Ave rara e ameaçada de extinção, pato-mergulhão se reproduz naturalmente pela primeira vez, no Brasil, e no mundo


Ave rara e ameaçada de extinção, pato-mergulhão se reproduz naturalmente pela primeira vez, no Brasil, e no mundo

Como não se apaixonar pela imagem acima? Ainda mais quando ela representa a vitória do trabalho de conservação e parceria feito por diversos órgãos ambientais brasileiros.

Os quatro filhotinhos de pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) nasceram em julho, no Zooparque Itatiba, no estado de São Paulo. É a primeira vez, no Brasil e no mundo, que se registra o nascimento natural das aves, em cativeiro, sem interferência humana. Os ovos foram postos pela fêmea e incubados pelos próprios pais.

No ano passado, como noticiamos nesta outra reportagem, quatro outros filhotes tinham nascido no mesmo lugar, mas através de processo de reprodução assistida.

Para Alexandre Resende, veterinário do Zooparque, o nascimento desses filhotes junto à mãe é um indicativo eles podem sobreviver em seu habitat natural. “Como (os pais) foram criados longe dos pais naturais, tínhamos a dúvida de que seriam bons genitores, já que estes não estavam por perto para ensiná-los. Foi provado agora que não teremos problema quanto a isso”, destacou.

Filhotinhos nadando ao lado dos pais

Encontrado na Argentina, Paraguai e Brasil, o pato-mergulhão é uma espécie de ave aquática que, infelizmente, é considerada criticamente em perigo de extinção, de acordo com a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

No mundo todo estima-se que só restem 250 indivíduos livres na natureza. No Brasil, o pato-mergulhão pode ser observado nas regiões da Serra da Canastra e Patrocínio (MG), Chapada dos Veadeiros (GO) e no Jalapão (TO).

O Zooparque de Itatiba é o único no mundo que cria as aves – são 21 indivíduos adultos -, e tem um programa de conservação da espécie, parte do projeto PAN Pato-Mergulhão, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e com parceria e outras entidades, como a Associação Natureza do Futuro.

“Um projeto dessa relevância mostra como os zoológicos são importantes na conservação da fauna brasileira. Através da reprodução dessas espécies ameaçadas é possível ter um aumento em sua população e, futuramente, com parcerias, possibilitar a reintrodução dessas gerações nascidas sob cuidados humanos”, afirma Robert Kooij, diretor do Zooparque.

As ameaças ao pato-mergulhão

O Mergus octosetaceus é uma espécie que depende, para sua sobrevivência, de águas limpas e transparentes, com corredeiras e vegetação nas margens, e com abundância de peixes, seu principal alimento.

Seu nome – mergulhão -, vem justamente daí. A ave captura os peixes ao mergulhar, utilizando a visão. Por esta razão, ele é extremamente afetado pela degradação das águas. E foi por isso que a população de pato-mergulhão entrou em alarmante declínio no Brasil.

Veja abaixo*, quais foram os principais responsáveis pelo desaparecimento da ave em nosso país:

– destruição de matas ciliares e consequente perda de árvores de maior porte, e a degradação das margens e dos leitos dos cursos d’água;
– uso de pesticidas nas pastagens e lavouras, que são carregados para os cursos d’água;
– mineração, que impacta diretamente os cursos d’água e, consequentemente, sua fauna associada;
– construção de barragens, as quais modificam profundamente os ambientes aquáticos;
– atividades esportivas mal-planejadas realizadas ao longo dos cursos d´água.

Os novos moradores do Zooparque de Itatiba

*Informações Instituto Terra Brasilis

*Fonte: ICMBio

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Fotos: divulgação Zooparque Itatiba

Um comentário em “Ave rara e ameaçada de extinção, pato-mergulhão se reproduz naturalmente pela primeira vez, no Brasil, e no mundo

  • 31 de março de 2021 em 11:55 PM
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    Você deve estar muito orgulhoso do seu trabalho.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.