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A vida, a lagartixa e a aranha

Em 2011, fui convidado pelo renomado fotógrafo Sebastião Salgado, para fotografar a biodiversidade do Instituto Terra, localizado em Aimorés, Minas Gerais. Durante um ano de trabalho, exploramos a região em busca da fauna e flora que havia retornado devido ao reflorestamento promovido pelo projeto, que transformou pasto em floresta em poucos anos.

Andando por uma das trilhas da fazenda sede do instituto, me deparei com um filhotinho de lagartixa bonitinho, todo rajado. Chamei minha esposa, Ilka Westermeyer, que estava me ajudando como assistente, e pedi para me trazer a lente macro e os flashes. Aquela criaturinha poderia render fotos bem interessantes.

O pequeno réptil permanecia imóvel no chão. Enquanto esperava, fiz um movimento já procurando o melhor ângulo para fotografá-lo. A lagartixa correu para o lado errado e rapidamente uma pequena aranha, que estava camuflada a cerca de um metro para o lado, cravou as presas na pobrezinha, que fugia de mim.

a vida, a lagartixa e a aranha

Pensei em ajudá-la, mas já estava ferida. Ela morreria pelos ferimentos de qualquer forma, e ainda, a aranha continuaria com fome. Me senti mal pois, por minha culpa, ela correu em direção à aranha. A Ilka chegou e falou: “Pobrezinha… um bebê de lagartixa tão novinho. É uma morte täo horrível.”

Falei que não tinha mais jeito e que não deveríamos interferir, explicando o motivo.

Enquanto já fazia a foto que ilustra este texto, olhei novamente para a Ilka. Ela segurava os flashes, olhando para o outro lado e com o rosto molhado pelas lágrimas… É a tal da “empatia”, que pessoas sensíveis e que amam a natureza sentem. É algo profundo e inexplicável.

Empatia, da forma que eu entendo, significa a capacidade de sentir o que um outro ser vivo sente. De se colocar no lugar dele. Uma característica tão rara hoje em dia, que me surpreendo com cada pessoa capaz de senti-la. É um termo muito utilizado para relações interpessoais, porém, também pode ser aplicado ao que sentimos por outros animais.

Acredito que com o passar dos anos, minha empatia tem aumentado de forma gradativa. Quanto mais conheço a natureza, mais me apaixono. E consequentemente, mais me importo com ela. Por muitas vezes, me pego sentindo o sofrimento de animais que fotografo em tragédias ou problemas causados pelo “progresso”. Uma característica que na sociedade em que vivemos, considero um defeito, no sentido de que sempre me machuco muito emocionalmente falando.

Porém, acredito que este sentimento – a empatia – , é algo muito necessário a ser desenvolvido nas pessoas, caso queiramos conseguir sobreviver como sociedade e como espécie. Tratando outros seres vivos bem, estaremos criando um mundo melhor para nós mesmos.

Ao final, voltando a falar da pequena lagartixa, terminei de fazer as fotos, quando ela já não mais respirava. Voltamos para o alojamento, calados, refletindo sobre aquele pequeno acontecimento. Sobre a fragilidade da vida. Sobre uma situação que é o reflexo do mundo em que vivemos. Um mundo com paisagens e seres maravilhosos, porém, por muitas vezes, cruel.

*O resultado do trabalho que fiz no Instituto Terra pode ser conferido neste link

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