Ártico, livre da exploração de petróleo?

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A semana começou bem com o anúncio da saída da Shell do Ártico, em 28/9. Depois de desperdiçar cerca de US$ 7 bilhões para explorar petróleo no local, a empresa revelou que os resultados foram pífios e não valia empreender mais esforços e dinheiro na região. Eis o comunicado que divulgou à imprensa: “A Royal Dutch Shell encontrou indícios de óleo e gás no Alasca, mas estes não são suficientes para justificar uma exploração maior”. E os gastos não devem ficar aí: ela terá que desembolsar cerca de US$ 4 bilhões em custos por desistir do Mar de Chukchi.

Para um projeto que apresentou estimativa de custos de US$ 3 milhões, trata-se de um abalo considerável. Os acionistas sempre viram a empreitada como cara demais e queriam abortá-la, também devido à queda dos preços do petróleo.

A companhia sai do Ártico não só financeiramente abalada, mas com sua reputação bastante arranhada: tanto pelo fracasso na condução do projeto de exploração – que, em 2012, teve que ser interrompido por causa da quebra de uma sonda -, como pela grande pressão dos ambientalistas preocupados com vazamentos na região.

O Greenpeace fez campanhas intensas contra a Shell, entre elas um pedido dramático à Lego – que incluiu performances e um vídeo – para  que ela abandonasse a parceria que mantinha com a empresa petrolífera. A boa notícia veio em três meses: Lego rompeu com a Shell. Em sua última campanha, com a adesão da atriz e ativista Ema Thompson, levou um urso polar gigante para a porta da sede da companhia, em Londres, como mostramos aqui.

A saída da Shell do Ártico pode levar a empresa a suspender a exploração na costa do Alasca também – não só por causa dos péssimos resultados com o poço Burger J, mas também devido à regulamentação ambiental federal – e, com certeza, abala os interesses de outras companhias petrolíferas na região. Mas isso não significa que não haverá mais perfurações por lá.

Por isso, como destacou Kumi Naidoo, presidente do Greenpeace, no mesmo dia do anúncio da Shell, este é o momento perfeito para se “criar uma proteção permanente para a região e para fazermos a transição do mundo para as energias renováveis. Se estamos falando sério sobre lidar com as mudanças climáticas, teremos de mudar completamente nossa forma de pensar. Perfurar o Ártico, que está derretendo, não é compatível com essa mudança”.

Assim como não é compatível o escândalo que envolveu a Volkswagen, noticiado na semana passada: a empresa fraudou os dispositivos de controle de emissões de poluentes de mais de um milhão de veículos que circulam pelo mundo. Cada vez mais, o desenvolvimento a qualquer custo dá sinais de esgotamento, revelando, enfim, seus limites.

Na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP21, que acontecerá em Paris em dezembro, teremos nova oportunidade para nos comprometer ainda mais com um desenvolvimento que se sustente ambiental, social, econômica e culturalmente e reconhecer a interdependência da humanidade. Para salvá-la, não ao planeta.

Foto: tpsdave/Pixabay 

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.