Aldeia SP: resistência e poesia no cinema indígena brasileiro, de 7 a 12/10, em São Paulo

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Cinquenta e sete filmes integram a Bienal de Cinema Indígena, que reunirá lideranças indígenas como Ailton Krenak* (organizador da mostra) e cineastas que terão encontros com o público no CCSP – Centro Cultural São Paulo, como nos CEUs – Centros Educacionais Unificados**, que integram o Circuito SPCine.

aldeia-sp-bienal-cinema-indigenaJá estão confirmados: Alberto Álvares (da etnia Guarani Nhandeva, Mato Grosso do Sul), Alexandre Pankararu (Pankararu, Pernambuco), Carlos Papá (Guarani, São Paulo), Cristiane Takuá (Takuá, São Paulo), Jerá Giselda (Guarani Mbya, São Paulo), Larissa Ye Padiho Mota Duarte (Tukano, Amazonas), Michely Fernandes (Guarani Kaiowa, Mato Grosso do Sul/Rio de Janeiro), Morzaniel Iramari Yanomami (Yanomami, Roraima/Amazonas), Patrícia Ferreira (Guarani Mbya, Rio Grande do Sul), Txana Isku Nawa (Huni Kuin, Acre), e Wera Alexandre (Guarani Mbya, São Paulo).

Importante destacar também a participação de produções femininas no encontro, como revela a foto que ilustra este post, com a cineasta Kiriri Mirandela: 11 filmes têm mulheres na direção, na produção e/ou no elenco.

Da mostra – lançada em 2014 como Aldeia SP apenas e que, agora, é realizada com  status de bienal – também participará o documentarista Vincent Carelli, idealizador do Vídeo nas Aldeias (1986) e autor do documentário Martírio, sobre o genocídio dos Guarani Kaiowa. Vencedor do prêmio de melhor longa-metragem de 2016, pelo júri popular do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o filme será exibido às 15h, em 7/10, no CCSP, a primeira vez em São Paulo!

(Para quem quer saber mais sobre Martírio, indico a leitura de dois ótimos textos, publicados no site da Carta Capital: um escrito pelo jornalista e indigenista Felipe Milanez (que participará da abertura da Aldeia SP) – Martírio, um filme que o Brasil precisa ver – e a entrevista que Carelli concedeu ao jornalista Jotabê Medeiros – Os índios que abalaram Brasília).

Também estarão presentes: Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura, e o ambientalista João Augusto Fortes. No CCSP, outras atividades, como o coral com crianças Guarani, integrará a programação. O filme O Abraço da Serpente, de Ciro Guerra, será exibido todos os dias às 20h, no mesmo local.

aldeia-sp-bienal-cinema-indigena-ailton-krenakA participação dos CEUs era um sonho da organização desde o primeiro evento, como conta Krenak (foto): “Desde 2014 queríamos alcançar um público escolar grande, como o que frequenta os espaços dos CEUs”. Assim, alunos, professores e comunidades dos bairros de Alto Alegre, Aricanduva, Butantã, Casa Blanca, Inácio Monteiro, Parque Anhanguera, Parque Bristol, Pera Marmelo e Vila Atlântica poderão ver a realidade dos índios de diversas localidades do país, com entrada gratuita.

O antropólogo, cineasta e fotógrafo Pedro Portella Macedo, um dos responsáveis pela curadoria dos filmes, diz que “o importante é reforçar o papel do cinema múltiplo indígena, um cinema artesanal e diverso, que traz o discurso direto de seus realizadores”. Com exceção de Martírio, todos foram dirigidos por índios.

Os filmes exibidos não se limitam aos formatos de documentário, curta-metragem ou obra de ficção. Vão muito além como conta Rodrigo Arajeju, cineasta, produtor e advogado, premiado pelo filme Índios no Poder: “Nossa seleção compreende produções que vão de filmes de protesto – sobre retomadas de terras tradicionais, por exemplo – passando pelo cine-roça, o cine-xamanismo, videoclipes, programas televisivos e animações”. E completa: “As estéticas indígenas são múltiplas e refletem a diversidade vivenciada em matas e fronteiras urbanas por dezenas de coletivos e realizadores pertencentes a alguns dos 305 povos originários no Brasil, falantes de 274 línguas”.

Aldeia SP foi lançada em 2014 e, para esta segunda edição, ganhou status de bienal, garantindo ainda maior fôlego para as produções de cineastas indígenas. De acordo com Krenak, a novidade da mostra deste ano é revelar também as circunstâncias em que trabalham seus realizadores. Essa ideia surgiu com um fato recorrente, que chamou sua atenção: sempre que ele procurava saber se os cineastas estavam produzindo novos trabalhos, a resposta era “não, este ano estamos fazendo roça”. Quem disse que, para fazer uma coisa, precisa parar outra? “O cara não vive fazendo filme. Ele faz tudo na vida e faz filme também”, explica.

Onde e quando

A Aldeia SP – Bienal do Cinema Indígena será realizada no Centro Cultural São Paulo, (Rua Vergueiro, 1000), de 7 a 12/10, e em CEUs que integram o Circuito SPCine (citados acima, no texto), nos dias 10 e 11. Acompanhe sua página no Facebook, onde está sendo divulgada a programação.

Amostras da Mostra

Abaixo, assista ao filme Índio Cidadão, com Ailton Krenak no Congresso Nacional, em 1987 (fala tão atual!!), e ao trailler de Tekowe Nhepyrun – A Origem da Alma, de 2015:

Fotos: Divulgação (abre) / Ailton Krenak (reprodução de vídeo)

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* Ailton Krenak nasceu em 1953, no Vale do rio Doce, Minas Gerais, na etnia Krenak. É ativista indígena dos direitos humanos.  cofundador da União das Nações Indígenas (1980), criou o Núcleo de Cultura Indígena (1985) e dirige, desde 1988, o Festival de Danças e Culturas Indígenas na Serra do Cipó, MG. Krenak teve atuação marcante na Assembleia Nacional Constituinte que resultou na Constituição Brasileira de 1988. Ele ficou muito conhecido pelo discurso histórico que fez no Congresso Nacional, em 1987, durante o qual pintou o rosto como guerreiro, com tintura de jenipapo, como mostra o trecho de Índio Cidadão, acima destacado, que também será exibido nesta Aldeia SP.

** As salas dos CEUs fazem parte do Circuito SPCine, patrocinador do evento, que, desde março deste ano, tem levado programações de filmes brasileiros e estrangeiros para comunidades e instituições de ensino das periferias da capital paulista. Trata-se de projeto da Prefeitura de São Paulo, realizado por meio de uma parceria da SPCine com as Secretarias Municipais de Cultura e de Educação.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.