A camuflagem que enganou até o fotógrafo!

a camuflagem que enganou até o fotógrafo

Fotógrafos de natureza têm uma percepção apurada quando estão no meio da mata. E nos orgulhamos disso! Cada som, detalhe, cor, cheiro ou movimento pode ser um sinal para mais uma ótima foto. Com todos os sentidos atentos, andamos pelas florestas procurando os assuntos a serem fotografados. Com o “alvo” da fotografia localizado, a atenção é voltada para a criatividade, a sensibilidade, a empatia e a compreensão do contexto que a cena que desejamos registrar nos apresenta.

Pois é. No dia desta foto, minha percepção falhou miseravelmente. Todavia, uma situação como a que vivi, merece ser contada, mesmo sendo um momento embaraçoso.

A situação era a seguinte: eu estava no meio de um projeto fotográfico na Reserva Biológica de Duas Bocas, localizada em Cariacica, no Espírito Santo. Um local próximo de centros urbanos, mas ainda com uma biodiversidade relativamente preservada.

Estávamos de barco na lagoa, com o colega Rafael Boni, Gestor da Rebio, pilotando o barco, mais um membro de minha equipe e um guarda parque da reserva. Entramos em um dos córregos que abastecem a lagoa, que no momento estava praticamente coberto pela vegetação que fica na superfície da água. Ao longe, vi uma família de jaçanãs (Jacana jacana) – pai e mãe e dois ou três 3 filhotes -, com um dos pais apresentando um comportamento totalmente atípico. Dava saltos e pequenos voos no mesmo lugar. As outras aves apresentavam comportamento normal.

Porém, mesmo assim, decidi fazer a foto do bicho, apesar de muito comum. As jaçanãs, aqui no Espírito Santo, são aves para as quais poucos fotógrafos de natureza e observadores mais experientes sacam suas câmeras fotográficas.

Na hora pensei “Vixi, essa jaçanã deve ter endoidado!”. Mas, com curiosidade, fotografei aqueles movimentos desengonçados, pensando em captar as asas em posições interessantes. Fiz a imagem sem a mínima idéia do que estava fotografando.

Foi com um arrepio na espinha, que vi um movimento na vegetação aquática bem próximo da jaçanã. Era uma cobra tentando caçar um dos filhotes. O coração acelerou no mesmo ritmo em que o réptil afastava-se da família de jaçanãs. Tinha acabado de fotografar um momento épico de coragem materna e nem havia notado.

A pequena jaçanã, normalmente predada por essa espécie de cobra, precisou de muita coragem e atitude para salvar sua prole. Uma das cenas mais emocionantes que já presenciei e fotografei. E na verdade, fotografei sem querer. :)

Fica aqui minha homenagem ao dia das mães do último domingo. É muita admiração!

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Leonardo Merçon

Fotógrafo de natureza e conservação, é fundador do Instituto Últimos Refúgios, ONG sem fins lucrativos que busca sensibilização ambiental através da cultura, em especial, fotografias e vídeos. Leonardo já realizou diversas exposições no Brasil e também na Alemanha, Itália e França. Tem cinco livros publicados, quatro documentários em vídeo, séries para TV/Youtube e matérias veiculadas na BBC, National Geographic Brasil, Fantástico, Google Arts & Culture