As múltiplas faces do caju cosmético

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Cajus são vistosos e gostosos, refrescantes no verão, cheios de vitamina C, além de uma boa dose das vitaminas A, B1, B2, B3, cálcio, ferro e potássio. A espécie – Anacardium occidentale – é nativa da região litorânea do Norte e Nordeste do Brasil. Tanto pode crescer até os 10 metros de altura, formando uma bela árvore copada de folhas largas, como permanecer mais mirradinha, praticamente um arbusto, dependendo das condições de solo e água.

Nos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia, é largamente cultivada, sendo o seu principal produto comercial a castanha (o verdadeiro fruto do cajueiro). O Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de castanha de caju, ao lado do Vietnã, Índia, Nigéria e Costa do Marfim. O suco industrializado ou em polpa do caju (o pseudofruto) é nosso segundo produto mais importante. Mas novos usos cosméticos do óleo da castanha, do extrato glicólico do caju e da goma do cajueiro prometem reforçar a renda dos produtores, viabilizando melhor aproveitamento da planta.

Não faltam pesquisas sobre essas aplicações cosméticas e já existem até linhas de produtos comerciais no mercado, embora vários dos múltiplos usos potenciais ainda precisem ser desenvolvidos. A L’Occitane au Brésil recentemente lançou sua linha Caju composta por um creme hidratante com ação firmadora da pele à base de extrato de caju e um sabonete massageador com partículas de caju para ativar a circulação. O óleo de castanha, rico em ácidos graxos insaturados, é empregado em cosméticos artesanais como hidratante e na amenização de rachaduras nos pés.

A Seiva Brazilis, empresa fornecedora de insumos de origem natural para a indústria cosmética, comercializa o extrato glicólico de caju para fabricação de produtos para cabelo e pele, ressaltando as propriedades adstringentes, condicionadoras e antioxidantes do caju. A ação antioxidante é indicada, por exemplo, para a formulação de xampus de manutenção da cor em cabelos tingidos.

A indústria de cosméticos Natura financiou estudos realizados pela engenheira química e doutora em engenharia de processos químicos, Maria Inês Ré, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo. O objetivo foi avaliar o desempenho da goma do cajueiro em aplicações cosméticas, incluindo o desenvolvimento de membranas semipermeáveis e sistemas de liberação controlada de ingredientes cosméticos bioativos. Em outras palavras, a goma do cajueiro fornece um meio de liberar os princípios ativos gradativamente, para aproveitamento mais prolongado dos cosméticos.

Essa aplicação é particularmente interessante, do ponto de vista dos produtores de caju, porque não interfere na produção de castanhas nem de sucos de caju. Constitui, portanto, uma alternativa de aumento da renda sem necessidade de ampliação da área cultivada com cajueiros. A goma é uma resposta do cajueiro a agressões de insetos ou a podas de manejo. Ela se forma como pequenas estalactites no caule ou nos ramos e é ocasionalmente coletada pelos cajucultores, mas ainda não há um sistema de manejo estabelecido.

A mesma goma do cajueiro foi avaliada por seu potencial emulsionante para a utilização pela indústria cosmética como ingrediente ativo no tratamento e proteção da pele. A pesquisa foi desenvolvida em 2008, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação do doutor em Química dos Produtos Naturais, Daniel Weingart Barreto. “Chegamos a trabalhar em parceria com diversas indústrias interessadas, mas houve uma interrupção devido às exigências da Lei da Biodiversidade, como a autorização prévia de mais de dois anos para trabalhar com qualquer extrato de espécies nativas”, relata Barreto.

“Com a nova regulamentação da nova lei isso mudou, mas ainda estamos aguardando o SisGen entrar no ar para voltar a pesquisar esse material, que é muito interessante”, prossegue o pesquisador. SisGen é o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado, instituído em maio de 2016, para receber os pedidos de autorização, adequação e regularização dos usuários, nos termos da nova Lei da Biodiversidade, aprovada em novembro de 2015.

Como se vê, há muito trabalho pela frente para se aproveitar todo o potencial do caju na indústria cosmética, mas os primeiros frutos já estão amadurecendo!

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Fotos: Liana John

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.