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Árvores nativas reduzem ataque de mosca-dos-chifres

MarciaOliveira_EmbrapaPecuariaSudeste

O nome científico já diz muito: Haematobia irritans é um inseto sugador de sangue muito irritante. O nome comum é mosca-dos-chifres porque ela prefere atacar a cabeça e a nuca dos bovinos, formando verdadeiras nuvens que não deixam os animais se alimentarem em paz. Cada mosquinha pica de 25 a 40 vezes por dia e suga o sangue durante 4 a 5 minutos!

O parasita veio da Europa e chegou ao Brasil no final dos anos 1970. Em 20 anos, espalhou-se por todo território nacional, favorecido por condições climáticas ideais para sua reprodução: chuva e calor. O combate com inseticidas é caro e feito de modo pouco eficaz, além de produzir novas gerações de mosquinhas resistentes aos princípios ativos usados. Por isso, a informação de que a infestação diminui 38% quando os bois são criados em pastagens entremeadas por faixas de árvores nativas é uma excelente notícia!

A boa nova vem da Embrapa Pecuária Sudeste, situada em São Carlos, interior de São Paulo. A doutora em Medicina Veterinária Márcia Cristina de Sena Oliveira conduziu um experimento com 32 bois de oito meses, da raça Canchim, colocando 16 em pastagens comuns, a pleno sol, e 16 no sistema de integração pecuária-floresta (IPF). Além da mosca-dos-chifres, foi avaliada a infestação por carrapatos e vermes, mas nestes dois casos ainda não há resultados conclusivos.

O sistema silvipastoril montado em São Carlos tem piquetes de pastagens de 15 metros de largura entre os quais ficam faixas de árvores como angico-branco (Anadenanthera colubrina), canafístula (Peltophorum dubium), ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa), jequitibá-branco (Cariniana estrellensis), pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha), mutambo (Guazuma ulmifolia) e capixingui (Croton floribundus). Essas espécies nativas alcançam até 20 metros de altura (angico-branco, canafístula, pau-jacaré) ou mesmo 30 a 35 metros (ipê-felpudo, jequitibá-branco e mutambo). Quase todas podem ser aproveitadas como madeira, lenha ou carvão, mas também como forragem para o gado, além de terem potencial apícola. Mas sua principal função, quando o assunto é mosca-dos-chifres, é produzir sombra.

A mosquinha irritante deposita seus ovos nas fezes dos bovinos e o fato das fezes ficarem à sombra das árvores, no sistema pecuária com floresta, é decisivo. “Ainda não sabemos por que a infestação diminui, mas notamos que há mais larvas de vida livre, de várias espécies, nos bolos fecais sombreados. É possível que larvas de nematoides, besouros e outros artrópodes atuem como predadores ou parasitoides das larvas da mosca-dos-chifres”, explica a pesquisadora, que agora deve investir no estudo das diferentes espécies encontradas, na tentativa de identificar um possível inimigo natural do parasita. Aí, sim, o controle do inseto poderá ganhar eficácia e ter impactos reduzidos.

Enquanto isso não ocorre, os bois também se beneficiam da sombra para descansar e ruminar. “Os animais criados no sistema silvipastoril apresentaram temperamento mais dócil e calmo, além de ficarem mais tempo pastejando. Para o produtor é um aspecto positivo, já que os animais ganham mais peso e produzem mais leite”, resume Márcia de Sena Oliveira, cujo projeto recebeu recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Foto: Embrapa Pecuária Sudeste (Márcia de Sena Oliveira e gado no sistema IPF)

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