1,4 milhão de estudantes “mataram aula” pelo clima, entre eles, brasileiros de mais de 20 cidades

A garota Greta Thunberg convocou e 1,4 milhão de jovens pelo mundo atenderam seu chamado, se tornando grevistas pelo clima – Fridays for Future -, em 120 países, tem cerca de 2.500 cidades. Certamente, foi o maior movimento pelo clima que já aconteceu até agora. Nem as Marchas pelo Clima registraram tanta gente. Segundo a ONG 350.org, em 2015, reuniram 750 mil pessoas, em 2016, cerca de 600 mil.

Antes do dia 15 de março, foram confirmadas as participações de 18 cidades brasileiras. Ainda não há números precisos e o mais certo é que não os tenhamos, mesmo, porque a mobilização ainda está um pouco dispersa. Ouvi dizer que foram 20, mas também 24. Não importa!!! O que importa é que os estudantes brasileiros – que até o dia 10/3 quase não tinham se pronunciado a respeito – aderiram, se organizaram e “mataram a aula”. E, em alguns lugares, ainda tiveram o apoio presencial de pais e professores.

Esses jovens estão movidos pelo amor à vida, mas também estão com raiva e protestam contra a inação dos adultos, por estes terem avançado tão pouco depois de décadas (desde os anos 70) debatendo o tema. O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou em dessa raiva dos jovens em artigo para o jornal britânico The Guardian: “Minha geração não conseguiu responder adequadamente ao desafio dramático das mudanças climáticas. Isso é profundamente sentido pelos jovens. Não admira que estejam com raiva”. Por causa dessa mobilização mundial incrível, ele convocou líderes internacionais para um encontro emergencial sobre o clima, na sede da ONU, em setembro.

Sim, esse movimento não vai parar mais. Nem todos os jovens deixarão de ir à escola às sextas-feiras para protestar, debater e agir. Mas, uma vez por mês, pelo menos, ouviremos falar deles, certamente. Agora, não tem mais volta, só ida.

Moro em São Paulo e fui à Avenida Paulista, mais precisamente ao vão do Masp para acompanhar a Fridays For Future Brasil, versão brasileira da greve lançada por Greta.

“Somos 40! Você acha pouco? A Greta Thunberg começou sua greve pelo clima sozinha. Ela e um cartaz!”

Este foi um dos diálogos saborosos que ouvi no dia 15 de março, no vão do Masp – Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista. Dois jovens conversavam sobre os estudantes que haviam aderido ao convite do movimento Fridays For Future Brasil, versão brasileira da greve estudantil iniciada, em agosto do ano passado, pela sueca de 16 anos, Greta Thunberg, para cobrar ações de impacto de líderes políticos e empresários contra as mudanças climáticas.

Maria Luiza Schneider (foto abaixo), estudante do Liceu Pasteur, é a autora da frase acima. Metade dos estudantes presentes à manifestação era dessa escola, a outra era do Colégio Santa Cruz. Maria Luiza contou que estavam ali por causa de sua professora de História e Geografia, que comentou sobre a greve e também usou uma metáfora interessante e fácil de ser compreendida para falar das mudanças climáticas.

“Se sua casa pega fogo, o que você faz? Senta e toma chá? Ou vai buscar ajuda? Vai buscar água pra apagar o fogo? Nossa casa está pegando fogo!”. E acrescentou: “Alguns aqui desanimaram um pouco quando viram que apenas 40 alunos, menos que isso, toparam vir aqui. Mas já é começo! A Greta Thunberg começou sua greve pelo clima sozinha e olha só o que está acontecendo no mundo hoje!”.

Sim, eram poucos, mas se organizaram, fizeram barulho. E é assim que começa uma revolução.

Empunhando cartazes e gritando frases de efeito – até com rimas -, mostravam ao público que passava sua indignação com a inação dos adultos, com o pouco caso com que o o tema tem sido tratado há décadas, para chegarmos agora ao ponto de ter que evitar que a Terra esquente demais, a ponto de impedir a nossa sobrevivência.

Eles foram objetivos, diretos, mas também usaram o humor pra se comunicar, cutucando o governo Bolsonaro e chamando a atenção dos adultos para o que mais lhe interessa, como revela o cartaz da foto em destaque neste post.

Impossível não ter o olhar atraído pela palavra SEXO, em letras grandes, contidas nele.. Os jovens, ali, sabiam disso. A frase que vinha a seguir – “agora que eu tenho sua atenção, vamos falar de aquecimento global?” – dava o recado. Lembrei logo de dois chefes que tive na Editora Abril – Caco de Paula e Matthew Shirts (que esteve no Masp com o filho) -, no projeto Planeta Sustentável (onde dirigi o site por 8 anos e inspirou a criação deste Conexão Planeta) . Eles diziam que, para falar de assuntos pesados como mudanças climáticas, tínhamos que usar uma linguagem sexy e pop. Taí! Essa garotada sacou rápido.

