A riqueza da fauna e flora do Cerrado sob ameaça

onça pintada

Hoje era para ser um dia de comemoração. Celebrar a imensa biodiversidade do segundo maior bioma brasileiro: o Cerrado. Infelizmente, a data – 11 de setembro, Dia do Cerrado – se torna um alerta para o perigo que paira sobre esta imensa área natural que cobre grande parte do território brasileiro.

Segundo o WWF Brasil, mais de 100 milhões de hectares da cobertura vegetal do Cerrado já foram perdidos para o agronegócio, em sua maioria para plantações de soja, cana, eucalipto, algodão e a pecuária extensiva. Isso significa uma perda colossal não somente de flora, mas também de fauna, já que os animais que têm o bioma como habitat entram em risco de extinção.

Pouco conhecido pelos brasileiros, o Cerrado possui uma posição estratégica. Conecta  três países da América do Sul (Brasil, Bolívia e Paraguai) e funciona como elo entre quatro dos cinco biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal. Tem ainda uma função invisível aos olhos de muitos: é o berço das águas de grande parte do país. Suas árvores agem como uma espécie de floresta invertida. Suas copas são pequenas, mas suas raízes profundas funcionam como esponjas, captando água e distribuindo pela região.

Pesquisadores estimam que existam no Cerrado brasileiro 11 mil espécies vegetais, 837 espécies de aves, 120 de répteis, 150 de anfíbios, 1.200 de peixes, 90 mil insetos e 199 tipos de mamíferos. Estes números representam 5% de todas as espécies no mundo e 30% da biodiversidade do país.

Entre estes animais, estão cinco espécies emblemáticas – ameaçadas de extinção – lobo-guará, onça-pintada (na foto lindíssima que abre este post), tamanduá-bandeira, anta e tatu-canastra.

Para marcar esta data, o WWF Brasil produziu diversos infográficos que mostram a biodiversidade do Cerrado e a ameaça que ele sofre. Você pode conferir todo este material aqui.

Para reverter este cenário de desmatamento da vegetação nativa, é preciso que o bioma seja declarado e preservado como patrimônio nacional e leis de uso sustentável da área sejam implementadas. Diversas comunidades locais – indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco e agricultores familiares – mostram que isso é possível. Ao mesmo tempo que usam a terra para sua subsistência, conservam o meio ambiente.

“Tanta riqueza pode e deve ser usada. Um lugar que tem mais de 11 mil espécies vegetais dentre elas, diversas árvores frutíferas, como o pequi, o babaçu e o baru, entre muitas outras, tem um gigantesco potencial econômico de uso dos seus recursos naturais”, afirma Júlio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil.

Conheça mais sobre os cinco grandes animais do Cerrado

– Onça-pintada (Panthera onca): maior felino das Américas, habita ambientes preservados, próximo a fontes permanentes de água e com grande quantidade de presas. Uma curiosidade: a onça-preta e a pintada são animais da mesma espécie. Nos animais de coloração negra, conhecidos também como melânicos, as pintas são mais difíceis de notar, mas estão presentes em tom ainda mais escuro que o restante da pelagem.

Tatu-canastra (Priodonte Maximus): também conhecido como tatuaçu ou tatu gigante, é considerado o maior e mais raro dos tatus existentes no mundo. Pode chegar a 1,5m de comprimento e pesar até 60 kg. Tem hábitos noturnos e semifossoriais (passam parte do tempo abaixo do solo). O período de gestação é de aproximadamente cinco meses e nasce apenas um filhote.

Anta (Tapirus terrestres): maior mamífero terrestre da América do Sul. Mede um metro de altura e dois metros de comprimento e pesa cerca de 300 kg.  Alimenta-se de folhas, frutos, vegetação aquática, brotos, gravetos, grama e caules que são digeridos graças à presença de microorganismos em seu aparelho digestivo. É uma espécie tipicamente solitária e de hábitos noturnos, mas também pode realizar atividades durante o dia. Tem capacidade de nadar muito bem, inclusive em rios amplos. Seus predadores são grandes felinos como a onça-pintada e a suçuarana, que atacam, principalmente, os filhotes. A gestação da anta dura cerca de 380 dias e gera apenas um filhote por vez.

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla): possui pelagem característica, com uma faixa diagonal preta com bordas brancas, que se estende do peito até a metade do dorso. É um mamífero que mede cerca de 2,20 metros de comprimento, pesa até 45kg. Usa suas garras dianteiras para escavar vários formigueiros e cupinzeiros ao longo do dia para capturar, com sua língua extensível, até 30 mil formigas e cupins. Não possui dentes.

Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus): maior canídeo sul-americano. Pesa de 20 a 30 kg e tem pelagem avermelhada. Alimenta-se principalmente de pequenos roedores, aves terrestres e de frutas como, por exemplo, a fruta do lobo (Solanum lycocarpum). Animal solitário, forma casais durante o período reprodutivo. A gestação do lobo-guará dura cerca de 60 dias e, normalmente, nascem dois filhotes ao final deste período. Estima-se que existam pouco menos de 25 mil lobos-guará no mundo, sendo aproximadamente 20 mil deles no Brasil.

Fonte: WWF Brasil

Foto: Staffan Widstrand/WWF

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.