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Algumas dicas para a Jout Jout, que visitou a Amazônia

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Na semana passada, 5 de setembro, foi o Dia da Amazônia dia em que este blog, aqui no Conexão Planeta, foi lançado! –  e fiquei bem feliz  quando vi que a organização WWF-Brasil chamou a Jout Jout, youtuber famosa, para conhecer a Amazônia e gravar um vídeo sobre sua experiência na floresta, que poderia ter ficado bem melhor.

Diante da necessidade urgente de unirmos informação a sensibilização, nós (comunicadores, educadores, pais e mães, cientistas etc) temos que descobrir novos caminhos e parar de repetir as mesmas coisas sobre a maior floresta do planeta.

Em minhas pesquisas para a dissertação de mestrado na Schumacher College – que concluí recentemente – entrevistei 245 pessoas para saber o que elas pensam sobre a Amazônia. Até aí, o vídeo da Jout Jout acertou, pois no imaginário popular em relação à Amazônia, as primeiras respostas giraram em torno de preconceitos e medos ou do gigantismo da floresta e de seus elementos naturais.

Vou falar primeiro do que poderia ter ficado melhor no vídeo da Jout Jout e depois partir para o que ficou bom. Espero que ela leia este texto e aproveite estas dicas para se tornar uma excelente porta-voz da Amazônia.

O que poderia melhorar?

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  • Jout Jout falou mais do mesmo ao compartilhar dados quantitativos sobre a Amazônia: número de Estados e países que compõem o bioma, números de espécies, números de habitantes. Se alguém tem a sorte de aprender alguma coisa sobre a floresta, é justamente isso: dados quantitativos com números e mais números que, muitas vezes, são recebidos com bastante abstração. Temos mesmo que continuar batendo nesta mesma tecla? Vale refletir.
  • Faltou deixar claro que, ao dar informações sobre a Amazônia, ela se referia a dados que englobavam todos os países. Como seu público é majoritariamente brasileiro, teria sido bom dar dados específicos do Brasil também.
  • Ela disse que as chuvas produzidas pela floresta se espalham pelo Brasil inteiro. Vale checar esta informação, Jout Jout, pois, de acordo com a teoria da Bomba Biótica, os rios voadores saem do Norte, se deslocam para os Andes e, de lá, para o Sudeste do Brasil e outras regiões da América do Sul, abençoando-as com a chuva amazônica.
  • Macacos só se aproximam de pessoas, como se aproximaram de você, quando têm o hábito de serem alimentados por humanos. Isso não é legal! Os bichos precisam se virar sozinhos na natureza para encontrar alimento. Essa parte do vídeo pode dar a entender que a macacada pode ser vista em abundância em ambientes de floresta e DO NADA chegar perto de humanos. Não, isso não é real. Por que esses animais se aproximaram assim de você? Porque estão acostumados com gente, o que não é bom sinal. Eu teria tirado isso do vídeo.
  • Jout Jout usa blusas de manga comprida na floresta, provavelmente para se proteger das picadas de mosquitos. Rio Negro não tem mais mosquitos nos perturbando do que Ilhabela, em São Paulo, com inúmeros borrachudos. De repente, um repelente bom com uso de camiseta, dentro da mata, poderia ter sido mais confortável. Não precisa ficar com receio nenhum de usar camiseta na floresta. Essa é para te tranquilizar.

Okay, agora vamos aos acertos!

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Jout Jout mandou bem ao falar as seguintes verdades:

  • “Amazônia não é o Amazonas” – FATO! Muita gente confunde 0 Estado brasileiro com a região amazônica inteira. E tem gente que inclusive ainda se pergunta se o Acre existe mesmo. EXISTE!
  • “A gente dá uma ignorada no Norte do país” – FATO! Muitos de nós, nascidos em outras regiões do país, somos ensinados culturalmente a não valorizar a região amazônica, como falei em meu post anterior, que inaugurou este blog.
  • Após compartilhar dados quantitativos, ela diz que “A Amazônia não é só isso”. Bravo! Não mesmo. E emenda: “Chegando na Amazônia aprendemos com a Amazônia”. Exatamente! Só que os aprendizados são bem maiores do que as curiosidades compartilhadas pela youtuber, mas ainda assim, valeu!

Finalmente: como a Jout Jout poderia ter arrasado?

Se tivesse falado com menos piada e mais seriedade sobre como a floresta mexeu com ela. Como se sentiu ao ver a floresta desde o avião? Como foi nadar nas águas mornas do Rio Negro? Quais insights teve para a vida, enquanto aprendia com a Amazônia? Recebeu alguma lição de vida dos ribeirinhos, ao interagir com eles ou observar seu modo de vida?

Deu para sacar que isso aconteceu, quando ela se depara com uma árvore gigante e diz que “vai ficar tudo bem”, pois um dia a árvore foi semente, então a melhor resposta para os problemas da vida só pode ser essa: vai ficar tudo bem.

Você poderia ter investido mais em compartilhar valores intrínsecos da mata e como ela mexeu com seus sentimentos e pensamentos, Jout Jout. Menos piada, mais seriedade, mais papo reto sobre o quanto a floresta ensina. Com certeza teria sido um belo golaço falar da Amazônia com seus olhos brilhando. Tenho certeza que você chegaria fácil no coração das pessoas. Torço para um dia ver esse vídeo teu.

De qualquer maneira, obrigada por ter aceitado esse convite para conhecer a floresta. Espero que você se torne uma incrível porta-voz dela.

Abaixo, está o vídeo com Jout Jout para quem não assistiu ou quer rever:

Fotos: Frederico Brandão/WWF Brasil (Divulgação)

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Anislene Tavares (@anislene)

Discordo de seu posicionamento. Vale avaliar para qual público o video é direcionado. E com certeza não é para uma jornalista especializada no tema, como você. Se o propósito era falar para o público em geral, que acha os temas ambientais chatos mas gostam da irreverência da youtuber, ele foi perfeito! Assistindo os vídeos engraçados dela e as suas criticas (até da camiseta da moça vc falou!!), fico com o primeiro.

Mônica Nunes
7 anos atrás

Anislene, tudo bem?
Super obrigada por comentar aqui.
Sou uma das sócias e responsáveis pela coordenação editorial do Conexão Planeta.
Enviei seu comentário para a Karina; reproduzo sua resposta abaixo.
Grande abraço.
Mônica Nunes

Olá Anislene, tudo bem?
Achei super acertada a decisão do WWF em convidá-la. No entanto, se ela tivesse unido seu bom humor à sensibilização e compartilhado um pouco mais sobre o que sentiu e aprendeu com a floresta, teria sido uma oportunidade e tanto de fazer a Amazônia chegar ainda mais perto da realidade de seu público. Não apenas a Amazônia dos números, mas das belezas, dos sentimentos, a Amazônia que também tem valores intrínsecos pouco, muito pouco abordados de maneira geral. Minhas críticas construtivas têm um único propósito: apoiá-la para que ela se torne uma porta-voz da floresta, como aliás escrevi no texto.

Sobre a camiseta, um bom repelente resolve e pode ficar mais confortável dentro da floresta, por causa do calor e da umidade. Todas as vezes em que fui para lá, nunca fui orientada pelos guias a usar manga comprida – e acho que não conseguiria, por causa do calor. Que tal chamar isso de dica ao invés de “implicância”?, mas claro, cada um se veste como achar melhor.

Por fim, fique à vontade para discordar do meu posicionamento. Se todos pensássemos igual, o mundo seria bem monótono. Importante termos espaço para falar o que pensamos. Importante, também, falar com respeito, como procurei fazer. Este blog é um espaço para provocar reflexões e fico feliz que esteja cumprindo seu papel.
Um abraço e obrigada por escrever,
Karina

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