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A brasileira Raquel Rosenberg fala pelos jovens na COP21: critica o acordo, mas diz que um novo mundo é possível

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Após duas semanas de negociações em Paris, os 195 países que compõem a ONU participaram da COP21 Conferência sobre Mudanças Climáticas e aprovaram o acordo tão esperado, que recebeu o nome chique de Acordo de Paris. Com o primeiro documento sobre clima, de caráter universal, anunciado no domingo, 13/12, todos – países desenvolvidos e em desenvolvimento – se comprometem a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa a partir de 2020. O objetivo é limitar o aquecimento do planeta abaixo de 2 graus, preferencialmente em até 1,5º C.

Na cerimônia final da conferência, como é de praxe, o presidente da COP21, Laurent Fabius, convidou organizações da sociedade civil para fazer seus pronunciamentos oficiais. Nessa parte da conferência, às vezes é impossível conter a emoção, mas alguns momentos são especialmente marcantes. Um deles aconteceu quando falou a representante do Youngo – Youth Climate Movement, que reúne organizações de jovens interessados nos debates sobre mudanças climáticas, no mundo todo.

Gostei do que ouvi. Mas não me encantei apenas porque se tratava da visão de jovens engajados ou porque o discurso era muito bom – de falas certeiras e cheias de propósito. Mas também porque a organização escolheu uma brasileira para representá-los nesse momento tão especial: Raquel Rosenberg, da ONG Engajamundo. Exageros à parte, ela era a pessoa perfeita para essa missão.

Ao longo do discurso – muito bem conduzido em três minutos (o vídeo está no final do post) – tinha certeza de que, em algum momento, ela levantaria e agitaria o ambiente, sem levar em conta a formalidade que cerca uma cerimônia como essa. E ela o fez, no final do discurso. Não podia ser diferente. Raquel é entusiasmada, animada, confiante, alegre. Seu jeito contagia todos à volta. É só assistir o vídeo para ver o que aconteceu.

Hoje, em seu Facebook, ela comentou: “Já era madrugada de sábado pra domingo (a conferência deveria ter acabado na sexta) e o cansaço e a exaustão na luta pela justiça climática não podiam ser maiores. E o acordo final ‪#‎parisagreement foi assinado! A meta de limitar o aquecimento da temperatura do planeta em 1,5º C está registrada e a era dos combustíveis fósseis tem data marcada para terminar! Sim, estamos vivendo um momento histórico para a humanidade”.

E continuou: “A sensação que senti, eu ainda não consigo colocar em palavras. Mas, o privilégio de poder representar tantas vozes que marcham pelas ruas e atuam em suas comunidades todos os dias pra garantir que ações reais aconteçam, não tenho como explicar mesmo! O poder é das pessoas, é de cada um de nós! O acordo é o primeiro passo pra gente entender que precisamos cobrar pela sua implementação, mas que também precisamos mudar nossas atitudes e fazer parte dessa mudança todos os dias. ’We are unstoppable! Another world is possible!’. Levantei e cantei meeeeixmo! Quebrando todos os protocolos da ONU, simplesmente porque outro mundo é, sim, possível”. 

Veja como foi o discurso, na íntegra, a seguir.

Meu nome é Raquel, eu sou do Brasil. Estou aqui representando o Engajamundo e a coalizão de ONGs da juventude, mas ecoando a voz de milhões mais.

Hoje, estamos dando um primeiro passo na história. Vocês nos mostraram que, juntos, podemos superar diferenças e nos deram esperança na humanidade e na solidariedade.

Este é o primeiro passo em direção ao fim da era dos combustíveis fósseis e do desmatamento.

Este é o primeiro passo em direção ao um novo tipo de sociedade.

Em 1992, você foram juntos ao meu país em um espírito de cooperação. Vocês aceitaram que vocês dos países desenvolvidos tinham mais responsabilidade que outros em causar as mudanças climáticas e que vocês também deveriam compensar os mais atingidos.

Com o passar dos anos, este processo tornou-se mais secreto. A sociedade civil foi mantida fora das salas de negociação e começamos a nos perguntar: o que eles têm para esconder? Agora nós sabemos.

