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A infinita riqueza do diferente e sua inclusão

Olhe bem para a natureza. Você já reparou que nada é exatamente igual? Preste atenção nas folhas de uma árvore. Você já percebeu que, apesar de serem semelhantes, cada uma tem características que as tornam únicas? A cor, um detalhe no formato, a maneira como se balança ao vento… diversidade é um princípio da natureza!

Você pode coletar 50 gravetos e nunca encontrará um exatamente igual ao outro.

Além disso, o ambiente estável que temos hoje (pelo menos tínhamos antes das interferências drásticas que têm alterado significativamente o clima) na Terra só foi alcançada, ao longo dos últimos 300 milhões de anos, pela ação diversificada dos organismos. Se não fosse a diversidade de espécies – ou biodiversidade -, não teríamos conseguido manter a estabilidade do ambiente no qual evoluímos.

E como nós, seres humanos, somos natureza, é claro que esse princípio se aplica a nós também. E que bom ter toda essa variedade! Você já parou para pensar se fossemos todos iguais, se fizéssemos todos a mesma coisa? Ia ser muito chato viver num mundo assim…

Estar junto com o diferente nos ensina sobre o que somos e o que não somos. Juntos, aprendemos.

O mundo nos atravessa de maneiras diferentes. Cada um de nós tem uma experiência única no planeta. A maneira como você experimenta esse mundo desperta sensações e sentimentos totalmente diferentes de outras pessoas. 

Para ampliar nossa conversa neste post, conversamos com a Fabiana Martins Gutierrez, co-fundadora do Carlotas,  um negócio social que busca desenvolver competências como o respeito, a empatia e a escuta, por meio de atividades lúdicas e um novo olhar para a diversidade.

Desde 2015, já passaram por programas e oficinas do Carlotas 3800 crianças e jovens, 3200 educadores em escolas e outras instituições de ensino, e 6700 adultos em empresas. Conversas significativas, diálogos próximos com os participantes e diversos relatos das experiências revelam que a iniciativa é como um catalizador que promove a postura tolerante e a aceitação ao que é diferente. 

 “Não deveria ser tão difícil aceitarmos que somos únicos. Mas nossa necessidade de pertencimento, enquanto seres sociais, nos leva a querer achar semelhanças em outras pessoas e esquecer a beleza que a diversidade pode trazer. Há alguns anos, li um artigo do Ali Binazir que mostrava matematicamente como somos seres únicos. Ele começava de cara com as perguntas: Qual a chance de você existir? Como você é hoje? Ele começa pela probabilidade do encontro dos pais – o que inclui os avós, bisavós e todos os antepassados -, seguido do namoro e, finalmente, sua concepção. Claro que a última coisa que fiz foi checar as contas e números porque o raciocínio é o que interessa”, explica Fabiana, que completa:

“Ser você é algo tão único e raro que deve ser considerado todos os dias, a cada escolha, do minuto que você acorda até quando vai dormir. Temos a tendência de achar que qualquer coisa que não nos é familiar, dentro dos nossos padrões, é automaticamente “diferente” e, não raro, errado. Quando se fala de diversidade, o que está sendo tratado são características, muitas vezes, apenas físicas: a diversidade vista como a diferença de um padrão pré-estabelecido. No entanto, ela tem que ser vista como multiplicidade, como escolhas e possibilidades onde todos, sem exceção, fazem parte. Trabalhar esses conceitos com crianças e adultos permite que estejamos abertos para o novo e, mais que isso, abertos ao aprendizado, praticando o olhar generoso de enxergar tudo com a curiosidade de quem descobre um tesouro. O tesouro de ser humano e único“.

A educador nos traz contribuições importantes para que identifiquemos a diversidade na sociedade. O mais comum, hoje, é a existência de um grande movimento em busca de um padrão. E isso acontece principalmente com os seres humanos que fogem muito do padrão estabelecido socialmente.

