A câmera do pântano

aves fotografas no Pantanal

Em 2003, tive o privilégio de trabalhar no Pantanal como produtor e assistente para o fotógrafo Joel Sartore, da National Geographic, em uma grande reportagem sobre a região. Dentre as inúmeras histórias inusitadas que vivenciamos nos 4 meses em campo, uma das mais bacanas foi a “câmera do pântano”.

Durante suas pesquisas preliminares, Sartore imaginava fotos que gostaria de realizar e os técnicos da National Geographic tinham que se virar para desenvolver os acessórios necessários (cabe lembrar que na época as tecnologias como disparadores sem fio ou fotografia digital ainda estavam em seus estágios iniciais).

Uma de suas ideias era instalar a câmera em um brejo, rente à lâmina d’água e com uma objetiva grande angular, na tentativa de registrar de perto bandos de aves aquáticas. Decidimos batizar a traquitana de swamp cam, ou câmera do pântano, em português, um nome “chique para impressionar as pessoas”, segundo Sartore (o desfecho desta parte da história fica como tema para as próximas postagens…).

Pula para o ano seguinte. Outubro, mais precisamente. Na época, eu estava morando e trabalhando em uma pousada associada a um centro de pesquisas no Pantanal Sul. Inspirado pelos ensinamentos de Sartore, e de posse da minha primeira câmera digital, decidi produzir minha própria versão da câmera do pântano. Durante dias fiquei observando as aves que, nesse período do ano, buscam as lagoas do Pantanal onde grandes quantidades de animais aquáticos ficam presos enquanto estes corpos d’água estão secando. Ao encontrarem uma lagoa com comida abundante, bandos de garças, colhereiros e tuiuiús realizam seu banquete – que dura poucos dias, pois o alimento se esgota rapidamente e as aves se mudam.

Quando finalmente encontrei um lugar ideal, lá fui eu – de madrugada, ainda no escuro, caminhando com água até a cintura no brejo repleto de jacarés – instalar minha câmera. Com os poucos recursos disponíveis, protegi o equipamento com um saquinho plástico e cobri tudo com um tecido camuflado (obviamente morrendo de medo que um jacaré curioso puxasse a traquitana pra dentro d’água…).

Esperei a primeira luz da manhã para poder fazer o enquadramento da foto, acionei o sistema de disparo, me afastei e fiquei de longe observando a cena pelo binóculo. Passava das 4h30 e cerca de 20 minutos depois as primeiras aves começaram a chegar. O bando foi embora por volta de 6h00 e a foto escolhida dentre as dezenas que fiz foi tirada às 5h10. Nela pode-se observar as aves inseridas em seu ambiente natural, um dos efeitos propiciados pelo uso de objetiva grande angular.

Foto: Daniel De Granville

3 comentários em “A câmera do pântano

  • 13 de novembro de 2015 em 8:52 PM
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    Ótima matéria, demasiadamente interessante.
    Abraços,
    Daniel Aranda

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    • 16 de novembro de 2015 em 11:01 AM
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      Olá Daniel, obrigado pelo comentário! Continue nos visitando por aqui, sempre tem umas histórias interessantes :-)
      Abraços, Daniel De Granville

      Resposta
  • 16 de novembro de 2015 em 11:01 AM
    Permalink

    Olá Daniel, obrigado pelo comentário! Continue nos visitando por aqui, sempre tem umas histórias interessantes :-)
    Abraços, Daniel De Granville

    Resposta

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora