Aprendendo a voar

Aprendendo a voar

Em diversas áreas profissionais, manter-se atualizado com as novas possibilidades que a tecnologia abre é fundamental – e na fotografia de natureza não é diferente. Lembro-me da primeira vez em que cogitei adquirir uma câmera digital, lá por 2003, após um período de ceticismo e questionamento sobre migrar do bom e velho filme para o cartão de memória.

Agora a história se repete com a popularização dos drones, que adquiri recentemente como uma nova ferramenta de trabalho – e assim, vamos à história de hoje.

Há alguns dias, aconteceu aqui um déjà vu: voltaram a me alertar que uma nova ariranha estava aparecendo no Recanto Ecológico Rio da Prata, igualzinho à história da minha postagem inaugural deste blog. Foi tudo bem parecido, mas desta vez o bicho não estava muito a fim de colaborar comigo.

A ariranha surgiu cerca de uma hora depois que eu havia entrado na água, porém não me deu nenhuma chance para uma boa imagem. Ao invés de insistir e correr o risco de espantá-la, preferi me limitar a uma única tentativa e aguardar mais uns dias para arriscar novamente.

Então, lá estava eu naquele lugar incrível, pouco depois das 9 da manhã, com a sensação de fracasso por não ter atingido o objetivo do dia. Mas um fotógrafo de natureza tem que estar preparado para estas coisas, para um “plano B”, caso sua ideia original não dê certo. Afinal, imprevisibilidade é uma das principais características neste tipo de fotografia – e um dos aspectos que a torna fascinante. E então eu lembrei do drone!

O lugar onde eu estava aguardando a ariranha é conhecido como Vulcão, por causa das nascentes que brotam no fundo do rio. Apesar de sempre ter alguns peixes, eles se concentram mais neste ponto quando a ariranha está por perto, ficando compactados em grupo na tentativa de se proteger.

Os guias de turismo que trabalham no local já sabem: quando os peixes estão concentrados desta forma, tem ariranha por perto! E assim decidi levantar voo e tentar registrar uma imagem que mostrasse este momento. Esta é a minha primeira fotografia “publicável” feita com um drone, as outras eram apenas imagens de teste, voando no meu bairro.

Ao estudar a composição da cena, fiquei pensando no fotógrafo de natureza Eric Cheng, com quem trabalhei no ano passado em busca de sucuris. Eric é um dos maiores especialistas da atualidade no uso de drones para a fotografia.

Em seu livro sobre o tema, dentre muitas informações úteis para quem está começando, ele lembra que há alguns anos não era necessário muito para encantar as pessoas com um registro feito com drone. Porém, como qualquer outro tipo de fotografia, é nos detalhes que uma imagem se destaca de outras comuns, feitas apenas considerando a nova tecnologia e não o aspecto estético.

É o que diferencia uma foto descartável feita para compartilhar no WhatsApp e logo deletar de uma foto permanente, duradoura, cativante.

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora