“A natureza não negocia e a física não faz acordos”, diz Greta Thunberg ao Parlamento Europeu

Greta Thunberg

Quem achou que depois de voltar para casa, na Suécia, a ativista pelo clima Greta Thunberg, de 17 anos, iria descansar, se enganou! Na semana passada, a jovem participou de protestos, junto com estudantes, em Bristol, na Inglaterra, e na quarta-feira (04/03), esteve em Bruxelas, na Bélgica, discursando diante dos integrantes do Parlamento Europeu.

Ontem, a Comissão Europeia divulgou um documento com suas metas para enfrentar a crise climática, a chamada “European Union Climate Law“. No texto, os países do bloco se comprometem a alcançar certos objetivos, como por exemplo, zerar as emissões na atmosfera de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, até 2050.

Em uma carta ao parlamento, Greta e outros 34 jovens ativistas criticaram as metas anunciadas, conforme escreveram abaixo:

Qualquer lei ou política climática que não se baseie na melhor ciência disponível atualmente e não inclua o aspecto global da equidade ou justiça climática – princípios no cerne do Acordo de Paris – fará mais mal do que bem.

Essa lei envia um forte sinal de que ações reais e suficientes estão sendo tomadas quando, na verdade, não são.

Também sugere que vocês, nossos líderes eleitos, compreendam completamente a situação em que estamos e que possamos “consertar a crise climática” no sistema de hoje sem fazer nenhum sacrifício.

O fato é que nem a consciência nem a política necessárias estão à vista. Estamos em uma crise que nunca foi tratada como uma crise

Até vocês levarem isso a sério, permaneceremos nas ruas, continuaremos falando na ciência. Enquanto vocês não levassem isso a sério, pediremos que voltem para casa, estudem os fatos e retornem quando tiverem feito sua lição de casa…”

Mas foi mesmo, ao vivo, no plenário do parlamento, que Greta deu seu recado.

A estudante começou o discurso falando que pelo último um ano e meio, elas e outros ativistas sacrificam a educação deles por causa da inação de seus governos. Lembrou que, em setembro de 2019, mais de 7 milhões de pessoas foram para as ruas do mundo inteiro, exigindo que os líderes globais se unissem em favor da ciência para que garantir um futuro seguro para as próximas gerações.

E ressaltou que em novembro do ano passado, o Parlamento Europeu declarou uma “emergência climática” e afirmou que o bloco iria liderar ações contra essa ameaça existencial ao planeta.

“Quando seus filhos soaram o alarme e disseram que havia cheiro de fogo, vocês conferiram e concordaram que a casa estava realmente pegando fogo. Não era um alarme falso. Mas depois, vocês entraram novamente em casa, terminaram o jantar, assistiram a um filme e foram para a cama sem sequer ligar para os bombeiros”,

Greta criticou os políticos europeus, dizendo que quando sua casa está “queimando”, uma metáfora em relação ao planeta, você não espera mais alguns anos para tomar uma atitude.

E foi além. “Quando vocês apresentam uma lei climática que estabelece zerar as emissões apenas em 2050, vocês indiretamente estão enviando uma mensagem de rendição, desistência. Vocês estão desistindo do Acordo de Paris, de suas promessas e desistindo de fazer tudo o que podem para garantir um futuro seguro para os seus próprios filhos”.

Mais uma vez, a ativista enfatizou que a atual crise climática não é tratada como uma crise e que leis são criadas para se fazer de conta que são seguidas. Que o corte nas emissões precisa ser feito já!

“Esta é a verdade desconfortável da qual vocês não podem escapar, não importa o quanto queiram e o quanto tentem. E quanto mais vocês continuam fugindo dessa verdade, maior será sua traição em relação às gerações futuras”, acusou.

Segundo Greta, a União Europeia tem o dever moral de liderar o combate à emergência climática.

“Não ficaremos satisfeitos com nada menos que um caminho baseado na ciência que nos dê a melhor chance possível de salvaguardar as futuras condições de vida da humanidade e da vida na Terra como a conhecemos. Qualquer outra coisa é rendição… Porque a natureza não irá barganhar e vocês não pode fazer “acordos” com a física”, finalizou.

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Foto: divulgação Parlamento Europeu

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.