As cavernas e o tempo

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Fotografar cavernas sempre foi um misto de paixão e desafio. Na realidade, tudo começou na faculdade de Geologia, em 1987, quando descobri a espeleologia e não parei mais.

O envolvimento com diversas pesquisas me permitiu entender o que é uma caverna e a melhor forma de fotografá-la. Na época, conhecer o tipo de rocha, sua umidade e características físico-químicas facilitaram a compreensão sobre a forma como eu deveria iluminar e fotografar.

Apurei, ao longo dos anos, diversas técnicas de iluminação. Quilos de equipamentos foram aumentando em minha singela mochila, assim como a compreensão de que a fotografia de caverna é o resultado de uma equipe.

Seria hipocrisia não dizer que dependo dos espeleólogos que me acompanham. Eu preciso deles e sempre agradeço sua ajuda e amizade; só assim é possível ir além da exaustão de algumas situações. Já cheguei a ficar três dias nos confins da caverna, dormindo improvisadamente e sem ver a luz do sol, apenas para fazer duas fotos.

Sem contar as vezes em que eu acompanhava grandes expedições de exploração e mapeamento, no sertão baiano, e só via o resultado das fotos um mês depois, ao voltar para a civilização e revelar os filmes.

Confesso que sinto falta do prazer da espera, desenrolar o filme cromo ali mesmo, no meio do laboratório fotográfico e olhar para cima no contraluz para ver se alguma foto ficou boa. Para a geração da fotografia digital é impossível compreender esta relação com o tempo.

Obviamente, a fotografia digital permitiu avaliar o resultado na hora e corrigir qualquer falha na iluminação. Mas acredito que nem sempre a facilidade de acesso à informação permite um melhor aprendizado.

Talvez seja por isto que vivemos uma época de aparente insatisfação generalizada. Tudo é muito fácil e a humanidade vive a falsa sensação de controle sobre o tempo. Mas como dizem por aí, doce ilusão. E o sol continua seu percurso, como sempre foi.

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Adriano Gambarini

Geólogo formado pela USP e especializado em Espeleologia, é fotógrafo e escritor desde 1992 e um dos mais ativos profissionais na documentação de projetos conservacionistas e etnográficos da atualidade. Autor de 13 livros fotográficos, dois de poesia e centenas de reportagens publicadas em revistas nacionais e estrangeiras. Ministra palestras e encontros sobre fotografia, conservação e filosofia de viagem.