As enigmáticas corujas brasileiras

Coruja-orelhuda (Asio clamator)

Através da história e, praticamente em todas as culturas, as corujas têm fascinado os seres humanos. Poucos animais inspiraram tantas lendas como estas aves de rapina que, desde o início da civilização, são tanto temidas como veneradas.

Para muitas nações indígenas, assim como para os gregos antigos, as corujas representam sabedoria, porém, durante a Idade Média, essas aves foram associadas às bruxas e às trevas. Daí a atmosfera de mistério que as envolve, até hoje.

Ao contrário do que você pode imaginar, nem todas as corujas são noturnas. Existem algumas exceções aqui mesmo na América do Sul como, a Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) e a Caburé (Glaucidium brasilianum), que podem ser ativas durante a noite e o dia.

Segundo as mais recentes publicações científicas, existem no mundo cerca de 212 espécies ou tipos de corujas que ocupam todos os continentes, com exceção da Antártida. No Brasil, são 22 espécies, algumas tão pequenas quanto a Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum) – exclusiva do nosso país e que mostro no final deste post -, com apenas 15 cm de comprimento e 60 g, e, outras tão grandes quanto uma águia como a Jucurutu (Bubo virginianus), que podem pesar até 1 kg.

Se você, tanto quanto eu, adora corujas, não deixe de visitar o sul da Mata Atlântica (Paraná, Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul), é a região do país com maior diversidade de corujas onde, podem ser encontradas nada menos que 17 espécies.

Algumas destas corujas além de raras, são endêmicas, ou seja, não podem ser encontradas em nenhum outro local do planeta, como é o caso do Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum) – na foto abaixo -, a Corujinha-sapo (Megascops atricapilla), da Coruja-listrada (Strix hylophila) e a Murucutu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana).

Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum), a menor coruja brasileira, sendo avaliado pela minha equipe de pesquisa, para posterior soltura na natureza.

Entre as espécies endêmicas da Mata Atlântica, incluía-se também o Caburé-do-pernambuco (Glaucidium mooreorum) que, infelizmente, foi declarada extinta em consequência do elevado índice de desmatamento em sua região de origem, na Mata Atlântica no nordeste, onde hoje restam apenas 2% de florestas nativas.

Assim como nós, humanos, as corujas têm visão binocular – seus globos oculares são fixos -, mas, para poder aumentar seu campo de visão, giram a cabeça em até 270º.  A audição também é bastante desenvolvida: algumas espécies como a Suindara (Tyto alba), são especialmente sensíveis a sons entre 500Hz e 10kHz. Essa audição acurada permite que elas cacem na escuridão quase total.

As corujas são aves de rapina, ou seja, predadoras que se alimentam de outros animais vertebrados ou invertebrados. Roedores e insetos são as principais presas da maioria das corujas. Mas curiosamente, algumas delas se especializaram na caça de aves e morcegos como o mocho-do-diabo (Asio stygius) ou de peixes, como as corujas-pescadoras, dos gêneros Ketupa e Scotopelia.

Por aqui, o período reprodutivo das corujas tem início no começo da primavera, é quando os machos selecionam e defendem territórios de acordo com o potencial para caça e locais para ninhos. Curiosamente, no mundo das corujas, o macho além de tentar conquistar uma parceira pela qualidade de seu território, apela também para o estômago das fêmeas, oferecendo as pretendentes alguns presentes especiais, como um suculento rato ou um belo e crocante inseto.

Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) uma das espécies mais abundantes em nosso país.

Fotos: Sandro Von Matter

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Sandro Von Matter

Pesquisador em ecologia e conservação, se dedica a investigar questões sobre o topo das florestas tropicais e as fascinantes interações entre animais e plantas. Hoje, à frente do Instituto Passarinhar, é um dos pioneiros em ciência cidadã no Brasil, e desenvolve projetos em conservação da biodiversidade e restauração ecológica, criando soluções para tornar os centros urbanos mais verdes.