A morte não pede carona, anda de ônibus

Com este slogan, o Greenpeace lançou mais uma campanha criativa pra protestar contra um assunto seríssimo e chamar a atenção da população, mais uma vez: a poluição provocada pelos ônibus a diesel, que mata cerca de 11 pessoas todos os dias na cidade de São Paulo devido a doenças geradas ou agravadas pela queima desse combustível fóssil.  Este ano, foram 2.871 pessoas. Os mais afetados? Idosos e crianças!

No mês passado, a ONG colocou máscaras antipoluição nas estátuas da cidade contra projeto de lei do vereador Milton Leite, presidente da Câmara – Projeto de Lei da Poluição -, que visa rever o artigo 50 da Lei Municipal de Mudanças Climáticas e prorrogar o prazo, por mais 20 anos, para a transição dos ônibus a diesel para outros movidos a combustíveis limpos. Poucos dias antes, junto com as iniciativas Minha Sampa e Cidade dos Sonhos, lançou petição para pressionar os vereadores, que continua valendo. Tudo para informar a população e convencer os vereadores de que esta proposta não pode ser aprovada, pelo bem da cidade, além de preparar todos para a audiência pública que foi realizada no último sábado, 16/9.

A intenção era discutir o tal projeto com a sociedade, mas ficou claro que tanto Leite quanto o prefeito João Dória vão manter tudo do jeito que está, desconsiderando estudos e evidências das mortes e também dos gastos com saúde gerados para o poder público. A situação é grave também no que tange à redução de emissões de poluentes já que a lei do clima original, de 2009, prevê redução de 100% dos poluentes até 2018, o que não será cumprido. A Câmara vai empurrar o prazo para 2027 e só aceita reduzir gases em até 80%: no caso do CO2, só 40%.

O debate entre Câmara e secretários de Dória focou apenas no custo inicial dos ônibus limpos na comparação com os movidos a diesel, com um detalhe: eles desconsideraram os ônibus elétricos que, num período de dez anos, chegam a ser 15% mais baratos. Além disso, o Banco de Fomento da Chinapaís onde nosso ‘querido’ prefeito foi buscar investimentos para o setor de transportes de São Paulo – anunciou, no final do ano passado a abertura de uma linha de financiamento especial para as cidades que fizerem a transição para ônibus limpos. Pasme!

Por tudo isso, ontem, 17/9, a Câmara Municipal da capital paulista amanheceu com cara de cemitério ou, melhor, de chacina: em sua calçada havia 11 sacos plásticos pretos – daqueles que acomodam defuntos – enfileirados, representando as vítimas de 18/9/2017, com etiqueta indicando a causa da morte: infarto, por exemplo.

Como se isso não bastasse para chamar a atenção, na frente do portão central da Câmara ainda havia uma lápide, que simbolizava a morte da cidade. Com um detalhe: seu carrasco à frente (foto acima). Afinal, não dá pra ignorar que tais mortes também trazem tantas outras perdas, entre elas de conhecimento, de experiências e de amores.

Pra completar a performance, ativistas seguravam banners com mensagem direta e forte para quem pode resolver a questão: “Milton Leite e João Dória, essa conta é de vocês!”.

Como já disse acima, Leite é presidente da Câmara e tenta aprovar projeto de lei que prorroga os ônibus a diesel na cidade – por mais 20 anos – sem um plano claro para zerar as emissões no futuro. Não pode!! E o que o prefeito pode fazer pra resolver a questão? Exigir que as empresas que atendem a prefeitura adotem ônibus menos poluentes na próxima licitação. É inacreditável que isso ainda não tenha sido feito.

A fuligem que resulta da queima do diesel nos ônibus não escolhe ninguém, é péssima para todos. Mas quem sofre mais são os idosos e as crianças – as maiores vítimas -, além dos que têm menos recursos para gastar com remédios.

No mês passado, escrevi, aqui no Conexão Planeta, sobre o relatório do Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS), lançado em abril, que destaca que, em São Paulo, a poluição mata mais que acidentes de trânsito, câncer de mama e Aids! Assustador, não?

Bom… mas até 2050, se nada for feito contra esse projeto de lei – se ele não for revogado, engavetado, esquecido -, cerca de 178 mil pessoas morrerão precocemente. Praticamente uma ‘crônica da morte anunciada’, apesar de existirem soluções. Há dados que apontam que, se ônibus elétricos fossem adotados em toda a frota paulistana, até 2020, cerca de 13 mil vidas vidas seriam salvas. Uma por dia, durante todo esse período. Outras tecnologias limpas e renováveis estão disponíveis no mercado e já são viáveis tanto técnica como financeiramente, como revela o Dossiê Ônibus Limpo do Greenpeace. Sem falar dos gastos com saúde.

Ainda paira alguma dúvida sobre porque é urgente começar a limpar o ar de São Paulo pelos ônibus? Sim, eles representam menos de 4% da frota de veículos que rodam pela cidade todos os dias! No entanto, emitem quase metade (cerca de 47%) da fumaça preta que encobre a cidade. Surreal! Pra refletir e se mexer.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.