15 mil cientistas assinam carta que alerta sobre a situação do planeta

15 mil cientistas assinam carta que alerta sobre a situação do planeta

Há 25 anos, em 1992, exatamente quando foi realizada, no Rio de Janeiro, o que ficou conhecida como a mais importante Conferência sobre Meio Ambiente da história, a Union of Concerned Scientists e mais de 1.700 cientistas independentes, entre eles muitos laureados com o Prêmio Nobel nas Ciências, publicaram um documento em que alertavam sobre o estado do planeta.

A carta, chamada de “Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade”, apelava ao homem para que reduzisse a destruição ambiental e alertava ser “necessária uma grande mudança em nossa gestão da Terra e da vida para se evitar uma vasta miséria humana“.

Naquele manifesto, os cientistas destacavam que “o homem estava em rota de colisão com o mundo natural”. Entre as preocupações da época apareciam a destruição da camada de ozônio, a disponibilidade de água doce, os colapsos da pesca marinha, as zonas mortas no oceano, as perdas de floresta, a destruição da biodiversidade, as mudanças climáticas e o crescimento contínuo da população global.

Infelizmente, da lista acima, a única coisa que o ser humano conseguiu estabilizar foi a camada de ozônio estratosférico. Fora isso, os demais problemas só aumentaram e outros foram adicionados às já existentes preocupações.

Pois no último dia 13 de novembro, novamente, cientistas do mundo todo se juntaram para fazer um novo aviso. O estudo, divulgado na publicação BioScience, afirma que “a humanidade fracassou em fazer progressos suficientes na resolução geral desses desafios ambientais anunciados, sendo que a maioria deles está piorando de forma alarmante”.

O documento tem mais de 15 mil signatários, de 184 países, entre os quais, muitos brasileiros. Intitulada “Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade: um Segundo Aviso, a nova carta tem entre os autores principais o biólogo e ecologista Mauro Galetti, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista.

Alguns dos fatores que mais afligem os cientistas da atualidade são a trajetória das mudanças climáticas – potencialmente catastrófica -, provocada pelo aumento dos gases de efeito estufa emitidos pela queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a expansão sem controle da indústria agropecuária, particularmente a de gado para a produção de carne.

Os pesquisadores afirmam ainda que o homem é responsável por um novo evento de extinção em massa, o sexto em cerca de 540 milhões de anos. Milhares de espécies de plantas e animais estão sendo aniquilidas da Terra ou “condenadas à extinção até o final deste século”.

A carta apela aos líderes mundiais. Conclama a mídia e a sociedade civil a pressionar governos para que tomem medidas imediatas. O exemplo do que foi feito para eliminar o uso de substâncias que destruíam a camada de ozônio é prova de que podemos enfrentar os atuais problemas e ser bem-sucedidos.

Ao final do documento, os mais de 15 mil cientistas internacionais fazem uma lista de recomendações para que a humanidade faça uma transição em direção à sustentabilidade:

– priorizar a criação de reservas conectadas, bem financiadas e bem gerenciadas de modo a preservar uma proporção significativa dos habitats terrestres, marinhos, de água doce e aéreos do mundo;

– cessar a destruição das florestas, prados e outros habitats nativos, de modo a manter os serviços ecossistêmicos da natureza;

– restaurar comunidades nativas de plantas em larga escala, particularmente paisagens florestais;

– renaturalizar regiões com espécies nativas, especialmente predadores do ápice da pirâmide alimentar, para restaurar processos e dinâmicas ecológicas;

– desenvolver e adotar instrumentos políticos adequados para reparar a defaunação, a crise de caça ilegal e a exploração e o tráfico de espécies ameaçadas;

– reduzir o desperdício de alimentos através da educação e de uma melhor infra-estrutura;

– promover transições na dieta na direção, sobretudo, de uma alimentação à base de plantas;

– reduzir ainda mais as taxas de fecundidade, garantindo que as mulheres e os homens tenham acesso à educação e a serviços de planejamento familiar voluntário, especialmente onde tais serviços ainda não estão disponíveis.

– aumentar a educação natural e ao ar livre para crianças, bem como o engajamento geral da sociedade na apreciação da natureza;

– reorientar investimentos e compras no sentido de incentivar mudanças ambientais positivas;

– detectar e promover novas tecnologias ecológicas, com adoção massiva de fontes de energia renováveis, eliminando os subsídios à produção de energia através de combustíveis fósseis;

– revisar nossa economia para reduzir a desigualdade econômica e garantir que os preços, a tributação e os sistemas de incentivo levem em conta os custos reais impostos ao nosso meio ambiente por nossos padrões de consumo e

– estimar um tamanho de população humana cientificamente defensável e sustentável a longo prazo, reunindo nações e líderes para apoiar esse objetivo vital.

Foto: domínio público/pixabay

Um comentário em “15 mil cientistas assinam carta que alerta sobre a situação do planeta

  • 29 de junho de 2018 em 7:53 PM
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    É, realmente não somos os humanos que esperavam de nós, nem ao menos racionais quanto mais superiores. Somos macaquinhos sem noção na loja de louças, quebrando tudo, alheios aos avisos de “cuidado, frágil” porque analfabetos de deveres e responsabilidades. O mundo fugiu do controle apesar de meia dúzia de pessoas lúcidas nos terem avisado do abismo próximo. Inconsequentes, fechamos os olhos, tapamos os ouvidos e a boca porque não sabemos responder onde falhamos e não nos interessa reconstruir, despoluir ou descontaminar a Terra porque isso vai dar um trabalhão danado e não interessa nem mesmo varrer a própria calçada, regar nossa pobre árvore esquecida nem pensar com a própria cabeça que o final dos tempos já chegou e quem está terminando com eles, somos nós, os terráqueos imaturos que um dia ganharam uma Terra inteira de presente mas acabaram com ela achando que vão ganhar outra para, quem sabe, quebrar tudo de novo, se sobrar alguém com um martelo na mão.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.