A maciez da paina esconde muitas utilidades

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A função original da paina é carregar as sementes para longe da árvore-mãe, ao sabor do vento. Mas o homem descobriu outros usos para as fibras brancas, leves e macias contidas em frutos ovais de 15 a 20 centímetros. Tradicionalmente, elas já serviram para encher muitos travesseiros, almofadas e cobertas acolchoadas. Agora, em tempos de reality shows de natureza, ganharam boa reputação no isolamento térmico, usadas na sola de calçados, dentro da roupa ou, no acampamento, por baixo de colchonetes, como recomenda o especialista em sobrevivênca, José Luciano Gasparello Filho, autor do site Tocandira.

E se o candidato a sobrevivente na natureza não tiver outro meio para obter água livre de partículas em suspensão, a paina pode ajudar na filtragem, conforme ensina Gasparello, com direito a vídeo demonstrativo. A paina é colocada em um funil feito com garrafa PET cortada e deixa a água barrenta bem mais limpa. Claro que microrganismos passam pelo filtro improvisado, portanto é melhor ferver essa água antes de beber. E na hora de acender a fogueira a paina também é útil, pois pega fogo fácil e funciona como acendedor.

A paina também é um excelente biosorvente, muito útil em casos de vazamentos de petróleo, diesel e mesmo biodiesel, em terra ou no mar. Havendo paineiras em tempo de liberação de sementes por perto, a paina pode ser uma alternativa barata e de fácil acesso para biorremediação.

Em uma pesquisa para doutorado em Agronomia na Universidade Estadual Paulista, campus Botucatu (Unesp-Botucatu), a química Adriana Ferla de Oliveira avaliou o desempenho de diversas fibras naturais – aguapé, coco, curauá, paina e taboa – na biorremediação de vazamentos de diesel e biodiesel. Assim como a flor de taboa, a paina apresentou os melhores resultados, semelhantes ou mesmo superiores ao sorvente comercial, à base de turfa. Com a vantagem de a paina ainda ter poder calorífico para produzir energia: depois de remover os poluentes do ambiente contaminado, é só recolher e queimar em uma caldeira ou incinerador adaptado para a produção de eletricidade.

A fibra da paineira é ainda mais eficiente na biorremediação de vazamentos de óleo cru, pois o poluente é mais viscoso do que diesel e tanto adere na superfície como entra nos poros das fibras. Conforme Adriana verificou em micrografias, a paina tem bastante espaço entre os tricomas (pelos), onde o poluente é adsorvido (adere superficialmente), e cada tricoma tem uma estrutura tubular, com espaço livre, onde o poluente é absorvido (incorporado).

Além de servir para consertar os estragos de vazamentos de petróleo, as painas são igualmente importantes para construções naturais. Algumas espécies de beija-flores, por exemplo, procuram suas fibras macias para forrar os ninhos e garantir as próximas gerações de polinizadores. Ou seja, painas servem tanto para a regeneração ambiental como para a renovação da natureza!

No paisagismo urbano, as paineiras estão entre as árvores utilizadas, por oferecer boa sombra nos dias quentes de verão e ficarem mais permeáveis ao sol no inverno. As paineiras também fazem bem aos olhos e ao coração. Não necessariamente por conter compostos medicinais, mas por nos surpreender, em paisagens rurais e urbanas, com um show de flores cor-de-rosa (Ceiba speciosa) ou brancas (C. glaziovii). Para quem olha de perto esses belos exemplares da biodiversidade brasileira, ainda tem o admirável contraste das flores com a rusticidade dos ramos, galhos e troncos cheios de espinhos, prato cheio para fotógrafos amadores ou profissionais e simples admiradores.

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Fotos: Carlos Alberto Coutinho (paina) e 
Liana John (paineira)

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.