A natureza flui… vamos fluir com ela?

Nós somos encantadas com o fato de a natureza gerar um movimento espontâneo de ‘estar junto’, de criação e de coletividade. Além de sermos entusiastas e fazermos de tudo para que isso seja frequente nas vidas das pessoas. E foi isto que a Ana Carol (uma das autoras deste blog) viveu no último feriado e compartilha com você. Ela conta:

“Aproveitei o feriado para ir ao parque com a família. Sempre vamos lá, fazemos picnic, levamos livros…, é quase como se o parque fosse o quintal de nossa casa. Mas o parque estava bem movimentado na tarde de sexta-feira.

Minha prima de 7 anos acabara de ganhar uma corda e já queria fazer algumas construções com galhos usando amarras. Promovemos, então, uma expedição na floresta para coletar galhos bem grandes. Quando juntamos todos os galhos recolhidos, percebemos que seria possível fazer ir além… e construir uma cabana.

Começamos, então, a fazer amarras usando os galhos e barbante (que sempre carrego na mochila). Algumas crianças se aproximaram e começaram a puxar assunto. As convidamos para brincar. Logo, cerca de 12 crianças estavam se organizando na construção de duas cabanas. Um grupo buscava gravetos, outro buscava folhas, e ainda havia os que ajudavam os adultos a fazerem as amarras, no mesmo tempo em que aprendiam a fazer os primeiros nós.

Buscar gravetos não era apenas recolher os gravetos do chão e trazer para o local combinado. Antes, deveria ser feito o controle de qualidade, ou seja, uma seleção da qualidade deles, da altura e do diâmetro, levando em conta que tudo teria que ser bom para a construção.

Para fazer a cobertura, era preciso ter muitas folhas, mas, como carregá-las? Foi, então, que as crianças usaram a criatividade e se organizaram em duplas para conseguir carregar mais folhas. Também usavam suas roupas para isso, enchendo os bolsos.

As crianças que conheciam bem o parque diziam “eu sei onde tem bons gravetos”, “naquela direção tem mais folhas”.

Quando já haviam galhos suficientes, uma equipe começou a entrelaçar os gravetos para fazer a parede da cabana.

E, nessa tarde, espontaneamente surgiu um movimento, que teve a participação de adultos – que deram início à construção – e de crianças – que cuidaram de toda a organização. Todas tiveram autonomia para tomar decisões e era lindo ver o sorriso de cada uma satisfeita por poder contribuir com o que sabia fazer de melhor. Ninguém decidiu nada por ninguém. E encerramos o encontro com a entrada de todos nas cabanas, com o coração pulsando de satisfação.

Depois de muito brincar nas ‘casas’ que acabáramos de construir, as crianças foram embora para suas casas perguntando: “Quando teremos essa brincadeira de novo?”.

Essa experiência nos mostra que a espontaneidade está nas coisas vivas, está na natureza e em todos nós. Basta nos abrirmos para as experiências simples e desenvolvermos o senso de presença. Nossa capacidade de perceber é infinita. E as crianças são nossas mais potentes mestras. Elas é que sabem valorizar o aprendizado, o estar verdadeiramente vivo, com entusiasmo…

Abandonar os velhos hábitos de organizar e mecanizar experiências e permitir que o fluxo vivo, que flui na natureza, possa fluir também em nós, em nossos gestos, pensamentos e emoções. Assim, cada folha, cada paisagem, cada comentário de uma criança poderá trazer algo de muito pra você!”

Foto: Renata Stort

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Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça

Ana Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga, ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto "Ser Criança é Natural" para desenvolver atividades com o público. Neste blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos inesquecíveis.