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A ‘vergonha de voar’, por causa das mudanças climáticas, cresceu com Greta Thunberg e não vai parar, diz pesquisa

Pesquisa realizada, em julho e agosto, nos Estados Unidos e em países da Europa (França, Grã-Bretanha e Alemanha), pelo banco suíço UBS, revelou que um em cada cinco viajantes cortaram pelo menos um voo de suas viagens, no ano passado, devido à preocupação com as mudanças climáticas.

Apontou também que cerca de 27% dos 6 mil viajantes entrevistados está propensa a reduzir esse tipo de viagem pelo mesmo motivo. Isso representa um aumento de 7% em relação às intenções reveladas no estudo feito em maio deste ano, ou seja, em apenas seis meses.

É bem provável que essas pessoas não tenham informações precisas a respeito da pegada ecológicadas viagens aéreas, mas a aviação é realmente uma parte bastante pesada na conta das mudanças climáticas. De acordo com o estudo da Aliança Redd+ Brasil (sobre a qual falo mais adiante), lançado no ano passado, se comparada a um país, só a aviação internacional estaria entre os dez maiores poluidores do mundo. E não demoraria muito mais que algumas décadas para que figurasse entre os grandes emissores de gases de efeito estufa.

Por isso, faz todo sentido – e é muito bem vindo – o movimento que começou a surgir na Europa, no ano passado, contra viagens de avião, conhecido como flight shame (vergonha de voar, em tradução livre), que vem do sueco flygskam. Daí, as pesquisas: duas, em seis meses.

Há quem continue se deslocando de avião em grandes distâncias, mas, uma vez num continente, opta por traslados de ônibus, trem ou balsa, como fez Emma Kemp, ativista contra as mudanças climáticas que, em suas últimas férias na Itália e na Croácia. “Senti que estava realmente viajando”, disse ela à Reuters. “E me senti em paz comigo mesma, tendo feito algo pelo planeta”. Este pode ser o início de uma decisão mais drástica como de Greta Thunberg que, para participar de encontros climáticos – incluindo greves pelo clima, a Cúpula Climática e a COP 25 de Mudanças Climáticas – e conhecer iniciativas sustentáveis no continente americano, veio de veleiro, já que não voa de jeito nenhum!

Sim, a influência de ativistas como Emma e Greta é reconhecida pelos estudiosos.

A pesquisa aponta também que, se esse movimento de “viajar com a consciência mais limpa” – optando por trens e/ou barcos – continuar crescendo, o número de passageiros aéreos poderá cair pela metade até o próximo ano. E isso obviamente causará impactos entre os fabricantes de aeronaves, pois novos pedidos não serão feitos. Por outro lado, a indústria de trens e barcos pode aquecer consideravelmente.

Políticas de incentivo ou sanção dos governos poderá influenciar também. A Alemanha, por exemplo, anunciou planos de reduzir impostos para viagens de trem e aumentar as taxas aéreas.

Quando líderes mundiais se reuniram em Nova York no mês passado, para participar da Cúpula Climática da ONU – onde Greta Thunberg e a brasileira Paloma Costa fizeram lindos discursos – os delegados de cada país não perderam tempo em questionar, uns aos outros, sobre o transporte adotado para chegaram a Nova York. Sem dúvida, este foi o auge do movimento da vergonha de voar. “Se há um elefante na sala, é claro que é a aviação”, disse, na ocasião, o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen.

Mas vale ressaltar que a pesquisa do UBS não foi realizada fora da Europa e dos Estados Unidos, onde as viagens aéreas só crescem. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) prevê que, na Ásia e na África, por exemplo, os voos devem aumentar em até 50%. Em alguns lugares, podem dobrar até 2036. As previsões apontam também que a China deve registrar aumento de mais de 900 milhões de passageiros até esse mesmo ano, o que elevará o número de viajantes chineses para 1,5 bilhão por ano.

E no Brasil?

Com exceção de alguns ativistas do clima ou ambientalistas, ninguém por aqui fala em reduzir a quantidade de voos de sua agenda. Mas, sim, em compensar a emissão de gases de efeito estufa, pagando mais pelas passagens aéreas. Ou seja, “continuo voando, mas aceito pagar mais (de 5 a 8 reais é o valor da taxa!) pra reduzir meu impacto”. Louvável, ainda mais num país que está fora do acordo internacional do setor para compensação de emissões, com a desculpa de que a adesão tem custos que o Brasil não pode arcar.

É o que revela a pesquisa realizada pela Aliança Redd+ Brasil sobre os viajantes internacionais: Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil Internacional: Desafios e Oportunidades para o Brasil. A Aliança reúne as seguintes instituições: Bolsa de Valores Ambientais do Rio de Janeiro (BVRio), Biofílica Investimentos Ambientais, Fundação Amazonas Sustentável (FAS), ICV, Idesam e Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Como comentei no início deste texto, a aviação pesa bastante na conta das mudanças climáticas. E foi devido a esse cenário que, em 2016, a Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês) lançou o primeiro acordo global com o objetivo de promover a neutralização de carbono* (mais conhecida como programas carbono neutro) a partir de 2020, data em que – segundo a Página 22 – “qualquer emissão adicional da aviação civil internacional deverá ser reduzida ou compensada”.

No período entre 2021-2026, a adesão a esse acordo não será obrigatória, mas, a partir de 2027, sim! Vale ressaltar ainda que a redução ou compensação de emissões dos voos internacionais só vale quando os países de origem e de destino aderem ao acordo que, sem duvida, representa um ótimo reforço para o Acordo de Paris.

A Alianca Redd+ Brasil encomendou nova pesquisa, divulgada em maio, realizada com 800 passageiros de voos internacionais em abril, que revelou que 68% deles pagariam entre 5 e 8 reais a mais por bilhete aéreo se tivessem certeza de que o valor seria revertido na redução ou compensação de emissões de sua viagem. No último ano, os entrevistados – que pagam suas passagens – disseram que viajaram de avião para outros países e que pretendem viajar nos próximos 12 meses.

Perguntados se conheciam alguma companhia aérea que já tivesse revelado essa preocupação, 89% disse que não. 75% destacou que voar com uma empresa que tem essa preocupação é importante. Apenas 7 em cada 10 entrevistados acredita que este tipo de companhia pode ter a preferência dos clientes e esta ideia é mais apoiada por mulheres (75%) do que por homens (65%).

E quais medidas os passageiros gostariam que fossem tomadas com a taxa para compensação de emissões paga por eles? 57% escolheu o uso de biocombustíveis ou melhoria tecnológica nas aeronaves; 39% prefere que o montante seja investido em programas de reflorestamento e conservação de florestas, e 31% optou por projetos de eficiência energética.

E já que estamos em tempos de Greta Thunberg, vale destacar o que contou, à Página 22, Pedro Soares, do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), integrante da Aliança Redd+ Brasil e coordenador da pesquisa. “Em geral, jovens demonstram maior preocupação com as emissões de carbono emitidas durante voos internacionais de longa duração e seus impactos no meio ambiente”.

__________________
*neutralização de carbono: após a avaliação das emissões de CO2, o gás mais poluidor, os programas definem o alvo dessa neutralização: as medidas para reduzir a geração de CO2 em uma indústria, por exemplo, podem incluir o plantio de árvores, a utilização de materiais 100% reciclados, reduzir o consumo de energia, reutilizar água, entre outras que, efetivamente, reduzam o impacto no meio ambiente. No caso da aviação, ainda há a possibilidade de utilização de biocombustíveis

Fontes: G1, Newshub, Estadão, Página 22

Foto: Eduardo Velazco Guart/Unsplash

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