Países ricos, vocês poderiam ter feito muito mais. Vocês não ofereceram nenhum financiamento novo ou adicional. Nós não vimos uma meta para chegar realmente a zero. Suas metas nacionais de redução de emissões (INDCs) ainda nos levam a um mundo três graus mais quente e vocês se recusaram a empreender uma revisão que permitisse desviar para baixo a trajetória da curva de aquecimento antes de 2020.

Você se eximiram da responsabilidade pelos danos que suas mudanças climáticas já estão causando.

As juventudes das gerações anteriores à minha foram as primeiras a saber da existência das mudanças climáticas e entenderam os desafios que nós, como humanidade, enfrentamos.

Na minha geração, a mudança do clima foi da ciência à realidade, impactando diretamente a vida das pessoas, especialmente os mais pobres e marginalizados.

Hoje, o mundo está finalmente caminhando para uma solução. Mas o que atingimos aqui, hoje, ainda está bem longe do suficiente. Nós precisamos ver ações reais!

O trabalho está apenas começando.

Nos vemos de novo em nossos países. Todos vocês também. Vamos trabalhar duro pela justiça climática como jamais fizemos e vamos cobrar vocês dentro de suas fronteiras.

Vocês fizeram um pedaço de papel, mas as pessoas nas comunidades são as que estão fazendo a verdadeira mudança.

A minha meta e a de milhões de outros jovens é garantir que as próximas gerações só conheçam as mudanças climáticas em livros de história.

Nós podemos fazer isso. Nós vamos ascender mais rápido do que os oceanos porque nós somos imparáveis, outro mundo é impossível”.

Garotas nas conferências do clima

Enquanto assistia ao discurso da Raquel na COP21, lembrei da canadense Severn Suzuki, que entrou para a história das conferências do clima com sua participação, aos 12 anos, na Eco92, no Rio de Janeiro (assista ao vídeo no final deste post). Ela também representava uma organização da sociedade civil, mas de crianças: a ECO ou Environmental Children’s Organization.

Em 2012, vinte anos depois portanto, Severn, ativista e escritora, voltou ao Rio de Janeiro para participar da Rio+20.

Naquela época, Raquel já participava de grupos de jovens na luta contra as mudanças climáticas. E foi durante a Rio+20 que se deu conta de que os espaços dos fóruns internacionais eram ocupados principalmente por jovens dos países desenvolvidos e que seus anseios nada tinham a ver com os desejos dos brasileiros, nem dos representantes de países mais pobres. Estava lançado o embrião do Engajamundo, que foi criado (com direito a CNPJ e tudo!) em 2013.

Nesse ano, uma amiga querida, a jornalista Déborah de Paula Souza, nos colocou em contato por e-mail. Trocamos mensagens, noticiei as primeiras ações do grupo no site de sustentabilidade que eu dirigia e, somente neste ano, 2015, nos conhecemos: foi em um encontro sobre clima promovido pelo Instituto Arapyaú para jornalistas. Este ano, ela já havia falado muito bem em uma reunião preparatória para a COP21, em Boon, Alemanha. Mas foi no TEDxSãoPaulo (no aquecimento e, depois, no evento, em outubro) que eu realmente conheci a Raquel, do Engaja. Ela falou depois de mim, que sorte!! O palco do MASP foi pequeno para ela naqueles 18 minutos que encerraram o encontro lindamente. Preciso dizer que Raquel foi aplaudida de pé?

Por tudo isso, esperava uma performance especial, nesta COP21, também. Bem do seu jeitinho e ao estilo irreverente do Engaja. Que bom que ela é abusada e animou os jovens presentes a acompanhá-la. Eu fiquei orgulhosa e já decorei o refrão. Veja, abaixo, como foi.

Em seguida, conheça a bela e triste história que contou em Bonn. Por fim, relembre (ou conheça) o discurso de Severn Suzuki, em 92.

É dessa energia – não só jovem, mas feminina – que o novo mundo precisa!

Foto: Reprodução

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