Se a natureza nos inspira o olhar, que ela nos inspire a perceber a existência de cada um como uma aprendizagem de nós mesmos. Mariana Rosa, mãe da Alice (@diario_da_mae_da_alice, no Instagram), contou pra gente como ela percebe as experiências vividas por sua filha.

“Experimentar o mundo na perspectiva de minha filha Alice é surpreendente em muitos aspectos. Porque ela é criança, porque está consolidando suas preferências e porque tem deficiência. Essas três condições, reunidas, me convidam a sintonizar a percepção nos detalhes e nas sutilezas. Ela não anda e não fala, o que significa que suas vivências são construídas de maneira absolutamente diferente da forma como se apresentam para mim. Um piscar de olhos, um som com os lábios, uma mexida na perna, por exemplo, são intenções de conexão à espera de reciprocidade. E há um desejo pulsante que move seu corpo em diversas direções, sem que, necessariamente, ela precise sair do lugar. A seu modo, ela diz preferir banana a mamão, piscina a mar, passarinhos a eletrônicos. Vai, ainda, construindo habilidades inusitadas, para mim, como expressar suas vontades de maneira clara sem usar as palavras, ou dançar sobre uma cadeira de rodas, ou reconhecer as vogais apenas com um movimento de cabeça. Mais do que isso, ela move as coisas de lugar, modifica, transforma apenas sendo quem ela é”.

Na sociedade de hoje, acolher todos e entender a diversidade como princípio da natureza e, assim, como potência para processos de aprendizagem e desenvolvimento, não é fácil. Rosane Castilhos (@rosanecastilhos, também no Instagram), mãe de Raquel e Enzo, conta sobre a escolha da natureza para o desenvolvimento de seu filho, diagnosticado com autismo. Veja o que ela nos contou:

“Nada é tão fácil nesse caminho de ser diferente do padrão, nada é romântico, mas nós escolhemos encarar tudo com muita entrega, luta, verdade, amor e principalmente com um olhar especial para a natureza do nosso filho. A partir daí, ele vai se ampliando, e posso garantir que isso ajudou e tem ajudado nosso filho em muitos aspectos e nos mostrado caminhos desconhecidos e bonitos por onde, antes dele, nunca havíamos transitado. O que o distingue das outras pessoas é sobretudo nossa natureza. Confio muito também no desenvolvimento por si só, sei que contém, em si, um plano intrínseco, algo natural que se desenvolve sem aceleradores ou aditivos.

Um lugar e um contexto carregado de amor e segurança por si só já possibilita tantas descobertas, tantas aquisições. Fazemos nossa parte como pais e educadores, proporcionamos experiências e vivências, mas honramos o processo de fermentação natural de nossos filhos, da infância, da vida que por si só, pela sua natureza, age dentro de cada indivíduo de um jeito único e singular.

Há tantos exemplos de espécies da natureza que se desenvolvem lindamente sem nenhuma interferência invasiva, proibitiva ou aditiva. É nisso que acreditamos: respeitar e honrar a natureza de cada ser, dando a ele segurança, amor, cuidado e possibilidades de crescer forte e saudável, de descobrir novos jeitos de se prolongar, de crescer, de desenvolver, se transformar, se adaptar, mas nunca, em tempo algum, deixar de ser o que é mais natural e de fazer o que lhe faz mais feliz!”.

Nas últimas décadas, a legislação criada para promover a inclusão, garantiu o direito de todos estarem na escola regular. E quando todos estão convivendo, todos ganham. Ana Carol, uma das educadoras que assina este blog, também trabalha com inclusão escolar na rede pública e percebe um movimento das crianças acolherem pelo que somos. Na maioria das vezes as reações de “estranhamento” partem dos adultos. E como as crianças têm ensinado sobre respeito e empatia!

Neste mundo tão diverso é uma grande alegria ver as diferenças ocupando espaços importantes. Ver e viver a escola e a sociedade aceitando e convivendo fora dos padrões é mais um ponto para nossas aprendizagens sobre as muitas possibilidades de experimentar a vida em sua infinita riqueza de diferenças.

Foto: Andreas Haimeri/Unsplash

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