Adubação verde: o SPA da terra!

adubação verde

Quase todo mundo sabe o que é um adubo, mas pouca gente tem noção quando e quanto usar, e para complicar ainda mais, existem tipos variados e as informações que recebemos dos fabricantes podem ser bastante reduzidas, deixando-nos em dúvida  quanto à forma e frequência de uso e a quantidade recomendada para cada planta.

Normalmente encontramos nas lojas de jardinagem, húmus de minhoca, torta de mamona, farinha de osso, esterco curtido de boi ou então, adubos líquidos, preparados químicos à base de nitrogênio, fósforo e potássio ou ainda granulados, como a uréia, muito usada nos gramados. Todavia, o modo de uso para cada um deles é diferente e precisa ser prescrito com exatidão, pois o excesso pode prejudicar o cultivo.

Porém, na adubação verde o risco de superdosagem é praticamente inexistente porque ela funciona como uma reciclagem de materiais orgânicos do solo. Mas o que afinal é a adubação verde?

Adubação verde é o nome que se dá ao  cultivo de leguminosas, como o feijão, para reincorporar ao solo nutrientes e gerar cobertura morta, que por sua vez, protegerão o solo dos raios solares e do impacto das chuvas (erosão solar e hídrica) e ainda, criar maior circulação dos elementos químicos, principalmente do nitrogênio. Isto é feito através do intercâmbio nas raízes, pela ação metabólica das bactérias, fungos e micro-organismos. Estes agentes benéficos para o solo funcionam como carregadores de minúsculas moléculas de nitrogênio, melhorando a disponibilidade de nutrientes para as plantas, ajudando-as nas trocas bioquímicas, entre os sais minerais através dos íons e cátions, melhorando sua saúde.

A melhora na drenagem e a manutenção da umidade nas camadas profundas do solo ocorre pela ação de suas raízes pivotantes, que crescem para baixo, redistribuindo até as camadas mais profundas a fertilidade. Existem muitos tipos de leguminosas, como por exemplo o feijão guandu (Cajanus cajan), na foto que abre este post, uma arvoreta de crescimento muito rápido e que permite o plantio consorciado (diferentes cultivos sincronizados) oferecendo para plantas  novas, que estejam ao seu pé, proteção contra o sol forte no início do cultivo e umidade depois da incorporação. O feijão guandu também pode ser  usado para sombrear parcialmente novas mudas de frutíferas, ainda em crescimento, facilitando a penetração das raízes em solos compactados.

Outras leguminosas muito usadas na adubação verde são a mucuna (Mucuna aterrima ou M. Pruriens), a crotalária (Crotalária ochroleuca, spectábilis, juncea ou paulinea), sendo que estas duas últimas são muito agressivas. Caso não forem bem manejadas (controladas) podem literalmente invadir todo o terreno, por isso recomenda-se muito critério e cuidado ao fazer esse tipo de adubação, uma vez que são espécies exóticas e se implantadas sem o devido controle podem se instalar definitivamente competindo com nativas e prejudicando outras culturas.

adubação verde

Adubação verde funciona como uma reciclagem de materiais orgânicos do solo

Em geral, a adubação verde traz um resultado muito bom por ser natural e acessível. Permite também, um intervalo e tempo entre cultivos de produção, garantindo assim  o controle das plantas invasoras e pragas recorrentes.

Caso  você não encontre sementes destas plantas onde você mora, pode-se usar qualquer tipo de feijão, até mesmo o nosso velho conhecido de todos os dias, o feijão preto ou marrom, dependendo da região onde você mora, um ou outro é mais utilizado. Um quilo dará para plantar mais de 100 m2 e se deixado de molho na noite anterior, germinará ainda mais rápido. E não esqueça, ao sinal da primeira florada, revolva as raízes e deixe que a planta se seque e se reincorpore ao solo, o que deverá levar em torno de um mês e meio dependendo das condições de temperatura e umidade.

Depois de reincorporado prossiga com o plano para plantio de milho, abóbora, rúcula, alface, couve, tomate e você verá como sua terra estará melhor!

Se você não tem uma horta ou jardim grande, pode fazer a adubação verde com um feijão  pequeno do tipo preto ou marrom. Eles são menores e cabem em um vaso. Uma outra opção é utilizar adubos naturais, que não prejudicam as plantas, nem  oferecem risco para crianças e animais, mesmo se usados acima da medida certa.

Uma colher de sopa de adubo natural por vaso pequeno – cerca de 300 ml , deve bastar. Quando se tratar de esterco ou húmus de minhoca, pode levar até 20 dias para que a planta sinta os efeitos dos novos nutrientes, que demoram algumas semanas para serem incorporados.

Para se ter uma ideia de volume de adubo tenha em mente que ….. Quanto mais matéria se colhe ou se tira da terra, mais água, mais nutrientes, mais biomassa se perde. A adubação é o processo de reposição deles. Muitas vezes retirados da terra antes da nossa chegada, num determinado cultivo ou até mesmo, numa queimada. Então, só nos resta dar à terra um tratamento vip, uma colheita para si mesma para que ela se recomponha.


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Fotos: Mathias Isenberg/Creative Commons/Flickr (abertura) e domínio público/pixabay

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Liliana Allodi

Geógrafa, paisagista, educadora ambiental e ilustradora científica. Começou a carreira em São Paulo como consultora paisagística. Durante 10 anos viveu no exterior (Austrália, Israel e USA) e neste último país, firmou suas habilidades para trabalhar com crianças. Atualmente dá aulas de horticultura para alunos do Ensino Fundamental, em Brasília. Também desenvolve projetos junto à Cia da Horta para centros de ensino, clubes e empresas.