com quem trabalhei, foram marcantes os dias que passei com o alemão Fritz Pölking e seu colega Uwe, em 1997.
Para mim, Pölking – nascido em 1936, mesmo ano que meu pai – reunia todas as características de um bom fotógrafo de natureza: atento, paciente, meticuloso, respeitoso com as coisas da natureza e muito bacana como pessoa.
Foi com ele que, pela primeira vez, observei as borboletas pousando na cabeça dos jacarés em busca dos minerais presentes em suas lágrimas. Nesta ocasião, ele fez uma sequência de imagens incríveis, que em um de seus livros batizou criativamente de “A Bela e a Fera”. Como na época minha obrigação era atendê-lo como assistente, eu nem tive a oportunidade de fotografar a cena, que ficou na minha mente por um longo tempo.
Alguns anos depois, em 2000, eu havia saído do Pantanal e trabalhava na Estância Mimosa, em Bonito (MS). Já com um equipamento fotográfico melhor, minha chance apareceu na lagoa habitada por jacarés ao lado da sede da fazenda. Fiz algumas fotos, das quais a minha preferida é esta da postagem, e fiquei lembrando de Pölking.
Quando eu a exibi em algumas exposições fotográficas também a intitulei “A Bela e a Fera”, explicando na legenda o motivo do nome. Nos anos seguintes, voltei a registrar cena parecida em diferentes locais e situações, mas esta continua como minha predileta – tanto pelo aspecto estético do reflexo na água, como pela história por trás da imagem.
Fritz Pölking faleceu em 2007, mas os momentos marcantes que passamos na natureza do Pantanal, há quase 20 anos, – junto com seu livro com o qual ele me presenteou na época – certamente permanecerão como uma das minhas referências na fotografia.
Foto: Daniel De Granville