Assim… “Não somos o futuro, somos o agora”, “Ricardo Salles, mudanças climáticas não são fake news”, “Mudanças Climáticas não são fake news, taokey?”, “Ação Climática acima de tudo, Planeta Terra acima de todos”, “Espalhe amor, não CO2”, “Lute agora para termos amanhã”, “Sem floresta, sem vida”, “Se eu, com 12 anos entendo o problema, por que vocês não?” foram algumas das frases exibidas em cartazes na Avenida Paulista, ao mesmo tempo em que gritavam outras, como “O tempo não volta, nossa chance é agora!”.

Por fim, identifiquei algumas características desse pequeno e importante movimento sobre os quais discorro aqui e que podem ter sido identificadas nas demais manifestações pelo Brasil.

Os jovens estavam muito bem informados e indignados com a realidade da qual tomaram conhecimento há pouco. Estão cheios de energia para se mobilizar e espalhar o movimento: durante a mobilização, já estavam combinando a próxima data, em um mês. Também um pouco assustados com a responsabilidade a que se propõem. As meninas lideraram a manifestação e, depois, numa roda de conversa, disseram o que pensam e como todos devem prosseguir.

Havia apenas uma garota mestiça (na foto abaixo, de autoria de Matthew Shirts), que participava pela ONG Engajamundo. Os demais eram estudantes brancos, de classe média ou média alta. A periferia não estava presente e é nas regiões mais pobres – pelo abandono das autoridades e a falta de estrutura adequada – que os impactos das mudanças climáticas se manifestam primeiro e mais rapidamente. É preciso integrar jovens de todas as raças, etnias e classes a essa luta.

Ah, esqueci de contar que o ET de Varginha também “deu o ar da graça”, na companhia do Diego Gazola (de colete fluorescente), ativista da iniciativa Muda de Ideia.

O papel dos professores nas escolas é muito importante nessa conscientização, mas seria legal que também estivessem presentes às greves, apoiando-os em público. Isso aconteceu em algumas cidades, como no Rio de Janeiro (o site O Eco contou sobre o movimento na frente da Assembleia Legislativa). Mas, para que esse movimento cresça ainda mais, o envolvimento das escolas – de diretores e coordenadores – é imprescindível.

E os papais e as mamães? Na greve da Avenida Paulista havia poucos, que os observavam de longe. Só Matthew Shirts, com quem trabalhei e que acompanhava o filho Samuel em sua primeira manifestação, topou posar com ele e a garotada para a foto que usei mais acima (é o único adulto na imagem).

Uma mãe jovem, Luiza, que não era estudante, esteve presente à manifestação com sua filha Sofia, ainda de colo. Disse que estava ali porque achava importante ver esse movimento acontecer e porque, afinal, sua pequena faz parte dessa geração também. “Estamos aqui para apoia-los”.

Nesse dia, também encontrei jovens integrantes de ONGs pequenas e internacionais como a Extinction Rebbelion. Apoiavam os estudantes – como Beni Etz (foto abaixo), que está no Brasil há apenas seis meses -, sem qualquer intenção de manipulá-los. Bacana, também. O apoio das ONGs – das maiores inclusive – pode ser muito bem vinda, nesses termos. Para compartilhar experiências e ajuda-los a alavancar o movimento que acabam de abraçar.

A jovem Luiza Geiling, do programa Criativos na Escola, do Instituto Alana, escreveu sobre a mobilização no Brasil – publicamos seu texto aqui no Conexão Planeta um dia antes da greve – e da certeza de que os jovens conseguirão fazer a mudança necessária. “É justamente essa força e essa coragem que a juventude faz os mais velhos experimentarem que me move. Que orgulho poder dizer que eu sou jovem e faço parte disso. A mudança vai partir da gente, vocês vão ver!”. Torcendo muito, aqui.

A princípio, a próxima greve Fridays For Future Brasil ficou marcada para 15 de abril. Assim que estiver confirmada, divulgaremos aqui, no site. Acompanhe o Instagram da Fridays For Future Brasil. Nele há imagens de boa parte das mobilizações realizadas pelo país e serão divulgados os próximos passos.

Agora, assista ao vídeo que a jornalista Maria Zulmira de Souza (Planetária), colaboradora do Conexão Planeta, produziu no dia da manifestação pelo clima em São Paulo. Um lindo registro dos primeiros passos em direção a um futuro melhor. Amém!

Fotos: Mônica Nunes e Matthew Shirts

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.